O café foi um dos primeiros produtos de exportação do Brasil, desde a época do Brasil Colônia. E até os dias atuais, apesar das dificuldades de 2023, os números do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que o setor segue forte no mercado internacional.
O Brasil exportou 39,2 milhões de sacas de café em 2023, com uma receita aproximada de R$ 40,1 bilhões, ou US$ 8 bilhões, ao longo dos doze meses do ano, segundo o Cecafé. Na comparação com 2022, houve uma queda de 0,4% no volume vendido e de 13% na receita.
O faturamento caiu porque o preço médio da saca de 60 kg, que era de US$ 234 em 2022, baixou para US$ 204 em 2023.
A ligeira queda no volume de vendas, segundo o CEO do Cecafé, Marcos Matos, é explicada principalmente por um primeiro semestre mais desafiador. De janeiro até junho, o Brasil exportou pouco mais de 16 milhões de sacas, 40% do total do ano.
“No primeiro semestre tivemos uma falta de disponibilidade do produto, na entressafra após duas safras baixas (2021 e 2022). Em 2023, as vendas já mostraram um volume maior a partir de setembro, e no último trimestre, passamos das 4 milhões de sacas por mês”, comentou Matos.
Mesmo com três anos mais difíceis de 2021 até 2023, a expectativa para a safra 2023/2024, que engloba o segundo semestre de 2023 e o primeiro de 2024, é muito positiva.
No segundo semestre de 2023, as exportações brasileiras de café totalizam 22,9 milhões de sacas, um crescimento de 18,5% ante o registrado entre julho e dezembro de 2022. Pelo preço da saca menor, a receita cambial registra recuo de 2,2% no mesmo intervalo, chegando a US$ 4,488 bilhões.
De julho a dezembro de 2020, onde as exportações atingiram máximas históricas, as exportações bateram 24 milhões de sacas, próximo ao patamar visto nos últimos seis meses.
“Entendemos que existe uma questão do preço do café, que tem tido uma volatilidade enorme, que traz risco ao mercado, mas temos expectativa de ter volumes alinhados ao que tivemos nos últimos seis meses”, pontuou Márcio Ferreira, presidente do conselho deliberativo do Cecafé.
O Cecafé não tem uma projeção oficial para a safra 2023/2024, mas se o segundo semestre da temporada for igual ao primeiro, o país pode exportar cerca de 44 milhões de sacas. Em termos de produção, a entidade cita a projeção do IBGE, de 58,9 milhões de sacas para 2024.
O avanço da China (e de outros países)
O grande destaque do ano de 2023, de acordo com o Cecafé, foi a entrada forte da China nas compras do grão brasileiro.
O gigante asiático, que não figurava entre os dez maiores compradores do grão no começo de 2023, terminou o ano em sexto lugar do ranking dos principais parceiros comerciais.
Ao todo, foram 1,4 milhão de sacas importadas, um crescimento de 278,6% frente aos 12 meses de 2022. Em 2021, os chineses haviam importado 390,8 mil sacas e ocupavam a 20ª posição na tabela. Antes da pandemia, o país asiático comprava cerca de 100 mil sacas por ano.
A Ásia como um todo mostrou crescimento de 46% nas importações do café nacional em 2023 frente 2022. “Esse crescimento é importante, e aumenta o poder de barganha do Brasil. Quanto mais consumidores exigentes ganhamos, temos mais poder para negociar com qualquer bloco econômico”, afirmou Marcos Matos.
Para 2024, o Cecafé diz estar com um “projeto grande” para aumentar ainda mais o consumo chinês. Esse projeto, segundo Marcos Matos, que juntou o Cecafé, a Luckin Coffee e a embaixada brasileira em Pequim, envolve uma comunicação mais humanizada da produção de café nacional a serem disponibilizados em regiões diversas da China.
O plano envolve ter linhas de café brasileiro sempre disponíveis em cerca de 40 mil lojas na China nos próximos cinco anos.
“É uma oportunidade para o Brasil participar de um mercado pujante”, disse o executivo.
Eduardo Santos, diretor técnico do Cecafé, se surpreendeu com o salto dos chineses neste ano, e cita que para fazer os chineses ganharem ainda mais espaço nas compras de café brasileiro, a mensagem da sustentabilidade também entra na jogada.
“Temos um mercado que queremos entrar, e desde já, estamos trabalhando a mensagem positiva do café brasileiro. Vamos precisar plantar mais café, pois essa turma está muito interessada”, comentou.
“A China já exige rastreabilidade total para importação de carne brasileira, então temos que estar prontos para entregar a mesma coisa para todos os países. Além de produtos de qualidade, precisamos mostrar os preceitos da sustentabilidade”, acrescenta Márcio Ferreira.
Outros países que tiveram um avanço nos embarques em 2023 são o México, com 500% de aumento, o Vietnã, com 487% e a Indonésia, com 134%. Nenhum deles figura no top 10 de maiores volumes comprados. O México, por exemplo, importou cerca de 600 mil sacas em 2023.
“Esses dois países asiáticos ampliaram as compras dos cafés brasileiros devido a quebras de safra que sofreram e à necessidade do conilon e do robusta nacionais para suprirem essa baixa. Já os mexicanos importam nossos cafés verdes para processamento industrial voltado ao consumo interno e a importantes exportações, principalmente de café solúvel”, explicou Ferreira.
O país que mais comprou o café nacional foi os Estados Unidos, com 6 milhões de sacas, um recuo de 24% frente a 2022.
Fechando o top 5, aparece a Alemanha, com 5 milhão de sacas, Itália, com 3,1 milhões de sacas, Japão, com 2,3 milhões e Bélgica, com 2,2 milhões de sacas.
Cafezinho sustentável
O tema da sustentabilidade deve seguir ganhando importância no Cecafé em 2024, não só para a China.
Marcos Matos destacou que os compradores de fora têm considerado na hora da compra aspectos de rastreabilidade. “O Brasil é um país organizado por conta do CAR, e isso é sabido lá fora. Esses temas da sustentabilidade serão muito fortes ao longo do primeiro semestre de 2024.
Para tal, o Cecafé deve rodar esse ano alguns projetos piloto na União Europeia para mostrar o avanço da rastreabilidade na produção do café nacional e a organização dos produtores.
“Os importadores lá fora sabem do nível do comprometimento do café brasileiro com a sustentabilidade e a capacidade de entregar o que pudermos. Isso pode trazer junto uma remuneração até melhor para o produtor. Agregando confiança nesse sentido, agregamos valor”, afirmou Márcio Ferreira.