A alegria brasileira durou mais do que esperavam os analistas. Desde que Donald Trump começou a aplicar tarifas sobre produtos chineses, o país asiático interrompeu as compras de soja americana, o que acabou beneficiando o Brasil, o maior fornecedor global a oleaginosa.
Nesta terça-feira, 28 de outubro, porém, o “jejum” de soja americana deu os primeiros sinais de que está sendo interrompido.
Traders e brokers ouvidos pelo AgFeed confirmam que foram fechados dois negócios de exportação de soja americana para a China. Seriam pelo menos dois navios de 66 mil toneladas cada um teriam sido comprados pela trading chinesa Cofco, para entrega entre dezembro e janeiro.
Desde a última sexta-feira, com declarações de políticos americanos de que um acordo envolvendo a soja já estaria quase pronto, os preços da commodity começaram a subir na Bolsa de Chicago, que é referência para os negócios, globalmente.
O contrato para janeiro 2026, por exemplo, que estava US$ 10,50 por bushell na semana passada, hoje opera acima de US$ 11.
O efeito disso para o Brasil é que os prêmios da soja (diferencial praticado no porto em relação à cotação de Chicago para precificar o produto nacional) passaram a cair.
Com a volta do interesse chinês pelo grão americano, a tendência é um prêmio mais baixo no Brasil, compensando a alta de Chicago e tentando deixar a soja brasileira ainda atrativa para o maior comprador da oleaginosa no mundo, que é a China.
De sexta-feira até a tarde de hoje, segundo uma das fontes ouvidas pela reportagem, o prêmio da soja brasileira já caiu 30 centavos de dólar por bushell.
Neste cenário, os traders admitem que a partir de agora as exportações brasileiras para a China tendem a ficar mais lentas, mas sem preocupação para o curto prazo, porque os volumes são baixos e, nesta época, seria normal os EUA estarem comprando fortemente o produto americano, já que é o pico da safra no Hemisfério Norte.
O fato é que o Brasil já tirou proveito – e muito – da guerra comercial entre China e EUA.
Dados divulgados pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) nesta terça-feira indicam que o Brasil deve confirmar até o fim outubro um novo recorde nas exportações de soja, somando 102 milhões de toneladas, mesmo faltando ainda dois meses para encerrar o ano.
Em 2024 o País exportou 97,3 milhões de toneladas, segundo a Anec. E o maior volume já registrado até hoje foi em 2023, quando o embarque alcançou 101,3 milhões de toneladas.
A última previsão da Abiove, que também representa as indústrias exportadoras, é de que o Brasil feche o ano com o volume recorde 109,5 milhões de toneladas embarcadas.
A razão disso é a venda atípica, no segundo semestre, de soja para a China, que se negava a comprar do país liderado por Trump.
Segundo os traders ouvidos pelo AgFeed, mesmo que a China nestes dois últimos meses do ano adquira 2 milhões de toneladas de soja dos EUA, o volume total do ano (houve compras entre janeiro e maio) ficará em cerca de 8 milhões de toneladas, o que é praticamente um terço apenas do que os chineses importaram dos americanos em 2024 – 22,13 milhões de toneladas.
Resumo
- Após quase 5 meses, China volta a importar soja dos EUA, com dois navios negociados pela trading Cofco
- Expectativa de acordo entre Trump e Xi Jinping impulsiona preços em Chicago e derruba prêmios no Brasil
- Apesar da mudança, Brasil deve fechar 2025 com exportações recordes de soja, acima de 109 milhões de toneladas