E agora José?

Com o término da COP 30 e seus resultados decepcionantes na Zona Azul, a pergunta central do poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, me veio a cabeça.

Sentado em meu escritório, distante uns 2.900 km de Belém, fico pensando se assarei em um planeta que não para de bater recordes de temperatura ou se continuo com o propósito de não me deixar levar pelo desânimo de achar que não posso fazer nada.

Já faz tempo que desisti de desistir. Então, passados os segundos de dúvida, volto a trabalhar no que considero a minha vocação e responsabilidade para com todos.

Um ponto que acho crucial em tudo o que podemos fazer, é saber que minimamente somos 3 bilhões de seres humanos, que temos condição de comprar algo. Isto significa que podemos definir o que comprar - e isso não é um poder menor.

O mundo é movido pelo fluxo de capital e nós somos parte dele. Então, não pensemos que não temos poder para as mudanças necessárias.

Numa situação hipotética, imaginem que paremos de comprar tudo o que não seja vital a nossa sobrevivência. Essa decisão afetaria a emissão de gases de efeito estufa, que são uma das causas do aquecimento global? É claro que sim e foi o que passou na pandemia. Seria o suficiente? Não. Mas mostra que o consumo consciente, que depende de nós, tem uma parte da solução da equação.

Por outro lado, muitos não sabem o que são a COP, gases de efeito estufa, combustíveis fósseis e outros termos, e naturalmente não tomam ações porque não sabem que estamos em problemas.

Por esta razão, tenho dedicado grande parte do meu tempo em gerar informação para quem não é especialista em sustentabilidade, ESG e outros acrônimos.

A COP é um deles e por isso me dediquei a saber um pouco mais para disseminar a quem gostaria de saber e não tinha um local onde buscar.

Vamos falar da COP 30, então.

Quando finalizei o primeiro e-book sobre a conferêncua, carregava comigo a preocupação de que Belém fosse mais uma COP como as que foram relatadas anteriormente: muito burburinho e movimentação durante sua execução e poucos avanços reais depois de sua conclusão.

Por essa razão decidi não ir a Belém e ficar de fora observando e buscando aprender, mesmo que à distância.

Nas duas semanas de COP, vendo tudo o que passava em Belém e reconhecendo muitos amigos que estavam lá, fiquei com a sensação de que deveria ter ido, no mínimo para encontrá-los. Por outro lado, também reconheço que não faria muita diferença e me senti representado pelos que foram.

Minha função agora, com um novo e-book, será a de trazer informação para aqueles que como eu não foram a Belém e não são especialistas no tema.

Me parece que a COP no Brasil ganhou humanidade mesmo com os contratempos.

Depois de acompanhar de perto os resultados, as vozes, os silêncios e os gestos que marcaram esses dias tão intensos, percebo que minha intuição está certa.

Belém nos entrega algo raro: transparência.

A verdade dos acordos formais, dos números, dos compromissos ou falta deles.

A verdade das ruas, das aldeias, dos territórios.

A verdade das frustrações e dos avanços reais.

E, talvez a mais poderosa de todas, a verdade sobre nós mesmos, sobre a urgência de amadurecermos como humanidade.

É da Zona Verde que virá o que necessitamos.

Para mim, nunca ficou tão claro nosso despreparo para negociar pelo todo e não pelas partes.

Está escancarada a ferida de que não estamos preparados para viver no mesmo planeta. Nosso pensamento e forma de viver remontam à época em que vivíamos em tribos isoladas e sem contato. Em realidade, nem sabíamos da existência de outras tribos. Consumíamos o que estava ao redor e quando não havia mais nada para saciar-nos, era hora de buscar outra área. E assim sucessivamente.

Os tempos são outros, mas seguimos com a mente predadora do passado. Enquanto houver petróleo, “drill baby drill”.

Só que agora sabemos demais para fingir que não sabemos.

Este novo e-book nasce para contar o que foi a COP 30, com o melhor que possa fazer para honrar essas verdades e o extraordinário trabalho realizado por lá.

Para transformar o que foi dito, sentido e vivido em um mapa de consciência.

Para lembrar que a COP 30 não termina quando os documentos são assinados, mas quando cada pessoa decide o que fará com o que aprendeu, vivenciou ou sentiu mesmo de longe.

Ao longo dos últimos dias, mergulhei em falas que me arrepiaram, em alertas que quase me tiraram o sono e na esperança que segue resistindo.

Vi que, mesmo quando o texto negociado não alcança a ambição necessária, as vozes que ecoam fora das salas de negociação carregam uma força que nenhum consenso limitado consegue apagar. Há algo inspirador acontecendo, silencioso, profundo, inevitável.

Sinto uma percepção global de que não podemos mais terceirizar a responsabilidade.

De que não existe liderança climática sem coragem moral.

De que não existe futuro seguro sem integridade, inclusão e verdade.

Estamos dormindo em berço esplendido, enquanto o Titanic Terra vai afundando lentamente.

O Brasil agora carrega um papel histórico até 2026.

Mas cada um de nós também carrega.

Assim, o novo e-book será um convite. Um convite para escutar com mais sensibilidade, entender com mais profundidade e agir com mais propósito.

Um convite para transformar conhecimento em movimento. E movimento em impacto, o único idioma que o planeta compreende.

Que o novo material inspire caminhos, desperte consciências e fortaleça a certeza de que, apesar dos desafios, ainda há tempo.

Tempo para agir.

Tempo para mudar.

Tempo para escolher, juntos, o mundo que queremos entregar às próximas gerações.

Leonardo Lima é socio da Dreams & Purpose Consulting