É sempre motivo de satisfação para nós produtores rurais quando sai o resultado do PIB (Produto Interno Bruto), a soma de todas riquezas que o Brasil produz, e fica evidente a importância da agropecuária para nossa economia.
Sabemos que os desafios não têm sido poucos, ultimamente, com preços mais baixos em setores fundamentais para nosso agro, como soja, milho e boi, além da tarefa de administrar custos elevados e intempéries climáticas.
Ainda assim, os dados divulgados pelo IBGE recentemente mostram que o PIB brasileiro cresceu 2,9% em 2023, atingindo R$ 10,9 trilhões. E o crescimento mais expressivo foi registrado pela agropecuária, que avançou 15,1%.
Portanto, olhando assim, sem mergulhar no que está por trás destes números, até seria motivo apenas de otimismo. Mas é preciso observar o que ocorreu nos últimos meses de 2023 e no que está sendo previsto para este ano de 2024.
Posso afirmar que nós, produtores, recebemos os dados atuais do PIB também com apreensão. E explico os motivos. O primeiro deles é o fato de que este percentual de crescimento esteve muito mais relacionado ao desempenho da agricultura e pecuária nos primeiros meses de 2023, quando ocorre o auge da safra de grãos e quando tivemos uma retomada nos volumes colhidos.
No segundo semestre a situação já foi diferente. Quando se olha o PIB da agropecuária no quarto trimestre, comparado ao mesmo período de 2023, o resultado é uma estabilidade, segundo o IBGE, ou seja, não houve crescimento.
O resultado muito positivo no início do ano passado se justifica porque a safra anterior, 2022/2023, especialmente de soja, grande responsável pela geração de divisas, foi marcada por uma forte quebra na produção, quando o fenômeno La Niña derrubou as produtividades em importantes estados produtores, como no Paraná.
Agora estamos vivendo um novo drama e a preocupação do produtor rural é com o futuro. Pelo que temos visto, dificilmente será possível atingir um percentual de crescimento tão expressivo.
A conta é simples. O preço da arroba do boi, pelo indicador Cepea, por exemplo, que já foi de R$ 335 em abril de 2022, está sendo cotado em R$ 235 neste começo de 2024. Só que no ano passado os efeitos da seca nas pastagens não foram tão severos quanto estão sendo neste verão.
O mesmo vale para os grãos, que mostram uma rara combinação de quebra de safra com queda nos preços internacionais.
Embora ainda haja muita divergência nas estatísticas, produtores, consultorias e governo concordam que vamos produzir bem menos soja do que na safra passada, em função dos problemas climáticos em Mato Grosso. E os preços da saca, que chegaram próximo de R$ 200 em meados de 2022, agora, pelo Cepea, estão em R$ 115, mas nas regiões distantes do Centro-Oeste já ficam abaixo de R$ 100.
Meu recado aos colegas produtores é que sigam investindo, como já vêm fazendo, em gestão, planejamento e tecnologia, especialmente aquelas que nos ajudem a combater os efeitos das mudanças climáticas, alinhadas com os melhores padrões de sustentabilidade.
Do poder público e das grandes corporações, esperamos sensibilidade na renegociação de dívidas, na garantia de maior acesso ao seguro rural e na preservação das margens que garantam a sobrevivência para todos os elos da cadeia.
Uma previsão feita pela CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasi) indica que o PIB da agropecuária pode encolher entre 0,5% e 1% em 2024, devido a este cenário que acabamos de descrever.
O jeito é seguir trabalhando firme, faça chuva ou faça sol, para produzir mais e melhor, mobilizando nossas lideranças e a sociedade sobre a importância do nosso setor. Quem sabe daqui a alguns meses não tenhamos a alegria de ver números melhores, com a retomada do crescimento, para todos.
Teresa Cristina (Teka) Vendramini é fazendeira, socióloga e conselheira da Embrapa. É ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).