Gosto de dizer que aprendi a ser pecuarista com um agrônomo. Foi assim que descobri desde cedo que melhorar as pastagens era a premissa para ter mais sucesso na criação de gado. Os sistemas de pastejo são complexos, precisam ser analisados e aprimorados, com foco na eficiência da pecuária de corte.

A importância de fazer uma análise do solo, um manejo adequado de pragas e plantas invasoras, além da adubação do solo, foram alguns dos primeiros aprendizados.

Ainda hoje há erros e acertos, cuidar do pasto é algo que requer planejamento. Afinal, a natureza não responde de bate pronto, demanda tempo e decisões assertivas.

Começo o artigo hoje com este relato pessoal porque muito se tem falado nos últimos meses sobre a recuperação de pastagens degradadas. Mas afinal, por que este tema é tão importante?

Vamos primeiro aos números. Segundo a Embrapa, temos 159 milhões de hectares de pastagens no Brasil. Somente 58 milhões de hectares são avaliados como de boa qualidade.

A maior parte da área – 66 milhões de ha – tem qualidade intermediária. E o restante, 35 milhões de ha são classificados como em degradação severa.

Para mudar esta situação o produtor rural precisará de orientação e capacitação técnica. O caminho mais simples, para casos menos graves, é passar a adotar práticas de manejo de pragas e doenças e de adubação, ou mesmo apostar no plantio de forrageiras, algo economicamente mais acessível.

Porém, nos casos de degradação mais severa há necessidade de investimentos maiores já que muitas vezes o caminho é replantar as pastagens, o que demanda gastos com sementes, aplicação de calcário, fertilizantes, entre outras ações.

Melhor ainda será quando uma parcela significa destas áreas degradadas forem convertidas para sistemas integrados como o ILPF – Integração Lavoura Pecuária e Floresta. Claro que neste caso o investimento também é alto, mas o retorno em lucratividade e sustentabilidade no médio e longo prazo é enorme.

A implantação das lavouras e as árvores cultivadas ajudam a recuperar a fertilidade e a saúde do solo, além de trazer melhor aproveitamento dos recursos naturais.

Projetos com foco na recuperação de pastagens degradadas no Brasil terão um alcance muito maior do que se pode imaginar. O efeito direto mais evidente é trazer uma alternativa para ampliar a área cultivada sem a necessidade de novos desmatamentos.

Mas os ganhos de eficiência na produção de carne, a diversificação de renda aos produtores rurais e, o caminho mais curto para acessar o mercado de créditos de carbono, por exemplo, estão entre os grandes diferenciais.

A pecuária brasileira do presente e do futuro passa pela alta eficiência, pelos sistemas de rastreabilidade e por altos índices de sustentabilidade ambiental, com foco no carbono neutro.

Com uma safra de mais de 317 milhões de toneladas, é inconcebível que a pecuária ainda tenha tanta área degradada.

O setor torce para que iniciativas do governo, em visitas recentes ao Japão e a China, por exemplo, tragam resultados concretos, com a rapidez que o assunto requer.

Financiamentos públicos e privados para que pastagens degradadas sejam convertidas em áreas cultiváveis – seja para se transformar em lavoura de grãos, seja para virar sistemas altamente produtivos de produção de proteína animal – serão fundamentais nesta caminhada.

Com uma safra de mais de 317 milhões de toneladas, é inconcebível que a pecuária ainda tenha tanta área degradada.

Nós, produtores, estamos cada vez mais abertos a novas tecnologias e a novas oportunidades de melhorar a rentabilidade da pecuária de corte, além de estarmos amplamente conectados com o que o consumidor global espera do Brasil. Vamos caminhar juntos.