Não é a primeira vez que comento por aqui o preocupante aumento das guerras pelo mundo. Decidi voltar ao tema porque além daqueles conflitos em que já convivemos há meses, como Rússia x Ucrânia e Israel x Hamas, recentemente passamos a ver mais países do Oriente Médio envolvidos em bombardeios e trazendo ainda mais incertezas para o mundo inteiro.

Preocupa especialmente a entrada do Irã neste conflito direto com Israel. Os iranianos ocupam a segunda posição mundial entre os maiores produtores de petróleo do mundo, uma commodity que, sabemos, afeta diretamente os custos de energia, combustíveis e até mesmo grãos no mercado internacional.

Como produtora rural, na última semana estava fazendo os últimos cálculos para comprar alguns insumos para próxima temporada. Os últimos tempos têm sido muito desafiadores, com preços mais baixos para produtos da agropecuária e margens muito apertadas.

O Irã é um dos maiores fornecedores de fertilizantes nitrogenados para o Brasil e para o mundo. Por isso, não tenho como não me preocupar com uma possível alta repentina no preço dos adubos.

Conversando com alguns especialistas já soube que a tendência para os preços da ureia é de alta tanto no Brasil, quanto lá fora. Em um único dia da semana passada, logo após a resposta do Irã contra Israel, o preço da ureia subiu US$ 4 por tonelada. Me disseram que de janeiro a agosto, o Irã teria sido responsável por quase 20% das entregas de fertilizantes no Brasil – uma parte chegaria como Omã, mas na verdade se trata de produto iraniano, dizem os especialistas.

E Israel, que está no centro dos conflitos também é grande fornecedor de fertilizantes.

O Irã é também o quinto maior comprador do milho exportado pelo Brasil. Como a guerra entre Rússia e Ucrânia segue sem previsão de mudança, vale lembrar que os dois países também são fundamentos no fornecimento de adubos e na produção de grãos, respectivamente.

Por fim também sabemos que há uma tendência de aumento nos custos logísticos, com mais países envolvidos em conflito e restrições em rotas estratégicas. O frete marítimo já está subindo de preço. Já sentimos na pele após a pandemia o quanto essa dificuldade pode impactar diferentes setores do agronegócio no Brasil.

Enfim, estes são alguns dos possíveis reflexos para nossa atividade. Mas é bom lembrar que muito mais relevante que tudo isso é a questão humanitária, a morte de famílias inocentes, a ganância que predomina sobre o bom senso e o amor pelo próximo.

Já que não conseguimos ter controle sobre estes fatos que ocorrem por lá, o que nos resta, na fazenda, é seguir trabalhando firme, com responsabilidade e muito planejamento.

Como se vê, nossa fazenda não está tão longe do Oriente Médio quanto parece. Vamos atuar naquilo que está ao nosso alcance: ganhar produtividade e aproveitar oportunidades em que a relação de troca entre os insumos e o que produzimos estiver em patamares razoáveis.

Por último, quero registrar que estive pessoalmente na última reunião do G20 em Mato Grosso e, nos próximos dias, participo em Roma de um importante encontro realizado pela FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.

Enquanto alguns países só pensam em armas, há um esforço mundial pela segurança alimentar e pelos acordos bilaterais de comércio. A diversificação de mercados para os produtos do nosso agronegócio deve ser fundamental para que possamos seguir avançando e minimizando os impactos das indesejáveis guerras. Como produtora rural, quero acompanhar tudo de perto.

Teresa Cristina (Teka) Vendramini é fazendeira, socióloga e conselheira da Embrapa. É ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).