Nos tempos atuais não basta apenas produzir de forma sustentável, é necessário comprovar, especialmente aos compradores internacionais, tudo aquilo que nós produtores fizemos na fazenda.

Neste cenário está voltando a ganhar força as discussões sobre a rastreabilidade bovina, ou seja, a identificação exata de origem, animal por animal, para que no final da cadeia da carne o consumidor saiba exatamente de onde saiu o produto.

O Ministério da Agricultura criou um grupo de trabalho para definir uma proposta de plano estratégico para a adoção da rastreabilidade individual de bovinos e bubalinos. Há quem defenda um sistema obrigatório ao pecuarista.

Há muito tempo nós produtores somos a favor de que aconteça essa rastreabilidade. Sabemos que é uma demanda internacional e que a exigência vai chegar na nossa porteira. Porém não concordamos com a obrigatoriedade.

A maior preocupação é com os bezerros que saem de pequenas propriedades, que representam um desafio enorme nesse processo. Preocupa também o custo que será gerado por uma obrigatoriedade, o que poderia excluir ainda mais os pequenos.

Temas como regularização fundiária e ambiental precisam andar juntos com a busca de uma rastreabilidade mais abrangente no Brasil. Pequenos produtores de fronteiras agrícolas mais distantes ainda tem muita dificuldade em obter a titulação definitiva de suas terras, o que representa um obstáculo para que se consiga avançar em vários temas, inclusive na rastreabilidade.

Apesar dos desafios, lideranças e governos seguem tentando avançar, com diferentes programas de rastreabilidade, algo importante para que lá na frente o ambicioso desafio de identificar um rebanho estimado em 187 milhões de cabeças, seja alcançado.

Entre os exemplos que vi recentemente está o Pará – nos últimos anos visitei algumas vezes o estado e sempre me alegra ver a perseverança dos produtores por lá e busca constante por práticas sustentáveis. É algo ainda mais importante à medida que se aproxima a COP 30, conferência mundial do clima que será realizada em Belém, em 2025.

O Pará tem o segundo maior rebanho do Brasil e apenas 2% do CAR – Cadastro Ambiental Rural – já analisado, principalmente pelas dificuldades em relação às pequenas propriedades que acabei de citar.

No Pará, há um forte esforço para que a rastreabilidade vire realidade. Um dos programas que conheci é o Programa de Produção Sustentável de Produção de Bezerros do Pará, que tem adesão voluntária para quem quiser ter acesso a assistência técnica e rastreabilidade.

É uma ideia da IDH (Iniciativa para o Comércio Sustentável) com a FAEPA (Federação da Agricultura e Pecuária do Pará), com outros parceiros. Devem ser atingidas 600 propriedades até o final de 2024.

O próprio governo do estado do Pará anunciou durante a COP 28 a intenção de rastrear todo o seu rebanho. A previsão é concluir a implantação do plano até dezembro de 2026.

Outro programa por lá é o PRIMI, iniciativa do frigorífico Rio Maria, que busca a rastreabilidade individual e monitoramento, também com adesão voluntária.

Por fim, importante citar também a iniciativa que a JBS vem fazendo na região. A empresa anunciou um investimento de mais de R$ 43 milhões ao longo de três anos para incentivar a transparência e a rastreabilidade no Pará.

Estes exemplos mostram que é possível, quando todos se unem, não apenas governo, mas também as cadeias produtivas, a favor de um objetivo comum. Implantar uma rastreabilidade imediata, obrigatória, para todos os produtores no Brasil, não parece o caminho mais tranquilo e viável para o setor. Fico na torcida para que o diálogo siga prevalecendo e a consciência do produtor também, avançando ainda mais na pecuária que já é modelo para o nosso planeta.