No debate sobre a transição energética, é comum associar os biocombustíveis apenas à pauta ambiental. Menos visível, mas igualmente relevante, é o papel que desempenham na proteção do consumidor, na economia nacional e no enfrentamento ao crime organizado.

A entrada em vigor do E30 (30 % de etanol na gasolina) e do B15 (15 % de biodiesel no diesel) marca um novo ciclo para um setor que já gera empregos, arrecadação e inovação tecnológica.

O etanol não é apenas mais limpo. É também um produto rastreável, regulado e, sobretudo, brasileiro. Abastecer com etanol é injetar recursos na economia local, apoiar a indústria nacional e reduzir a dependência externa.

Nos últimos meses, denúncias de adulteração voltaram ao centro do debate após a Operação Carbono Oculto, a investigação revelou esquemas bilionários envolvendo distribuidoras, fintechs e fundos de investimento. O setor respondeu a respeito com firmeza, reafirmando o compromisso com a legalidade. A agenda dos biocombustíveis passou a ser também uma agenda de tolerância zero à fraude.

Segundo o relatório “Biocombustíveis – Panorama nas redes e na imprensa (jul–ago/25)”, elaborado pela Meridiana, think tank brasileiro de inteligência aplicada a políticas públicas, o tema gerou mais de 61 mil menções nas redes sociais, com alcance de 182,7 milhões de pessoas.

Houve dois picos principais: no dia 3 de agosto, com críticas ao E30 e desinformação sobre “gasolina adulterada”; e no fim do mesmo mês, com a repercussão da operação. Apesar da agitação digital, a imprensa adotou tom técnico e equilibrado, destacando os ganhos ambientais, a geração de empregos e a soberania energética.

O cenário ajuda a desmontar a crença de que o etanol prejudica o motor. Por ser mais limpo, ele reduz resíduos no sistema de combustão, reduz custos de manutenção e, segundo testes técnicos conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia, pode aumentar a potência do veículo em até 2%. Esses benefícios devem ser comunicados com clareza.

Outro ponto estratégico é o fortalecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Nos EUA, a regulação da qualidade dos combustíveis conta com monitoramento digital em tempo real.

A ANP precisa de instrumentos semelhantes: painéis online, alertas automatizados e redes de dados compartilhadas. Com a nova diretoria, liderada por Artur Watt e Pietro Mendes, o Brasil tem a oportunidade de modernizar a regulação, combater fraudes e ampliar a arrecadação.

Os biocombustíveis não são apenas uma alternativa verde. São um vetor de desenvolvimento e um ativo estratégico. Etanol, biodiesel e combustível sustentável de aviação (SAF) devem ser tratados como instrumentos diplomáticos e econômicos, que demonstram compromisso com inovação, segurança energética e emprego.

Defesa do consumidor e soberania energética não se opõem. A política pública deve garantir preços justos, concorrência leal e investimentos sustentáveis. Os biocombustíveis reúnem essas qualidades com clareza. Cabe ao Congresso, ao governo e à agroindústria sustentarem essa mensagem com dados, fiscalização moderna e responsabilidade.

O problema nunca foi o etanol. Os desvios sempre estiveram associados a combustíveis adulterados — frutos de um mercado que resiste à formalização. E quem atua com transparência sabe que um ambiente regulado amplia a previsibilidade e a confiança.

Sergio Balaban é administrador de empresas e chefe de gabinete do senador Fernando Farias (MDB-AL)