Apesar de o Brasil ter sido o segundo país que mais recebeu Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em todo o mundo no ano passado, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo o Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o atual cenário econômico brasileiro ainda gera dúvidas e pode frear a atração de investimentos internacionais a curto prazo.
Um dos principais fatores que influenciam negativamente este ambiente de negócios é a elevação do Risco Brasil, que cresceu 12% nos últimos três meses, segundo dados do índice EMBI+ Risco-Brasil pelo JP Morgan, acompanhado da desvalorização do Real e das incertezas em relação aos compromissos fiscais do governo, entre outros indicadores econômicos que preocupam os especialistas.
Por outro lado, a estabilização da inflação (com projeção de 3,8% para este ano) e a redução da taxa de desemprego – que chegou a 7,1% em maio, o menor índice desde 2014 de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – são indicadores que animam os investidores e podem impactar positivamente o aporte de capital no país.
E ainda há outros fatores positivos. De acordo com estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o rendimento habitual médio do brasileiro vem crescendo nos últimos meses, chegando ao valor de R$ 3.222,00 em abril de 2024, valor 6,8% maior do que em abril do ano passado.
Lembrando que os gastos das famílias, um dos principais motores para o crescimento econômico, aumentam à medida que mais empregos são criados e haja uma maior valorização dos salários, criando assim um ambiente favorável para novos investimentos.
Mas ainda assim, será que o Brasil segue atrativo para novos investimentos?
São muitos os pontos positivos e negativos, ambos internos e externos, a serem colocados na balança. E como não há respostas simples para problemas complexos, precisamos interpretar os dados sob a perspectiva do mercado financeiro e como os grandes fundos de investimento enxergam o cenário brasileiro.
Afinal, em um mundo globalizado, os fatores além das fronteiras não podem (e nem devem) ser ignorados.
Em um contexto global, o primeiro ponto que destaco é o desempenho no primeiro trimestre de 2024 registrado nos mercados emergentes, segundo dados da Fitch Ratings.
Impulsionado pela demanda interna, que compensou a desaceleração econômica internacional, o Brasil teve um sólido crescimento, mesmo sem apresentar números exponencias, devido ao consumo privado, amparado principalmente pelo mercado de trabalho aquecido, investimento e concessões de crédito.
Além do aumento do poder de compra do consumidor, o Brasil tem se mostrado bastante resiliente, com boas perspectivas em diferentes áreas.
Na comparação interanual o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre cresceu 2,5%, acima dos 2,1% registrados no último trimestre de 2023. As exportações cresceram 1,4% no primeiro semestre deste ano, chegando a US$ 167,61 bilhões e a produção industrial tem projeção de crescer 2,9% até o final de 2024.
No agronegócio, principal segmento da economia brasileira e que responde por cerca de 25% do PIB nacional, atingimos um recorde nas exportações do primeiro trimestre de 2024, chegando à marca de US$ 37,44 bilhões em produtos vendidos para o mercado externo, 4,4% a mais do que no mesmo período de 2023.
O mesmo vem ocorrendo no mercado financeiro. Apesar das perdas registradas na Bovespa em 2024, que ultrapassam R$ 40 bilhões na visão acumulada até a metade de junho, com mais dias de performance negativa neste ano do que em 2023, os ativos brasileiros seguem mais atrativos, ou seja relativamente mais baratos, do que dos demais países da América Latina, com valores abaixo das médias históricas dos últimos cinco anos.
Além disso, após três quedas consecutivas a Formação Bruta de Capital Fixo (medida de investimento em ativos fixos) cresceu 2,7% no primeiro trimestre de 2024.
Ressalto aqui que o Brasil tem planos de médio e longo prazo para se tornar referência em setores específicos da economia mundial. O país pretende expandir a produção de petróleo, podendo se tornar o quarto maior produtor até 2029 e possui um imenso potencial para a produção de energias renováveis como a solar, eólica, biocombustíveis e hidrogênio verde, o que o coloca no mapa dos investimentos da economia sustentável.
Vale lembrar que o Brasil está atualmente apenas dois níveis abaixo do status do Grau de Investimento e tem feito a lição de casa em assuntos importantes para a estabilidade econômica.
Em 2023 a dívida do país em dólar representava apenas 16,6% do PIB, bem menos do que os 21% do PIB registrado em 2020. Medidas como a regulamentação da Reforma Tributária, aprovada neste mês pelo Congresso Nacional também comunicam ao mercado que o país seguirá atrativo para investimentos estrangeiros.
Outro dado relevante diz respeito às atividades de Fusões & Aquisições (M&A). Estudos realizados pela Redirection International apontam que, mesmo em um cenário de redução de atividades de M&A em nível global, as transações transfronteiriças devem se intensificar nos próximos anos, sobretudo nos setores de energia, alimentos, saúde, tecnologia e cuidados pessoais, aumentando a atuação de empresas estrangeiras e fundos de investimentos internacionais no mercado brasileiro.
Esta movimentação já é percebida, inclusive, no setor de agronegócio que teve mais de 330 transações de M&A nos últimos cinco anos, das quais 38% foram cross-border.
Acredito que tais indicadores colocam o Brasil em posição favorável no cenário internacional, como uma das únicas economias emergentes com sólidas perspectivas de crescimento a longo prazo, fortes vantagens econômicas e estabilidade relativa do sistema político.
Ou seja, mesmo com as incertezas econômicas, o Brasil segue como um mercado atrativo para investimentos internacionais e tem uma perspectiva positiva, à frente dos seus pares de mercados emergentes.
Do ponto de vista geopolítico, o país se encontra em um “feliz isolamento” dos ventos contrários que sopram em outras economias do mundo.
Em resumo, há argumentos e indicadores econômicos prós e contras. No entanto, no nível fundamentalista, o Brasil ainda tem tudo para ser o país do futuro. Afinal, é um mercado grande demais que não deve ser ignorado pelos investidores internacionais.
Adam Patterson é economista e sócio da Redirection International, empresa especializada em assessoria de fusões e aquisições.