O que faz algumas empresas do agronegócio crescerem e prosperarem ano após ano num cenário nacional e internacional cada vez mais competitivo e desafiador, enquanto outras sucumbem ou estacionam?

A resposta não é simples e a receita não é única. A experiência mostra, entretanto, que ter uma agenda estratégica para acessar fontes de funding de médio e longo prazos, de governança corporativa, de atração de talentos e de atenção a oportunidades de aquisição de ativos-chave e competidores, é capaz de gerar resultados consistentes na direção da prosperidade.

Neste contexto, empresas do agro que desejam crescer em 2024 devem considerar em seus planos de ação os 5 temas a seguir:

1. Focar na captação de crédito estruturado em reais de médio e longo prazos: O mercado de capitais para crédito de renda fixa no Brasil está mais próximo que nunca das empresas do agro, mas ainda poucas têm noção da importância de se criar relacionamento com instituições financeiras, fundos, family offices e outros financiadores de capital de médio e longo prazo.

Mesmo assim, empresas do agro emitiram mais de R$ 100 bilhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) em 2023, adquiridos por fundos, family offices e outros investidores, para captar recursos de médio a longo prazo 5 a 10 anos.

Da mesma forma, empresas do setor imobiliário (algumas ligadas à cadeia do agro) emitiram Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) em volumes elevados para financiar empreendimentos e custos de obras já construídas, com prazos de 5 a 10 anos.

Nota Comercial Escritural e Debêntures também são opções de captação de médio e longo prazo.

2. Olhar para captação de crédito à exportação em dólares com bancos e fundos estrangeiros: A participação do Brasil ainda é irrelevante no comércio internacional, com participação perto de 2% do volume global de comércio.

Mesmo assim, empresas do agronegócio que exportam soft e hard commodities, que geram recebíveis em dólar e outras moedas fortes, podem lastrear captações externas.

Há diversas instituições financeiras, fundos, family offices e investidores estrangeiros que financiam exportações de empresas brasileiras, via linhas de pré-pagamento de exportação (export prepayment), direct loan, draft (desconto de duplicata internacional), entre outros, em volume que ultrapassa US$ 50 bilhões anualmente.

As empresas devem buscar estes canais de financiamento como mais uma alternativa de funding, especialmente em moeda forte.

3. Implementar governança corporativa: Como condição para acessarem crédito ou capital de investidor, as empresas precisam implantar sólida estrutura de governança corporativa.

Governança inclui (i) auditoria de demonstrações financeiras, (ii) estrutura de gestão, com competências, poderes e alçadas claras, (iii) profissionalização da equipe, (iv) compliance, com instituição de códigos e políticas claras de “boas práticas”, e (v) sucessão e relação entre acionistas/cotistas controladores.

Estas práticas tornam as empresas mais transparentes, confiáveis e aptas a se perpetuarem, o que, na visão de financiadores nacionais e internacionais, às tornam atrativas para recebem aportes de dívida e capital.

4. Criar programa de retenção de talentos: Reter talentos é essencial para o crescimento, inovação e atração de investimento para empresas.

Por isto, (i) criar um plano de retenção de talentos com vesting e stock option, (ii) quais funcionários terão direito de participar e (iii) requisitos para participar do programa, são aspectos importantes a considerar.

5. Atentar a oportunidades de M&As e Corporate Venture: Adquirir ou ser alvo de uma aquisição é parte da trajetória das empresas médias e grandes.

Na parte de M&As, é importante implementar uma governança corporativa estruturada, com demonstrações financeiras auditadas, para facilitar movimentos de aquisição (porque o vendedor vai pedir comprovação de que o comprador tem condições de pagar o preço) e de venda (porque a empresa terá seus números organizados e verificados por auditor independente). Tudo para se ganhar tempo em mercados que estão cada vez mais competitivos.

Na área de Corporate Venture, onde as empresas buscam identificar startups que possuam produtos ou serviços que possam agregar valor aos seus negócios, vale pensar em criar estrutura de investimento por meio de uma empresa separada de investimentos e realizar aportes via mútuo conversível ou mesmo por meio da aquisição direta de capital (se o risco/oportunidades permitir).

Os 5 temas acima são estratégicos e podem ajudar empresas do agronegócio em 2024 a crescerem e prosperarem, gerando valor para acionistas, funcionários, demais stakeholders e o Brasil como um todo.

Lúcio Feijó Lopes é sócio sênior do Feijó Lopes Advogados.