Se o ano de 2024 pode ser considerado o ano das hidrovias no Brasil, com a criação até mesmo de uma Secretaria exclusiva para a área no Ministério dos Portos e Aeroportos, o agronegócio aposta que 2025 será marcado pelo avanço dos investimentos nas ferrovias. Afinal de contas, a Lei das Ferrovias (14.273/21) completou três anos sem que nenhuma nova obra do governo federal fosse iniciada.
“Gostaríamos que 2025 fosse das ferrovias, porque a lei já está indo para mais ano e até então não tem nenhuma ferrovia iniciando a construção. Parte dos contratos foram assinados, ou estão na fase de estudos de desapropriação de terras”, disse ao AgFeed a assessora técnica da Comissão Nacional de Infraestrutura e Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Elisangela Pereira Lopes.
Ela lembra que tudo no setor é demorado. Entre um pedido de obra, passando pelo levantamento de impacto ambiental, chegando às licenças e autorizações para desapropriações, o tempo gasto é de cinco a sete anos.
A aposta do setor são os investimentos em ramais já concedidos à iniciativa privada, como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico). O governo prevê aportes de R$ 25 bilhões nas obras das duas ferrovias. Como as obras são feitas por lotes, não há previsão para o término das duas ferrovias.
Outra obra importante que deve caminhar, segundo a CNA, é a da Ferrovia Transnordestina, que receberá aporte de R$ 3,6 bilhões do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE), administrado pelo Banco do Nordeste, com conclusão prevista em 2026.
Já o leilão da Ferrogrão, aposta do setor para escoar a produção de Mato Grosso por Miritituba (PA), pode sair do papel no segundo semestre. No entanto, a liberação depende do julgamento de ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Mesmo que a Ferrogrão seja liberada, o processo é demorado e leva até dez anos, com dois de estudo e mais oito de obras”, estima. Edeon Vaz Ferreira, presidente da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Ministério da Agricultura e do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso.
Ainda em Mato Grosso, a Rumo está investindo até R$ 15 bilhões nas obras na ferrovia estadual Vicente Emílio Vuolo, de Rondonópolis até Lucas do Rio Verde, como mostrou o Agfeed em outubro. Outra aposta no estado maior produtor de grãos do País é a duplicação de mais 100 quilômetros na BR-163, no trecho entre de Posto Gil e Sinop.
A malha rodoviária, que já tirou o sono de muitos produtores, melhorou consideravelmente a partir das concessões feitas e das obras do governo federal, segundo Elisangela, da CNA, e Ferreira do Movimento Pró-Logística.
“Nas rodovias o governo tem se empenhado na manutenção e a situação melhorou. O ano foi dedicado a melhorar estradas que estavam paradas por falta de recursos e governo”, disse Elisangela. “Houve boa recuperação da malha rodoviária, com 70% delas em boas condições em Mato Grosso”, completou Vaz.
Fretes
Mesmo com a melhoria nas rodovias, os gargalos e a alta nos custos de fretes devem voltar em 2025, na avaliação do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log).
Para o pesquisador Fernando Pauli de Bastiani, 2024 foi um atípico para o escoamento da safra, justamente pela quebra na produção. Com isso, houve uma redução de 15% a 20% no preço do transporte, dependendo da rota.
Para 2025, o cenário é o inverso. Além da produção recorde de grãos, houve um atraso no plantio da soja em Mato Grosso e a colheita deve ser acelerada para o milho ou o algodão.
Com isso, haverá uma concentração da colheita em um curto período e a disputa por caminhões para o transporte vai aumentar.
“Deve voltar a ter alta demanda de transporte, consequentemente esperamos recuperação de 10% a 15% no valor do frete em relação de 2024”, afirmou Bastiani.
O custo pode aumentar mais, segundo o pesquisador do Esalq-Log, se o governo repassar a defasagem do diesel às distribuidoras.
“O diesel ficou estável praticamente 2024 inteiro, mas existe a defasagem, com a questão cambial, e vai chegar uma hora que a Petrobras não vai conseguir segurar”, concluiu.
Hidroviário
Já no transporte hidroviário, que nos últimos anos sofreu com os baixos níveis de rios relevantes para a logística do agro, o setor espera que as melhorias e concessões de 2024 continuem. Edeon Vaz, presidente da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Ministério da Agricultura, cita os leilões públicos para a concessão da hidrovia dos rios Madeira e do Paraguai.
Ainda segundo ele, a esperada obra de derrocamento do Pedral do Lourenço para permitir a navegabilidade total nos rios Tocantins e Araguaia deve ser liberada este ano.
Elisangela Pereira Lopes, da CNA, destaca que a criação da Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação acelerou o plano de outorgas e “gerou um horizonte de melhorias e quem sabe de boas novas nos próximos anos", disse.
“Antes nem tínhamos a quem recorrer para cobrar sobre o modal hidroviário”, completou.
Ainda segundo ela, há a sinalização do governo de se lançar uma portaria interministerial para o mapeamento dos gargalos de infraestrutura e logística e transportes no País. Ela lembra que o grupo interministerial que discutia há mais de uma década essa pauta foi desfeito em 2024.
“Os ministérios ainda se reúnem com os atores e, em meados de fevereiro e março, devem lançar um novo mapeamento”, concluiu.