A demanda mundial aquecida por produtos mais sustentáveis já vinha impulsionando os investimentos na indústria de papel, celulose e florestas plantadas. Mas uma aceleração ainda mais forte pode estar a caminho.
A expectativa é do presidente executivo da Ibá (Indústria Brasileira da Árvore), Paulo Hartung, que conversou nesta segunda-feira com o AgFeed, depois de participar da reunião mensal do Cosag, Conselho Superior de Agronegócio da FIESP, na capital paulista.
Um dos motivos para o clima mais otimista é fato do presidente Luís Inácio Lula da Silva ter sancionado na semana passada uma lei que tira a silvicultura da lista de atividades de alto impacto ambiental.
“Essa lei agora em vigência corrige uma distorção de muitos anos, já que a silvicultura, que é a atividade de plantio de árvores, que capturam e estocam carbono, estava numa lista de setores altamente poluentes ao lado da siderurgia, da construção pesada, por exemplo. Era um equívoco que agora foi corrigido”, explicou Hartung.
O presidente da Ibá explicou que a condição anterior submetia o plantio de árvores “a uma burocracia enorme”, fazendo com que algumas autorizações levassem até 1 ano e meio para sair.
“Burocracia não protege o meio ambiente, trava o desenvolvimento, e com isso trava geração de empregos, questão central para nosso País”, afirmou.
O executivo lembrou que foram 10 anos de tramitação no Congresso Nacional e audiências públicas, até que foi aprovada a lei, agora sancionada pelo presidente Lula e publicada na sexta-feira no Diário Oficial da União.
“O setor tem investido muito, mas teremos um ciclo de investimento ainda maior”, ressaltou.
Segundo a Ibá, chamada carteira de investimentos do segmento é estimada atualmente entre R$ 75 bilhões e R$ 90 bilhões, quantia que já está sendo aplicada ao longo de três anos.
“O primeiro impacto (da nova lei) é acelerar o desembolso dessa carteira”, admitiu Hartung.
Na conta bilionária estão novas fábricas, ampliação de unidades já existes, aumento da área de florestas plantadas e investimentos em ciência aplicada.
Ele adiantou ao AgFeed que em 2024, pela primeira vez, o Brasil já ultrapassou 10 milhões de hectares de florestas plantadas. Os dados exatos serão divulgados pela Ibá somente no final desse ano. O último número oficial da entidade é de 9,94 milhões de hectares.
No otimismo de Hartung estão também projetos que talvez o mercado ainda nem conheça em detalhes.
“A lei pode estimular que outros projetos que estão na gaveta saiam e virem realidade econômica no País. Esse valor (da carteira de investimentos) pode subir”, disse.
Paulo Hartung ressalta que o crescimento tem ocorrido “em regiões deprimidas do País, de baixo dinamismo econômico”. Citou como exemplo a nova fábrica da Suzano que será inaugurada em Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, “onde um único projeto vai produzir 2,6 milhões de toneladas”.
Ele diz que, na maioria, os projetos estão convertendo pastagens improdutivas por arvores cultivadas “que produzem serviços ambientais notáveis”.
O Brasil já é o maior exportador mundial de celulose. Na produção da fibra fica em segundo no ranking, perdendo apenas para os Estados Unidos. Um dos fatores que beneficia o setor, globalmente, é a maior demanda por embalagens de papel, que substituem produtores de origem fóssil.
“As pessoas usam viscose e não sabem que vem dar arvore, já é 5% do mercado têxtil no mundo e outros têxteis sendo desenvolvidos a partir da nanocelulose. Por isso o Brasil pode continuar sendo um bom fornecedor para o planeta, com produto que está do lado certo da equação do clima”, disse Hartung.
Nesse cenário, a Ibá faz questão de lembrar que “o setor está inaugurando uma fábrica a cada ano e meio. Estamos na contramão do que ocorre com a indústria brasileira em geral, que vive uma certa desaceleração precoce”.
Nas contas da entidade o Brasil planta, diariamente, 1,8 milhão de árvores, sete dias por semana. Além disso mantém 6,8 milhões de hectares de preservação, “uma área do tamanho do estado do Rio de Janeiro”, como destacou Hartung.
Pacto climático
O presidente executivo do Ibá fez a fala de abertura da reunião do Cosag que, desta vez, teve como tema “Pauta Brasileira na COP 30 com Foco no Agronegócio”.
Os expositores foram a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o atual secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Aranha Correa do Lago.
Após as palestras, o vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Arnaldo Jardim, convidou a todos para defender “um pacto nacional” na questão das mudanças climáticas, para levar uma posição unificada nas discussões da COP 30.
O representante do governo apoiou a proposta e prometeu ajudar na defesa da ideia em Brasília.
“O Brasil precisa se unificar na sua mensagem, não podemos passar nossas brigas internas lá fora, precisamos mostrar que estamos unidos, porque temos uma agricultura sustentável, com bioinsumos, duas safras por ano, ILPF, entre outras práticas que são exemplo”, afirmou o presidente do Cosag, Jacyr Costa Filho, ao AgFeed.
Para a ex-ministra Izabella Teixeira, é importante esse pacto na sociedade brasileira, com a interlocução do Congresso Nacional, para que “possamos parar com o negacionismo da mudança climática de um lado e negacionismo da agricultura de outro”.