A redução de custos com insumos e o câmbio favorável para as exportações trazem perspectivas de melhora das margens para a safra 2024/25, apesar de o clima ainda ser de cautela devido às incertezas em relação ao clima – com a perspectiva de La Niña a partir do segundo semestre, e a provável estabilidade dos preços, em especial dos grãos.

“No ano passado, o tom foi de cautela por causa do clima, produtividade e preço. Para 2024/25, a cautela continua, mas por motivos diferentes e com viés um pouco mais positivo”, afirmou Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA, durante o Visão Agro, evento no qual o banco traça perspectivas para o agronegócio brasileiro.

O Itaú BBA estima uma safra de soja de 163 milhões de toneladas, 7% maior que o ano passado, mas inferior à expectativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que é de 169 milhões de toneladas.

Para o milho, o cenário é parecido. Enquanto o banco espera safra de 125 milhões de toneladas para o milho, O USDA estima 127 milhões de toneladas. Já a projeção para o câmbio da área de macroeconomia do Itaú BBA para o ano é de R$ 5,50.

“As nossas estimativas estão menos otimistas que as do USDA”, afirmou Francisco Queiroz, analista do segmento de grãos e algodão do Itaú BBA, explicando que, apesar da expectativa de aumento de área, o banco prefere ser mais cauteloso até ter melhores perspectivas sobre como será o comportamento do clima, por causa do La Niña, que deve se consolidar até setembro. “Há risco para a produção do Rio Grande do Sul”, diz.

Queiroz afirma que as condições para as lavouras estão melhores este ano, que a produtividade deve ser revisada para cima e os preços tendem a melhorar.

“A relação entre estoque e consumo global está nos maiores níveis da história, em 32%. Isso deve manter preços pressionados.”

Outro fator que ajuda a trazer um tom positivo para o cenário de cautela são os custos com fertilizantes que, segundo o Itaú BBA devem cair 25% para a soja em relação ao ano passado, ajudando no processo de elevação das margens.

Para os preços, a expectativa é de um cenário “comportado”, reflexo da relação do estoque e do bom desenvolvimento da safra americana, que tem influenciado especialmente as cotações da soja e do milho na bolsa de Chicago.

O balanço para o milho, aliás, é diferente do traçado para a soja, devido à safra menor nos Estados Unidos, onde os produtores reduziram área plantada.

“A produção da China deve crescer também e a Argentina plantou menos e deve ter uma safra menor também”, disse Queiroz. Para o Brasil, o custo está menor, favorecendo as margens, mas o preço segue pressionado.

Proteína animal

As perspectivas mais positivas traçadas pelo banco em termos de recuperação de margens são para as proteínas animais, com destaque para o bovino, segundo Cesar Castro, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.

“Já observamos uma recuperação de margens”, diz Castro, lembrando que a ração mais barata tem tido efeito nos preços do boi futuro, que está mais valorizado. “Depois de três anos de abate de fêmeas, começaremos a ter mais bezerros.”

Segundo o Itaú BBA, até julho passado o preço do bezerro caiu 15%, o que pode parecer negativo para o produtor, mas ajudou a impulsionar a retomada do consumo de carne no mercado interno – o que beneficia os frigoríficos.

Além disso, as exportações de carne bovina estão crescendo 30%, mas sob a ótica da indústria e com preços estáveis. “A consequência é o consumo per capita crescer”, diz César, que estima uma alta de 15%, mesmo com o aumento das exportações.

Os suínos e as aves também têm perspectivas positivas. “A doença de Newcastle trouxe preocupação, mas achamos que o efeito será de curto prazo, com retomada rápida”, afirma.

Castro menciona ainda que, no caso dos suínos, o preço baixo do milho e a oferta global mais lenta para reagir ajudam no ciclo mais longo da produção nacional.