O ciclo de preços baixos do boi parece estar ficando no passado. Em julho, o Indicador do Boi Gordo Cepea/B3 subiu 3,26% e encerrou o mês a R$ 232,50. Em São Paulo, o preço do boi gordo registrou em julho o primeiro mês de alta média do ano – chegando a R$ 217 a arroba, segundo dados da Scot Consultoria. Em junho, havia sido de R$ 213.

“Na pecuária de corte, acreditamos que, sob a ótica dos produtores, o pior já passou”, afirmou César de Castro Alves, gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, ao comentar as perspectivas para o agronegócio na safra 2024/2025.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o volume de carne bovina disponível aos brasileiros esteve ao redor de 3,58 milhões de toneladas no primeiro semestre, 14,4% a mais que no mesmo período do ano passado – um recorde.

Já as exportações chegaram a 215,6 mil toneladas apenas no mês de julho – outro recorde. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), no primeiro semestre foram enviadas 1,14 milhão de toneladas de carne bovina in natura ao exterior, 29% a mais que no mesmo período do ano passado.

Esses dados, segundo o Cepea, refletem um equilíbrio entre oferta e demanda, fazendo com que as negociações pecuárias se mantivessem estáveis. “A indústria conseguiu evitar novos ajustes da arroba num momento de oferta reduzida, enquanto aguardava por definições nas vendas domésticas de carne”, comenta o Cepea em relatório.

“O abate de fêmeas diminuiu e o consumo maior no Dia dos Pais ajudou a reduzir os estoques no varejo”, afirma Alcides Torres, da Scot Consultoria, para quem a tendência é manutenção dos preços, devido à demanda aquecida, tanto do mercado interno quanto das exportações.

Castro, do Itaú BBA, reforça que, após três anos de abates de fêmeas, o ciclo pecuário deverá caminhar para a redução dos descartes de vacas, à medida que o preço do bezerro começar a se recuperar.

“A dinâmica deve ficar mais clara em 2025. Ainda assim, a melhora deverá ser gradual, mantendo um bom cenário de margens para os frigoríficos”, afirma Castro.

Essa recuperação já começou a se materializar, por exemplo, nos resultados financeiros das principais empresas do setor.
Na Marfrig, por exemplo, o segmento de carne bovina correspondeu a 57% da receita líquida do segundo trimestre deste ano – de R$ 34,7 bilhões, valor 16,5% maior que o do mesmo período de 2023.

A empresa, que reportou lucro líquido de R$ 75 milhões, realizou investimentos nas operações de bovinos da América do Norte e da América do Sul, além de ter começado a colher resultados dos investimentos feitos em produtos como hambúrgueres para se obrigar a reduzir sua dependência das exportações para a China.

Na BRF, a temporada de notícias ruins também parece ter acabado. A empresa apresentou no segundo trimestre deste ano um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão – revertendo o prejuízo de R$ 1,3 bilhão no mesmo período do ano passado.

E a JBS teve, na visão dos analistas da XP, um trimestre “memorável”, no qual conseguiu sair de um prejuízo de R$ 264 milhões do ano passado para um lucro líquido de R$ 1,7 bilhão no segundo trimestre de 2024. A receita no período foi de R$ 100,6 bilhões.

A tendência é que continue assim. Segundo estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), neste ano o consumo de carne bovina no Brasil pode superar em 4% o do ano passado, puxado pelo aumento da renda real e pela elevação da oferta doméstica – e também do consumo.

Dados do IBGE mostram aumento de 2,5% da renda real do trabalhador brasileiro no trimestre março-abril-maio comparado ao último de 2023. E, conforme cálculo de pesquisadores do Cepea, a elevação de 1% da renda tem potencial de aumentar por volta de 0,7% o consumo de carne bovina de primeira, ao passo que poderia reduzir em quase 1% as compras de carnes de segunda.

“No setor das proteínas animais, os ventos devem continuar favoráveis para aquelas mais intensivas no uso de ração, com os custos contidos exercendo grande influência de um lado da equação das margens”, diz Castro, do BBA.