A compra da brasileira Biotrop pela belga Biobest no início do mês e o recente investimento da XP Asset Management na Superbac são apenas alguns dos exemplos do caminho de consolidação que vem sendo traçado para o mercado de insumos biológicos brasileiro. E essa consolidação tende a acelerar e se intensificar a partir de 2024.

Pelo menos é o que mostra uma pesquisa focada no potencial de M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições) no mercado de biológicos e de especialidade em nutrição vegetal realizada pela Hand, assessoria especializada em operações desse tipo, obtido com exclusividade pelo AgFeed.

De acordo com a Hand, das cerca de 700 empresas brasileiras que atuam com biológicos e especialidades em nutrição vegetal, ao menos 85 têm potencial para serem vendidas ou receber investimentos de fundos de private equity.

São empresas com faturamento entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões que nunca passaram por operações desse gênero.

“Esse é um mercado que cresce acima de 30% ao ano e que tem uma margem em torno de 70%”, afirma Thomas Britze, conselheiro da Hand e um dos coordenadores da pesquisa.

Britze, que já atuou como CEO da divisão agrícola da Bayer, e também de empresas como Helm e Amvac, lembra que o processo de consolidação dos segmentos da agricultura brasileira vem se desenhando há quase uma década, com a chegada de multinacionais e entrada de fundos de private equity no capital de empresas com bom potencial de expansão.

Ele cita como exemplo o movimento ocorrido nos últimos anos no mercado de distribuição de insumos agrícolas, em que fundos como Aqua Capital e Pátria, além de empresas como Syngenta e Sumitomo, investiram na formação de grandes redes de revendas, mudando o perfil de um setor antes bastante pulverizado.

“Não será diferente com o mercado de insumos biológicos e de especialidades”, diz Britze.

A operação envolvendo a Biotrop é um exemplo de como esses negócios vem se desenhando. Criada pelo fundo de investimentos Aqua Capital em 2018, a empresa teve parte de suas ações vendidas em 2021 para o GIC, o fundo soberano de Cingapura, que saiu totalmente do negócio com a venda da empresa para a belga Biobest.

A Biobest comprou 85% das ações – numa operação avaliada em R$ 2,8 bilhões - e irá adquirir os 15% restantes ao longo dos próximos três anos.

Já a XP Asset Management pagou R$ 300 milhões por uma participação societária na Superbac em julho desse ano. A Superbac é uma empresa de biotecnologia reconhecida por produzir soluções biológicas para otimizar a produção agrícola – além de bactérias que também são usadas no setor de saneamento básico.

Operação semelhante ocorreu em 2020, quando o Tarpon Investimentos pagou R$ 160 milhões por uma fatia da Agrivalle, também de produtos biológicos.

“Grandes fundos e multinacionais já atuam nesse mercado no Brasil, como Corteva, Bayer e Syngenta. Mas ainda existem muitas gigantes globais que buscam por mais oportunidades”, afirma José Venâncio, sócio da área de M&A da Hand. Entre alguns desses nomes estão japonesas como a Mitsui e Sumitomo, além da indiana UPL.

O potencial de mercado para insumos agrícolas biológicos no Brasil é, de fato, promissor. De acordo com a CropLife, entidade que reúne empresas de biotecnologia, sementes, defensivos químicos e biológicos, esse é um setor avaliado em R$ 5,6 bilhões – que é o valor estimado do mercado brasileiro de biodefensivos na safra 2021/2022.

“Essa é uma indústria inovadora, que oferece inúmeros benefícios por ser uma alternativa que entrega controle eficiente de pragas e que pode atuar em sinergia e de forma complementar com os insumos químicos”, disse a diretora de biológicos da CropLife, Amália Borsari, em conversa recente com o AgFeed.

No estudo “Global Farmer Insights”, a McKinsey & Company mostra o Brasil na liderança global de adoção de insumos biológicos. Na safra 2022, 36% dos agricultores brasileiros utilizaram biofertilizantes.

É percentual maior que a média mundial (18%) e a dos Estados Unidos (12%). Essa posição de topo no ranking, se pauta, entre outros fatores, na percepção dos nossos produtores da importância da utilização de soluções agrícolas sustentáveis.

Além dos benefícios ambientais, o mercado de insumos biológicos tem se desenvolvido e obtido resultados melhores em termos de produtividade e redução custos para os agricultores. O que, em contrapartida, tem ampliado o faturamento das empresas que investem nesse mercado.

A Yara é uma delas. Em entrevista recente ao AgFeed, a empresa informou que os biofertilizantes já representam 15% do seu faturamento. E a expectativa é ampliar ainda mais essa fatia com os 15 novos produtos que lançou no mercado recentemente, entre eles um fertilizante de alta performance com elemento biológico desenvolvido para o tratamento de sementes de leguminosas, como soja e feijão.

Soja, cana-de-açúcar e milho, três culturas nas quais o Brasil tem liderança no mercado global, representam cerca de 75% do mercado de biológicos, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio). De acordo com a instituição, a indústria de biocontrole está crescendo 5,3 vezes mais rápido em comparação à indústria de defensivos químicos.

“Nenhum outro país tem o número de safras que o Brasil que, dependendo da região e das culturas, podem ser até três no ano”, lembra Britze, da Hands. “A indústria de biológicos chegou para ficar. Não tem mais volta”.