Clima adverso, redução no total de área plantada e oscilação de preços já são realidades enfrentadas pelos produtores de milho do País, bem antes mesmo do período de plantio da safrinha começar.

Diante de todos os alertas que vem sendo feitos por produtores e analistas, qual será o real impacto de uma queda na produção para o contexto do agronegócio brasileiro?

Na visão de André Sanches, pesquisador de milho do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, apesar de todas as incógnitas, o Brasil tem tudo para registrar mais uma safra de milho muito boa no ano que vem, mesmo que ela seja menor que a de 2022.

“A última safra foi recorde e se chegarmos aos volumes de produção de milho que estão sendo estimados, a próxima ainda será a segunda maior da história do país”, diz, reproduzindo projeção para toda a safra de grãos feita no início do mês pelo presidente da Conab, Edegar Pretto.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de milho do Brasil deve chegar a 119,1 milhões de toneladas na safra 2023/24. Até o momento, os dados indicam que houve redução de 5% na área total cultivada. A projeção para a safrinha é de 91 milhões de toneladas.

Sanches, do Cepea, lembra que não se pode ignorar que existe um atraso no plantio de soja devido ao clima seco no Centro-Oeste e de excesso de chuvas no Sul, que afetam a oferta de milho. “Mas isso não significa que a safra está perdida”, diz.

“Existe uma preocupação que é legítima por parte dos produtores, pois há sim risco de redução da janela de cultivo, com margens mais apertadas, maior exigência de gestão, tanto dentro da porteira, como em termos de negociação de preços no mercado futuro, deixando a safra mais técnica”, afirma Sanches. No entanto, na visão dele, ainda há chances de chuva, considerando as previsões para esse final de novembro.

De fato, a chuva começou a chegar em algumas regiões do Centro-Oeste. Em Goiás, de acordo com a Climatempo e com o INMET, as precipitações voltaram no final de semana, apesar de ainda estarem em um ritmo que representa menos de 45% do que era esperado para o mês todo.

O pesquisador do Cepea lembra que o Brasil exporta de 40% a 50% da produção de milho e que, independentemente do cenário climático, já era previsto um ajuste, tanto de preço, quando de produção para esse ano devido à conjuntura geral da oferta e demanda mundial.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou no seu relatório de outubro a perspectiva de oferta menor de milho para a safra 2023/24, com redução de estoques, da produção, dos preços e das exportações.

Por outro lado, as exportações brasileiras seguiram crescendo em outubro. De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o volume exportado de milho no mês passado foi 25% maior se comparado com outubro de 2022.

“O destaque são as 8,4 milhões de toneladas embarcadas, o maior valor já registrado para o mês de outubro na história”, avaliaram os analistas do Itaú BBA, no Radar Agro divulgado na sexta-feira, 17 de novembro. No entanto, os preços médios em dólares, seguiram em queda. No período, o recuo foi de 20%.

“É sim uma safra sensível. Mas ela ainda tem muito potencial, especialmente se a chuva chegar, como tem sido previsto pelos institutos de meteorologia”, afirma Sanches.