O agronegócio brasileiro vem passando por um processo de sofisticação que tem se refletido também no perfil das vagas que estão sendo geradas pelo setor. É cada vez maior a oferta de posições que exigem maior qualificação, enquanto diminui o nível de emprego para atividades consideradas mais operacionais.

Essa tendência tem se comprovado a partir dos dados do Boletim Mercado de Trabalho do Agronegócio Brasileiro, divulgado trimestralmente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A edição mais recente, apresentada na quarta-feira 13 de setembro, mostrou que no segundo trimestre desse ano, além da alta na oferta de vagas com carteira assinada, houve aumento nas contratações de trabalhadores com maior escolaridade. O nível de ocupação subiu 3,6% para quem tinha o segundo grau e 6,3% para os com nível superior – quase o dobro.

“Desde 2012, temos acompanhado essa tendência de aumento da escolaridade entre as contratações do agronegócio”, afirma Nicole Rennó, pesquisadora da área de macroeconomia do Cepea, da Esalq/USP.

Historicamente, indústria e serviços sempre atraíram mais mão de obra mais qualificada. Mas com o avanço da automação de fazendas e lavouras, essa tendência passou a se consolidar também no campo, especialmente na agropecuária.

“Hoje, a pessoa que fica na porteira para dentro tem que saber tomar decisões complexas, entender de comercialização e saber como estão as cotações no mercado futuro”, diz Nicole, lembrando que ter um profissional qualificado já é realidade na agropecuária moderna.

Essa realidade tem reflexo também na remuneração e no perfil das vagas que estão sendo criadas. No segundo trimestre, a renda mensal dos trabalhadores do agronegócio subiu 4,1% - é percentual maior que a média do aumento nacional, que foi de 3,9%.

Além disso, o segmento que mais se destacou no volume de empregos gerados foi o de agrosserviços, com alta de 7,5% ou geração de 684,23 mil vagas. É nele que estão atividades da cadeia como transporte, comercialização, armazenagem, logística e serviços financeiros. Já as vagas na cadeia de insumos cresceram 6,7%.

“Esses são segmentos que refletem, em última instância, o desempenho do agronegócio como um todo, à medida em que se constitui como o elo direto entre a produção agropecuária e agroindustrial e o consumidor final”, destaca o boletim do Cepea.

O resultado, lembra Nicole, reflete o excelente desempenho da produção agrícola dentro da porteira, já que as safras recordes devem se traduzir em expansão dos serviços de transporte, armazenagem, comércio e outros prestados ao agronegócio, como a oferta de insumos.

Geração de emprego recorde

No segundo trimestre, o total de pessoas empregadas do agronegócio brasileiro somou 28,3 milhões de profissionais – um recorde da série histórica iniciada em 2012. Com isso, a participação do setor no total de ocupações do Brasil foi de 26,9%, segundo o Cepea.

“O setor tem registrado supersafras que se refletem na geração de emprego”, explica Nicole, para quem o resultado “espetacular” tem sido uma tendência.

Soma-se a isso a adoção de processos mais complexos para condução dos negócios, com o uso de tecnologia para monitoramento de pastagens, controle de safra e para a própria gestão da produção.

Ou seja, a qualificação da mão de obra é uma realidade de todos os setores, mas no caso do agronegócio tem se mostrado mais acelerada à medida que o setor fica mais tecnológico.

Pesquisa recente conduzida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) junto a pequenos e médios produtores rurais no País mostrou que cerca de 84% dos agricultores utilizam pelo menos uma tecnologia digital no processo produtivo.

O perfil do agro nacional está mudando e com ele o perfil dos profissionais que atuam no setor, cada vez mais dinâmico e competitivo.