A estiagem que volta a afetar estados da região Norte do País fez soar o alerta sobre possíveis dificuldades para o escoamento da safra, em especial a do milho 2024/2025 – com riscos de haver atrasos nos embarques e aumento nos custos de logística dos produtores que dependem do transporte de carga pelas rotas fluviais que fazem conexão com portos do Arco Norte.

Desde o início do mês de junho, o nível do rio Madeira, que é rota de escoamento da produção de grãos dos estados do Mato Grosso e de Rondônia, diminuiu mais de três metros na altura de Porto Velho, segundo informações da Defesa Civil Municipal – tendo atingido em 18 de junho o menor nível do ano.

O leito mais baixo também afeta a travessia pelos rios Acre, Amazonas, Solimões e Tapajós. E a expectativa dos especialistas é de que esse processo continue até setembro, quando a região Norte terá o auge da estiagem – ampliando o impacto no transporte de cargas agrícolas por essas rotas.

Para driblar o impacto na navegação e transporte de cargas por meio fluvial, o governo federal autorizou na semana passada a execução de dragagem em dois pontos do Rio Madeira, que abrange o plano de manutenção da hidrovia que liga Porto Velho (RO) a Manicoré (AM).

Os valores dessa dragagem não foram divulgados, mas os editais para realização do mesmo serviço nos rios Amazonas e Solimões vão contar com R$ 500 milhões.

Ao AgFeed, o sócio-proprietário da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin, explica que a seca impacta no volume dos carregamentos, obrigando que os produtores façam mais viagens – e gastem mais tempo - para transportar a produção por meio de barcaças – que operam com capacidade reduzida devido ao baixo leito dos rios.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os índices de chuva estão abaixo da média em Rondônia. Em Porto Velho, por exemplo, ainda não houve acumulado de chuvas em junho. Essa redução das precipitações teve início em maio, quando começou a transição da estação chuvosa para a estação seca na região Amazônica.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), quase 92% do milho da safra de verão já foi colhido. Da safrinha, o avanço da colheita sobre a área plantada é de 28%, com destaque para o Mato Grosso, onde a colheita foi feita em 40% da área. Tocantins colheu 25% e Mato Grosso do Sul e Goiás 12% cada um.

Mas conforme a colheita avança, aumentam as preocupações com os custos de logística. “Como 80% do escoamento do milho safrinha do Centro Oeste é feito por Santos e pelo Arco Norte, o aumento da dificuldade de escoar a produção impacta os custos, especialmente, do milho para exportação”, diz Vanin, da Agrinvest, mencionando que o preço do milho brasileiro está cerca de 30 centavos por bushel acima da paridade de exportação.

Análise do Itaú BBA, com base nos dados sobre as exportações brasileiras da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), mostra que a safrinha de milho começou a chegar em maiores volumes aos portos, com um total de 420 mil toneladas embarcadas em maio – um aumento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado.

Já nas exportações de soja, o volume de grãos em maio foi 8,4% menor que o embarcado em abril e 13,7% abaixo em relação a maio de 2023.

“Não podemos afirmar com precisão que a estiagem vai reduzir as exportações, mas há um grande risco de impacto na rentabilidade”, disse Vanin, lembrando que o cenário deste ano é diferente do verificado no ano passado, quando houve quebra da safra de milho da Argentina e preços maiores praticados pelos Estados Unidos.

Para a atual temporada, além de a Argentina estar se recuperando, há mais estoques de milho nos Estados Unidos – o que tende a pressionar preços e aumentar a concorrência para o milho brasileiro, que perderia ainda mais competitividade com um eventual aumento dos custos logísticos em função da menor capacidade de escoamento pelo Arco Norte.

No ano passado, a seca na região já havia reduzido o volume de carga transportada pelas hidrovias do Norte do País. Além disso, havioa comprometido o calendário de plantio da safra de verão, o que trazia receio de desorganização na logística de escoamento na região. Segundo estudo da Esalq Log divulgado em dezembro passado, a estimava era de que os custos logísticos da safra pudessem subir até 15% em função dos gargalos para escoamento.