De agora até março do ano que vem, a Região Nordeste pode importar cerca de 150 milhões de litros de etanol anidro para evitar que falte combustível aos consumidores. Essa é a perspectiva divulgada pela Argus, empresa especializada em análise de dados sobre commodities.

Segundo a empresa, grandes grupos produtores já estariam negociando essa compra junto a fornecedores do Paraguai e dos Estados Unidos. “Ouvimos que já foi fechado, mas quem vai mostrar se de fato aconteceu são os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio”, disse o editor de Combustíveis para o Mercado Brasileiro da Argus, Amance Boutin.

A produção nordestina de etanol anidro, entre janeiro e agosto deste ano, somou 321 milhões de litros, enquanto a demanda chegou a 1,7 bilhão de litros, deixando uma diferença acima de 1,3 bilhão de litros. Os dados são da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgados pela Argus.

No ano passado, o déficit foi de 1,43 bilhão de litros de etanol anidro, levando-se em conta que a produção local atingiu 1,07 bilhão de litros, enquanto o consumo atingiu a marca de 2,5 bilhões de litros.

Segundo Boutin, trata-se de uma questão estrutural com fatores conjunturais. “Este ano, tivemos uma safra mais açucareira. Se o açúcar está pagando melhor, a usina não vai privilegiar o etanol”, disse o especialista.

Ainda que o produtor escolha o combustível ao açúcar, tende mais a optar pelo hidratado. “É o que paga mais rápido, à vista, acaba se tornando uma boa opção.”

Também pesa nessa decisão pela importação o período de entressafra da região Centro-Sul, por isso as compras do etanol no mercado externo estariam escalonadas apenas até o mês de março de 2025.

Além de não haver o combustível suficientemente disponível no mercado interno, o custo não seria competitivo o bastante, ainda mais frente à curva descendente de preços do etanol nos Estados Unidos para os próximos meses, conforme a Argus.

No caso da compra do etanol anidro via Paraguai, há a vantagem tributária pelo fato de o país fazer parte do Mercosul. Portanto, não há cobrança de imposto de importação. Para os norte-americanos, essa taxação é de 18%.

A equação toda envolve ainda as perdas provocadas nos canaviais pelas queimadas, principalmente em São Paulo. Segundo a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), mais de 181 mil hectares de cana foram atingidos pelo fogo, causando prejuízos de R$ 1,2 bilhão aos produtores.

Agora, o problema tem sido o aumento das chuvas, que dificultou a operacionalização da colheita em Goiás, Minas Gerais e regiões central e noroeste de São Paulo, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).

O monitoramento da entidade mostra que, na segunda quinzena de outubro, a moagem de cana pelas unidades produtoras da região Centro-Sul foi de 27,17 milhões de toneladas, enquanto no mesmo período da safra anterior chegou a 34,66 milhões, uma retração de 21,62%.