Com o El Niño atrapalhando a produção de soja no Brasil, a cultura do algodão tem sido vista como uma espécie de “salvação da lavoura”, pelo menos para empresas e produtores de grande porte que conseguem fazer essa migração em suas áreas.

Isso trouxe a perspectiva de um aumento significativo na produção de plumas de algodão na safra 2023/2024, que está no começo, no caso dessa cultura. E a projeção é que o Brasil ganhe força na “briga” com os Estados Unidos em produção e exportação.

Se na produção o cenário se apresenta favorável em 2024, os preços do algodão começam a levantar incertezas. Neste final de 2023, houve uma queda na demanda pelo produto, e as cotações nacionais e internacionais começaram a cair.

Na produção, as projeções do Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, são de que o Brasil tenha um crescimento de 24%, chegando a 3,2 milhões de toneladas.

A produção americana vai na direção oposta, caindo 10%, e ficando em 2,8 milhões de toneladas, segundo as projeções do órgão.

“Se a projeção se confirmar, além de o Brasil ultrapassar os Estados Unidos na produção de algodão pela primeira vez na história, passará a ocupar o terceiro lugar no ranking de maiores produtores mundiais”, diz o Itaú BBA em seu relatório mensal de novembro.

Com a projeção de produção nos EUA, o volume a ser exportado pelo país também entra em trajetória de queda.

“Com isso, os embarques brasileiros da pluma devem seguir favorecidos, contribuindo com a consolidação do Brasil como segundo maior exportador global e cada vez mais próximo dos americanos, que seguem líderes nos embarques”, afirma o Itaú BBA.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a média diária de vendas ao exterior em dezembro supera as 12 mil toneladas, 50% a mais que o volume apurado no mesmo mês de 2022.

A expectativa da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) é que a safra 23/24 tenha um volume de 2,5 milhões de toneladas em exportações, superando em 1 milhão de toneladas os números de 22/23.

Esses números são alimentados pela opção de alguns grandes produtores de diminuírem áreas para plantar milho e até mesmo soja, e elevar os hectares destinados ao algodão.

Foi o que anunciou a SLC no começo de dezembro. A empresa decidiu diminuir a área de soja em pouco mais de 16 mil hectares, e aumentar a de algodão em quase 17 mil hectares. No caso do milho, o corte foi de quase 8 mil hectares. O movimento foi provocado pelo fenômeno climático El Niño, que provocou chuvas abaixo da média histórica no Mato Grosso.

A mudança não foi bem recebida pelo mercado. Os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, da XP Investimentos, estimam um efeito negativo de 8,8% no Ebitda da SLC para a safra atual.

Francisco Queiroz, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, ressalta que a demanda de algodão está muito atrelada ao crescimento econômico. “Há uma expectativa de aumento de consumo, mesmo com PIB global avançando menos de 3%”, afirma. O banco projeta um aumento de 4% no consumo global de algodão até o fim da safra 2023/2024.

Esse cenário favorável na produção e na demanda pode não ser seguido pelo preço. Segundo levantamento da Secex, o valor médio da pluma exportada em outubro foi de US$ 1.930 a tonelada, queda de 1% ante setembro e de 8% na comparação com o mesmo mês de 2022.

O Itaú BBA lembra que as projeções de crescimento para a economia global foram revisadas ligeiramente para baixo, de 3% para 2,9%.

O banco lembra que entre 2001 e 2007, a economia global cresceu, em média, 4,4%. Entre as safras 2001/2002 e 2007/2008, o processamento de algodão cresceu 4,4% por ano, em média.

Entre 2012 e 2019, período que inclui o início da recuperação após a crise financeira de 2008 e que antecede a pandemia de Covid-19, a economia mundial cresceu 3,4%, e a produção de algodão aumentou, em média, 2,1% ao ano, segundo o USDA.