Em 2026, a multinacional francesa fabricante de produtos veterinários vai comemorar 15 anos de negócios no Brasil. Parece pouco para quem tem uma história quase centenária – a companhia familiar foi criada há 92 anos. Mas já o suficiente para colocar o País no foco da sua estratégia de exportações para o resto do mundo.

Segundo disse ao AgFeed o diretor do Grupo para América Latina e Canadá e diretor da Vetoquinol Brasil, Jorge Espanha, a companhia deve manter o fluxo de investimentos na filial brasileira, mais especificamente na fábrica de Aparecida de Goiânia (GO) para, “em um futuro breve”, transformá-la também em uma base para abastecimento de outros mercados.

“A gente vem fazendo investimentos na parte industrial, em média, de R$ 5 milhões a cada ano”, afirmou Espanha. “E temos planos de trazer mais R$ 20 milhões nos próximos anos para fazer a capacitação da nossa indústria não só para atender o mercado brasileiro mas também o mercado mundial”.

O desempenho da operação brasileira justifica os aportes. Em 2024, as vendas globais da Vetoquinol somaram € 539 milhões, com um crescimento de 2,2% em receita sobre o ano anterior.

A companhia não divulga números específicos por país, mas segundo Espanha, o ritmo de crescimento por aqui está bem mais veloz, ficando em torno de 16%.

“Crescemos o dobro do mercado brasileiro de medicina veterinária”, disse. “E em grandes animais, a gente cresceu três vezes o mercado”.

Esse resultado é particularmente comemorado pela relevância do segmento de grandes animais – que envolve, por exemplo, as pecuárias de corte e leiteira, que representa 85% do negócio da empresa no Brasil.

No ano passado, segundo ele, houve uma redução de volumes nessa categoria, provocada por menores investimentos dos pecuaristas em função do menor preço do boi e também de redução nas ações de manejo do gado por parte dos pecuaristas.

Embora a Vetoquinol não atue no segmento de vacinas, a empresa diz que, para o mercado como um todo, o fim das campanhas de vacinação contra a febre aftosa trouxeram um efeito colateral que foi a redução de uso de outros produtos, já que se aproveitava o momento da imunização para a aplicação de diferentes medicamentos.

Um exemplo citado por ele ocorreu no uso de antiparasitários internos e externos dos animais, que caiu em 2024. Mas, segundo Espanha, já reagiu “de forma expressiva” no início de 2025, com a alta dos preços do boi e a consciência de que, sem a aftosa, as exigências sanitárias por parte dos compradores internacionais de carne ficarão ainda maiores.

“O boi que não estava pronto demorou mais pra ir pro gancho e aí é perda de dinheiro. Então, o produtor rural se deu conta que o programa de controle parasitário é tão importante quanto o programa de controle de vacinação”, disse.

“Ter o país livre da aftosa sem vacinação é positivo, porque abre outras portas de maior exportação. Tem alguns mercados que estavam aguardando só essa certificação”, avaliou. “E isso traz impacto no aumento da tecnificação, porque a expansão para mercados mais exigentes vai demandar maior uso de produtos veterinários”.

De forma geral, o mercado de produtos veterinários cresceu, no Brasil, 4,5% em receitas no ano passado, o que ele considera baixo, sobretudo se considerar que houve um aumento médio de preços entre 3% e 5%, o que poderia indicar perda de volume no segmento.

A Vetoquinol, entretanto, registrou alta superior a 13% nesse segmento. Espanha atribuiu esse desempenho à expansão da presença da marca no mercado nacional, à ampliação do portfólio e à maior qualificação das equipes de venda.

Com os investimentos na fábrica de Aparecida de Goiânia, a empresa desativou outra unidade, que funcionava em Mairiporã, na Grande São Paulo. A consolidação em uma única planta permitiu, segundo ele, um ganho de eficiência, com uma maior escala.

Hoje, saem de Goiás 80% dos produtos comercializados pela empresa no Brasil. A fábrica, de acordo com o executivo, “é uma planta muito específica que faz produtos farmacêuticos, semissólidos, brincos mosquicidas”.

Ali, são produzidas cinco categorias de produtos, com a combinação de conhecimentos e tecnologias brasileira e estrangeira. A experiência brasileira de pecuária em ambiente tropical, por exemplo, tem sido compartilhada com outras filiais que produzem em condições semelhantes.

“Sem dúvida nenhuma, o Brasil hoje é um dos países que mais tem interferência e influência na estratégia global do grupo, principalmente pecuária de corte”, ressaltou Espanha.

Internamente, Espanha vislumbra oportunidades interessantes para expansão dos negócios da empresa. A visão da empresa é de que, na pecuária de corte, o Brasil caminha para se transformar no maior produtor e o maior fornecedor de carnes bovinas do mundo, com sua participação saltando de 8% para 11% do mercado até 2050, segundo diz o diretor, citando dados da FAO.

Ele acredita que deve haver crescimento também na pecuária leiteria, além de oportunidades na avicultura e na suinocultura.

A Vetoquinol está atenta também à evolução rápida do mercado de produtos veterinários para pets. “É o mercado que mais cresce no País”, afirma. Dados do Sindan, sindicato que reúne as indústrias de saúde animal no Brasil, apontam que esse segmento já representa 25% dos R$ 11 bilhões faturados pelo setor anualmente. Quinze anos atrás, segundo Espanha, eram apenas 10%.

“Esse mercado de animais de companhia, com novos tecnologias e alimentos, vai continuar a ser modernizado”, disse. Para as empresas, trata-se de uma oportunidade de obter grandes margens, já que o custo dos tratamentos é alto e, segundo Espanha, as famílias costumam tratar seus pets com a última geração de produtos.

“Isso traz o maior crescimento do mercado, que é o que se vislumbra em todas as principais empresas do mercado”, completou.

Resumo

  • Um dos dez maiores do setor no mundo, grupo familiar francês faturou € 539 milhões em todo o mundo
  • No Brasil, crescimento no ano passado foi de 16%, o dobro do mercado. No segmento de grandes animais, vendeu 13% mais, o triplo da média
  • Depois de unificar produção em Aparecida de Goiânia (GO), novos investimentos na unidade visam deixá-la em condições de exportar para outros países