Distribuidora de tudo quando se pensa em eletrônicos, de antenas a cabos de fibra óptica, a UP2Tech chegou ambiciosa querendo fazer negócios com o agro. No ano passado, deu início à comercialização do iBoi, um brinco digital com conectividade 4G e GPS, que consegue rastrear todos os passos das cabeças de gado no rebanho.

Para dar mais tração ao projeto, a UP2Tech planeja agora transformar o iBoi em uma spin-off a partir do próximo ano, criando uma empresa à parte, com estrutura organizacional e financeira independentes. A expectativa é que, com essa mudança, a nova companhia alcance a marca de 1 milhão de brincos em operação em fazendas de todo o Brasil nos próximos três anos.

À frente do voo solo estará um nome já conhecido no mundo da agricultura digital: Felippe Antonelle, ex-executivo de companhias como Jacto e Totvs e criador da Solis, operadora de internet 4G privada com foco no agro.

Antonelle assumiu em abril passado o cargo de vice-presidente executivo da UP2Tech e já recebeu a missão de "desmamar" o iBoi fazê-lo crescer e caminhar com as próprias pernas.

"A ideia é que o pecuarista nos olhe como uma empresa de tecnologia do agro, não como uma empresa de distribuição de eletrônicos", afirma o executivo, que será sócio do CEO da UP2Tech, Rodrigo Abreu, o Kalu, na nova empresa.

Até o momento, o iBoi vinha sendo comercializado sem um lançamento oficial, que foi feito na semana passada durante o GAFFFF, evento em São Paulo (SP), onde a empresa montou um estande.

Segundo Antonelle, 80 mil brincos já estão em operação nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A meta da UP2Tech é alcançar a marca de cerca de 250 mil brincos ativos até o fim deste ano.

Antonelle não revelou a receita prevista para o ano. No ano passado, em entrevista ao AgFeed, o CEO da UP2Tech, Rodrigo Abreu, disse que a expectativa era de que o faturamento com o iBoi chegasse a cerca de R$ 200 milhões já neste ano.

Apesar do crescimento, o negócio foi ganhando tração aos poucos, a partir de testes que foram feitos em diferentes propriedades, como o projeto Fazenda Conectada, da TIM e da Case IH, em Água Boa (MT), e uma propriedade do frigorífico Frisa, em Nanuque (MG).

"A gente precisava ter segurança que esse brinco não ia cair, não ia machucar o animal, que se ele engarranchasse na cerca, ele não ia ficar preso ali e ia machucar o animal. Tivemos diversas fases para conseguir ganhar escala e ter segurança em soltar o produto em uma escala comercial", diz Antonelle.

As vendas foram ganhando mais intensidade e, agora, a empresa se sente preparada para separar a operação da empresa-mãe e alcançar a meta de 1 milhão de brincos ativos em 36 meses.

"Nossa ambição é fazer do iBoi uma agtech referência em pecuária 4.0", sintetiza o vice-presidente executivo da UP2Tech.

Ainda que ressalte que o iBoi pode ser utilizado em cabeças de gado em todas as fases do ciclo da pecuária, o foco é atender pecuaristas que trabalham com a terminação dos bovinos.

"Quando a gente fala de engorda, seja na terminação intensiva a pasto (TIP) ou no confinamento, há um gasto muito intensivo de dinheiro porque você vai produzir ração, vai levar o boi pro confinamento e o animal monitorado pode servir como garantia para o banco e também para o frigorífico saber a origem desse animal", afirma Antonelle.

Antonelle diz que o modelo de comercialização funciona de duas formas. Na primeira, que ele chama de “capex e opex”, cada brinco custa R$ 199, e também a cobrança de uma mensalidade de R$ 3,90 por cada brinco usado e conectividade já inclusa, seja de operadoras de telecomunicações do mercado como Claro, Vivo e Tim ou de redes privadas.

No outro, que ele diz ser 100% opex, seria cobrada uma mensalidade a partir de R$ 7,11 por cada animal monitorado, sem a aquisição do brinco.

A UP2Tech está desenvolvendo também um brinco que transmite as informações via satélite. Hoje, o equipamento carrega consigo um eSIM (chip virtual) capaz de se conectar com a frequência 4G de redes de telefonia.

Antonelle, Kalu e a equipe de engenharia já estão com viagens marcadas para países como Estados Unidos e China para desenvolver o projeto do novo brinco, ainda sem data para ser lançado.

"O brinco vai transmitir o dado diretamente por satélite. É algo que ninguém fez, não existe nenhum brinco hoje que se comunica diretamente por satélite e é por isso que a gente não sabe o tempo de lançamento, se vai demorar um ano, dois anos, três anos", diz Antonelle.

O executivo da UP2Tech diz que a empresa segue acreditando na internet 4G para conectar seus brincos à rede, mas pondera: "Só com o 4G a gente não vai atingir os 235 milhões de animais que a gente tem no Brasil por falta de conectividade.”

Outra frente que a UP2Tech pretende desenvolver com mais força é a de software. "Muito se fala de hardware e pouco se fala de softwares", resume Antonelle.

Hoje, o iBoi já tem uma plataforma em que há o controle da propriedade no modelo de cercas virtuais, verificando se os animais não perderam seus brincos, além de outras informações como o ganho médio diário dos animais.

"Você dá entrada nesse boi dentro da propriedade e, no sistema, abastece a guia de transporte desse animal e depois consegue controlar todo o ciclo de vida até o momento de desbrincagem dele", afirma Antonelle.

Agora, a ideia é agregar na plataforma também a inserção de informações como vacinas e genética do animais, além de um sensor de monitoramento da quantidade de água nos coxos.

"Com a fazenda conectada, podemos levar uma série de IOTs para dentro da fazenda. A ideia é que seja uma plataforma que não tenha apenas os dados coletados no brinco, mas também apoiando a gestão do manejo da pecuária", afirma.

A ideia de Antonelle é que os projetos do iBoi – e o próprio desenvolvimento da empresa – sejam desenvolvidos com recursos próprios. O executivo não projeta rodadas de investimento ou a entrada de investidores na empresa.

Resumo

  • Distribuidora de eletrônicos UP2Tech deu os primeiros passos no agro no ano passado com o iBoi, brinco digital com GPS e 4G para rastreamento de gado
  • Empresa já tem 80 mil unidades em operação e agora será transformado em uma agtech independente
  • Agtech tem como meta fechar o ano com cerca de 250 mil brincos em operação e pretende alcançar 1 milhão de brincos ativos em até três anos