Rio Brilhante (MS) - Há um ano e meio, quando lançou, a partir do Brasil, uma estratégia global para seus produtos de pecuária de precisão sob a marca FarmTell. a dsm-firmenich foi clara ao traçar suas primeiras metas para a linha de produtos digitais, nascida com a compra, um ano antes, da mineira Prodap: se firmar no Brasil e crescer para mercados promissores como Uruguai, Paraguai e México.
Em países com rebanhos consolidados, onde a companhia já tinha seu o braço de produtos de nutrição animal, a Tortuga, está presente há décadas e a área de consultoria já atua, a missão dada em outubro de 2023 tem sido cumprida à risca, de acordo com executivos da dsm-firmenich.
Com quase uma dezena de softwares de gestão de propriedades, confinamentos e rebanhos, além de uma plataforma de inteligência artificial, a FarmTell tem crescido de 20% a 30% ao ano desde então.
“No Brasil e Uruguai estamos estabelecidos, no Paraguai já estamos presentes há mais de três décadas e somos líderes do mercado”, disse ao AgFeed Tiago Sadella Acebo, head de marketing da dsm-firmenich, durante dia de campo da companhia em Rio Brilhante (MS), nesta quinta-feira, 24 de abril.
“Mas o México é um mercado muito tecnificado e excelente para nossos produtos”, completou Acebo, que gosta de usar o país como um exemplo de mercado em que os produtos da FarmTell têm ido “muito bem”.
Com pouco menos de 40 milhões de cabeças, o México adota um modelo de pecuária tecnificado, com bovinos confinados desde a desmama, assim como nos Estados Unidos.
Com isso, consegue abater 8 milhões de cabeças por ano, volume semelhante ao do Brasil, que tem um rebanho quase seis vezes maior, mas que prioriza a produção pecuária a pasto.
Curiosamente, levar essa tecnologia de ponta já disseminada nos confinamentos para essa pecuária raiz é o maior desafio da FarmTell, segundo o executivo da dsm-firmenich.
“Faz parte da própria cultura da pecuária de pasto, onde é mais difícil e há mais restrição para implantarmos qualquer tecnologia nova”, explicou Acebo.
Clientes, mas nem tantos
Para o gerente de confinamento para América Latina da dsm-firmenich, Walter Patrizi, a linha de produtos digitais chegou para ser aliada às linhas de produtos da Tortuga e da consultoria da companhia.
Mas, segundo ele, muitos dos clientes da FarmTell não usam os produtos Tortuga e nem a consultoria da companhia durante o processo.
“Isso é um ponto positivo, já que as informações disponibilizadas pelos softwares e pela inteligência artificial podem ser nossas aliadas para mostrarmos que, realmente, nossos produtos são os mais eficientes a partir da comparação feita pelo próprio pecuarista. É o clássico ‘ver para crer’”, explicou Patrizi.
Segundo ele, apesar de a linha de produtos digitais reduzir o tempo e a necessidade de mão-de-obra aplicada na captação das informações nas pastagens e em confinamentos, a qualidade dos dados gerados pelo processo se tornou um desafio para os clientes.
“A tecnologia tem aumentado o trabalho na outra ponta, já que a quantidade de informação é tamanha que precisa de mais profissionais para analisá-la e, principalmente, tomar a decisão certa”, explicou.
Laboratório vivo
Na sede do Centro de Inovação Tortuga, na fazenda Caçadinha, em Rio Brilhante, além da propriedade, onde a reportagem do AgFeed conversou com os especialistas, a tecnologia aplicada à pecuária é presente em cada canto.
Mesmo com o dia chuvoso na região sul-mato-grossense, o confinamento, um dos maiores de pesquisa do País com mais de 300 animais, estava em operação.
Parte da unidade é uma área de “confinamento digital”, com uma baia de alimentação liberada pelo próprio animal e com medição em tempo real da quantidade ingerida e do comportamento dos animais.
Cada um é considerado um indivíduo para estudo. Outra área é mais comum, com vários animais se alimentando ao mesmo tempo, mas com o destaque para chips nos cochos capazes de monitorar a quantidade de alimento fornecida por meio de uma conexão com os transbordos.
Nas áreas de pesquisa de pasto, sistemas semelhantes também medem a alimentação e e há até mesmo uma estação para captar a eructação, como é conhecido o arroto bovino, o maior vilão das emissões na pecuária.
“O processo de aculturar uma fazenda para essa nova tecnologia demora mais de um ano, mas os ganhos mostram que é irreversível”, concluiu Patrizi, da dsm-firmenich.