“Estamos utilizando uma molécula proveniente de alimentos desperdiçados para melhorar o cultivo de novos alimentos”. Esse é o resumo que Matias Figliozzi, CEO da startup argentina Unibaio, fez sobre o seu negócio.
Mais especificamente, a agtech criada por ele e pelas cientistas Vera Álvarez, Claudia Casalongue, Daniela Caprile e Florencia Salcedo desenvolveu, a partir de resíduos obtidos das cabeças de camarões, outros crustáceos e até insetos, um polímero natural que pode ser utilizado para otimizar a ação defensivos químicos e biológicos.
Delas, a Unibaio extrai a quitosana, que, sintetizada, origina o produto da startup, que já atraiu a atenção de pelo menos sete multinacionais de agroquímicos – entre elas, a indiana UPL e a marroquina OCP.
No modelo de negócio B2B, a empresa vende sua solução para que essas companhias o insiram na formulação de alguns químicos, a fim de diminuir os impactos ambientais das moléculas sintéticas e também otimizá-las. No caso dos biológicos, a ideia é também melhorar o efeito do produto.
Figliozzi conversou com o AgFeed durante o World Agritech South America Summit, realizado em São Paulo, e detalhou os próximos passos da empresa.
Ele revelou que a agtech está buscando US$ 2 milhões em uma rodada de investimento do tipo seed, com a intenção de entrar no mercado brasileiro e passar a vender também de forma direta a produtores.
O executivo afirmou que a rodada deve ser liderada por um player brasileiro, mas que deve contar com investidores estadunidenses e australianos.
Até agora, a empresa já levantou, entre uma rodada pré-seed, alguns complementos e acelerações, um total de US$ 850 mil. Dentre os investidores estão a Bioceres e a IndieBio, fundo de investimento focado em biotecnologia dos EUA.
“Estamos começando a conhecer o processo regulatório para testá-lo no Brasil. Se for amigável como entendemos que seria para o nosso tipo de produto, gostaríamos também de começar a vendê-lo no país já no próximo ano”, explicou o CEO.
A ideia, em terras brasileiras, é iniciar já com o modelo B2C, vendendo direto para produtores, que vão misturar a nanocápsula que contém a solução da empresa nos tanques agrícolas.
Além da demanda sentida pela empresa no Brasil, ele vê que a adoção elevada de biológicos no país pode ser uma aliada para ganho de escala por aqui.
No modelo B2C, além de vender para a OCP e para a UPL, o executivo mencionou que trabalha com empresas alemãs, japonesas e americanas, mas que já há conversas com algumas produtoras brasileiras de fertilizantes em andamento.
A ciência por trás da startup foi feita pelas fundadoras Claudia Casalongue e Vera Álvarez. Enquanto a primeira se dedicou a estudar a reação de plantas submetidas a algum tipo de stress, a segunda é uma especialista em nanotecnologia.
O CEO explica que, com a evolução natural das plantas ao longo do tempo, os vegetais passaram a identificar insetos e fungos como ameaças.
Dessa forma, quando detectam essas moléculas no ambiente, se fortalecem numa reação natural de resistência.
“Esses compostos presentes nos crustáceos e alguns insetos ativam o sistema hormonal da planta. E, estudando esse fenômeno, notamos que a reação poderia fazer com que cultivos absorvessem melhor o que é aplicado”, explicou Matias Figliozzi.
Com essa otimização na absorção de nutrientes, há uma economia no uso de produtos e, por consequência, menos dejetos químicos no solo.
A Unibaio surgiu na Universidade de Mar del Plata, localizada no litoral argentino e onde Claudia Casalongue, que é CTO da empresa, fez sua carreira acadêmica.
Além de especialista no agro, a executiva é filha de um piloto de aviões agrícolas, que no país são chamados de “mosquitos”.
“A motivação dela sempre foi encontrar uma forma mais sustentável e ecológica de cultivar sem usar tantos produtos químicos. E ocorreu a ela, enquanto estudava as plantas que ele poderia usar a quitosana, um material biológico muito comum, para criar essa otimização”, explicou o CEO.
Com a expertise de Vera Álvarez, a Unibaio hoje comercializa uma partícula modificada em nível microscópico, para maximizar os efeitos. A tecnologia é própria e patenteada pela agtech.
“Adicionamos várias camadas diferentes para aumentar a probabilidade de as moléculas ativas em um pesticida, por exemplo, aderirem à nossa partícula”.
Segundo Figliozzi, a partícula pode não funcionar a depender do produto químico utilizado em conjunto, mas não possui restrição de culturas.
Ele conta que a solução da Unibaio já é utilizada com glifosato, mancozebe e junto de nutrientes como fósforo e nitrogênio. “Conseguimos um mercado grande só com esses produtos”.