Quando Aline Azevedo, Marco Perlman e Bruno Schrappe resolveram criar a startup Aravita, entre 2022 e 2023, um dado chamou a atenção dos fundadores: um terço dos alimentos produzidos no mundo é jogado fora. Quando falamos de produtos frescos, a porcentagem bate os 50%.

Os fundadores, que atuam como CPO, CEO e CTO, respectivamente, uniram suas expertises prévias variadas e criaram a empresa, que se dedica a utilizar inteligência artificial a ajudar as redes supermercadistas a comprar produtos de forma mais assertiva, e dessa forma, economizar dinheiro e evitar o desperdício.

Na prática, a empresa usa a IA para impedir que os alimentos frescos comprados pelas redes vão para o lixo ou deixem de ser vendidos nas gôndolas em suas condições ideais.

A IA combina dados históricos dos supermercados, de compra, venda, fornecimento etc. com dados externos como indicadores macroeconômicos, calendários de datas festivas, dados de concorrentes, dados do mercado agrícola e de produção.

“Não entregamos os dados e sim a decisão que levará à compra do supermercadista. Levamos em conta a previsão de demanda, que também é feita com IA, entendemos o estoque e criamos um tipo de estoque preditivo, prevendo a parte da cadeia de suprimentos e a melhor escolha de fornecedor”, explicou a fundadora Aline Azevedo ao AgFeed.

Nesse primeiro momento da empresa, que roda numa espécie de projeto piloto, duas varejistas estão testando a solução. Uma delas é a St. Marche, rede de supermercados premium com 31 lojas na capital e grande São Paulo.

Até agora, de acordo com a startup, os testes com algoritmos de previsão de demanda proprietários da Aravita tiveram performances duas vezes melhor que os algoritmos usados anteriormente pela empresa.

A outra companhia que faz parte do projeto piloto não foi revelada, mas Azevedo comentou que se trata de uma rede de mercados que atua em periferias de grandes cidades.

Se de um lado produtos industrializados e embalados lidam com mais tecnologias de conservação, os produtos frescos e, especificamente no caso da Aravita, as frutas, verduras e legumes (FLV), já contam com menos opções. É nesse ponto que a Aravita entra com a solução.

O foco atual da empresa, segundo explicou a CPO, é concretizar e entregar os primeiros resultados pilotos finalizados, para comprovar a melhora operacional e a diminuição do desperdício. Depois disso, a ideia é alçar novos voos. “Conquistar novos clientes faz parte do nosso plano com esse produto rodando”.

Além de aumentar a cartela de clientes, Azevedo disse que uma das ideias da Aravita é ampliar a gama de produtos frescos do mercado atendida pela solução e também ampliar o escopo da cadeia, dando um passo atrás e chegando até os produtores.

“Organizar a cadeia de suprimentos de uma maneira preditiva é algo que os supermercados querem fazer, para tornar tudo mais previsível. Hoje, isso não é ‘linkado’ e existe pouca transparência. Queremos ampliar essa cadeia e digitalizá-la”, afirmou a co-fundadora.

A empresa foi oficialmente criada no final de 2022, mas ganhou a tração atual a partir do primeiro trimestre de 2023, quando recebeu uma rodada seed de investimentos.

Foram R$ 12 milhões levantados, numa rodada liderada pela Qualcomm Ventures e pela argentina 17Sigma.

Também participaram do movimento gestoras como a DGF Investimentos, Alexia Ventures, BigBets, Nortee Capital, Bridge e RG Nutri e investidores-anjo como Bernardo Lustosa, ex-CEO da ClearSale, e Flávio Jansem, ex-CEO da Locaweb e da Submarino.

A ideia de colocar a IA no negócio veio do CTO e fundador, Bruno Schrappe, que tinha uma vasta experiência em ciência de dados. Do outro lado, Azevedo sempre atuou na área de produtos de grandes empresas, incluindo a Ambev, onde fazia justamente parte do time que interagia com os supermercados.

O CEO Marco Perlman já veio de um mundo mais distante. Ele fundou em 2004 a Digipix, uma empresa dedicada à impressão de fotos. Ele atuou como CEO até o final de 2022, quando entrou para o conselho e passou a se dedicar à Aravita.

A escolha do setor de alimentos veio de encontro com o desejo dos fundadores de achar um segmento que tivesse um impacto ambiental e também econômico.

“A Aravita surge de uma grande vontade de criar algo que pudesse desentortar o mundo, como nós dizemos internamente. Especialmente no Brasil, além do aspecto ambiental, o fato de sermos um País que mais da metade da população tem algum tipo de insegurança alimentar mexe muito conosco”, finaliza.