A negociação de bovinos e equinos é um mercado bilionário no Brasil. Grande parte das negociações de compra e venda de animais acontece de forma direta entre parceiros que já se relacionam, por meio de leilões ou anúncios em plataformas como OLX e Mercado Livre, por exemplo.

Um grupo de empresários do Sul do Brasil acredita, no entanto, que há grande potencial para “formalizar” essas transações em um ambiente digital construído especialmente para este fim. E colocaram suas fichas na Negócio Animal, uma plataforma que acaba de ir para o ar e realizar sua primeira negociação, que funcionou como um teste.

“Estamos com 100 criadores cadastrados, e por enquanto, o acesso só pode ser feito por convite”, conta Gustavo Pereira, um dos quatro sócios da startup.

Três deles têm, como descreve Pereira, o “pé no curral”. Ele mesmo, empreendedor no ramo de tecnologia e fundador da Scale System – empresa de desenvolvimento de softwares que já atendeu empresas como a Universal Studios e a Levi’s – é filho de um pecuarista do interior de São Paulo, com criação de bovinos da raça Nelore.

Outro sócio que vem do ramo de tecnologia é Robson Parzianello, cofundador do Farmácias APP, também de uma família de agricultores e pecuaristas do interior do Paraná. Hoje, ele tem criação de cavalos e de gado para corte.

Jonathan Mondini é advogado, sócio do escritório Capeletto, Bertolli, Mondini & Maziero Advogados Associados, é criador de cavalos, proprietário do Rancho Garuva, em Santa Catarina. Sua família é proprietária do Haras Luis Alves, no mesmo estado.

O único sócio que não atua como criador de animais é Fabio Cardoso. Ele é médico e sócio do Grupo Noma, que atua no segmento de bares e restaurantes em Santa Catarina. Além disso, é investidor em startups.

Mesclando suas experiências pessoais no campo e nos negócios, os parceiros elaboraram um estudo de mercado que serviu como base para a criação da empresa, com estimativas para os primeiros três anos de operação.

“Esperamos ter 6 mil criadores de bovinos e 4 mil de equinos negociando efetivamente na plataforma, e acumular um faturamento de R$ 25 milhões em três anos”, conta Pereira. As projeções estão baseadas nos dados oficiais sobre este mercado de negociação de animais no Brasil.

Segundo o último levantamento do IBGE, realizado em 2021, o mercado de bovinos, que inclui compra e venda de animais e de equipamentos relacionados à criação, foi de R$ 77 bilhões.

No caso dos cavalos, o IBGE calculou uma cifra de R$ 16 bilhões. Mas a Esalq/USP afirma que o mercado relacionado a equinos já passou dos R$ 30 bilhões.

“Nós temos no Brasil mais de 230 milhões de bovinos, com 2,5 milhões de criadores. E cerca de 4,7 milhões de cavalos, com 1,1 milhão de criadores”, diz Pereira.

O CEO da Negócio Animal conta que a ideia de montar a plataforma surgiu das dificuldades enfrentadas por Mondini, um dos sócios, para comprar um animal.

“Ele encontrou na OLX, mas aí surgiu toda a burocracia para fechar o negócio. Foram duas semanas só para elaborar o contrato, e ainda ficou a dúvida de como seria feito o pagamento, já que a ideia era parcelar”, conta Pereira.

A sede da startup fica em Blumenau, Santa Catarina. E a ideia dos sócios é abrir a plataforma para qualquer usuário, sem a necessidade de convite, nas próximas semanas.

“A partir daí, vamos começar com essas verticais de negociação de animais e depois ampliar. Queremos ter 0,1% dos bovinos, ou cerca de 240 mil animais, e 1% dos equinos, ou 47 mil, em três anos”, diz Pereira.

Além de conectar compradores e vendedores, a Negócio Animal vai elaborar o contrato entre as partes e fazer a análise de crédito do comprador, quando houver a opção pelo parcelamento.

“Nós já temos disponíveis as opções de parcelamento com boleto e pagamento via pix. Já estamos montando a estrutura para pagamento com cartão de crédito”, afirma o CEO.

Ele diz que, no caso do pagamento do cartão, haverá a opção de pagamento recorrente, ou seja, não haverá o comprometimento do limite com a cobrança do valor cheio de uma única vez. “Poderemos cobrar uma parcela por mês no cartão”. Isso porque os valores envolvidos em negociação de animais geralmente são altos.

Por conta deste modelo de negócios, os contratos trarão instrumentos de cobrança que poderão ser acionados pelo vendedor. “Ela vai poder protestar o comprador que deixar de pagar parcelas. E ainda terá o direito de reserva, pelo qual o vendedor pode retomar o animal”, explica Pereira.

Na parte financeira, a Negócio Animal fechou parceria com o banco digital Asaas, que tem sede em Joinville, também em Santa Catarina.

“Como a logística nem sempre é rápida numa operação envolvendo animais, os valores pagos pelo comprador ficam retidos em uma conta digital aberta em nome do vendedor até que o animal esteja na propriedade de quem comprou”.

O mecanismo vale para pagamento à vista ou parcelado. No caso das parcelas, à medida que forem pagas, elas ficam nesta conta digital no Asaas até que as duas partes informem que o animal já se encontra com o comprador.

“Aí é feito um TED para a conta que o vendedor indicar. O dinheiro não passa pela Negócio Animal. Transita nesta conta digital sem a nossa interferência”, diz Pereira.

O único momento em que parte do dinheiro vai para a plataforma é no momento do pagamento da comissão. E segundo Pereira, ela é diluída nas parcelas recebidas pelo vendedor.

“Se a venda do animal é feita por R$ 10 mil, em 10 parcelas de R$ 1.000, e nossa comissão é de 10%, nós ficamos com metade das duas primeiras parcelas recebidas pelo vendedor”, explica o CEO.

Pereira afirma que a startup já prepara uma ampliação nos seus ramos de atuação. “Nós queremos abrir a plataforma para negociação de ovinos e caprinos. Estamos estudando as características para oferecer um ambiente compatível com esses animais”.

Outro plano da Negócio Animal é negociar produtos, e também oferecer serviços financeiros. “Pensamos em oferecer crédito para quem quer comprar com mais prazo que aquele oferecido pelo vendedor. E também fazer antecipação de recebíveis, com as parcelas a receber”.