No agronegócio, uma máquina parada pode custar caro. Seja pela mão de obra ou pelo prejuízo que uma operação causa na lavoura.
Nos últimos anos, companhias de máquinas têm investido para modernizar o atendimento e assistência técnica, mas as dificuldades do setor, como distância e conectividade, ainda se fazem presentes.
Foi vislumbrando esse gargalo que a Octágora, startup fundada em 2020, decidiu colocar o agro na prateleira de setores atendidos, que já conta com gigantes de mercados como energia, óleo e gás, bancos, construtoras e empresas de saúde.
Conhecida por atender gigantes como Claro, MRV, Comgás, Electrolux e EDP, a empresa agora também conta com um cliente no setor em operação: uma rede de concessionárias de máquinas agrícolas com presença em vários estados, incluindo São Paulo.
O movimento chega meses após a startup captar R$ 1,4 milhão com investidores em uma extensão de uma rodada, que, somando tudo, já garantiu R$ 3 milhões em recursos para a empresa vindos de investidores como B Venture Capital (BVC), a aceleradora WOW e a Domo (que já aportou em agtechs como Sensix, além da Trag, de seguro paramétrico).
A captação foi feita justamente para aumentar o poderio comercial e alcançar novos setores, como o agro.
Segundo revelou o CTO e cofundador da empresa ao AgFeed, Daniel Cussi, a entrada inicial no setor animou a operação, que já faz uma projeção ousada: em até um ano, o agro deve sair de participação quase simbólica e próxima do 1% para responder por 10% da operação.
“O valor associado ao agro é muito grande. As próprias máquinas têm alto valor e a mão de obra especializada é cara. O deslocamento, traslado, é alto, e com isso, o saving, também é alto”, afirma.
Criada pelos sócios Daniel Cussi, Celso Ricardo Rosa e Marcelo Izumi, a Octágora nasceu durante a pandemia com a proposta de transformar o atendimento técnico em uma experiência visual e remota.
Com óculos inteligentes, tablets ou celulares, técnicos de campo conseguem se conectar instantaneamente a engenheiros especialistas localizados a centenas de quilômetros, como se fosse uma “telemedicina das máquinas”.
“A percepção muda quando o mecânico entende que a tecnologia não o substitui, mas o conecta a um especialista que o ajuda a resolver problemas mais complexos. É quase como dar um superpoder ao técnico de campo”, comenta Cussi.
A entrada no agro, no entanto, expõe obstáculos típicos do setor. A escassez de mão de obra qualificada, a distância entre as fazendas e os grandes centros e a complexidade crescente dos equipamentos criam um ambiente em que o suporte técnico convencional é lento e caro. É nesse vácuo que a solução da Octágora tenta se firmar.
O mecanismo é simples para o usuário: o operador aciona um QR Code fixado na cabine da máquina e abre um canal direto com o engenheiro remoto. A câmera do dispositivo transmite em primeira pessoa o que acontece dentro do trator ou da colheitadeira, e o especialista guia o reparo com instruções visuais sobrepostas à imagem.
“É um suporte pro técnico encurtar essa distância. Esse suporte remoto acaba auxiliando a pessoa que está em campo, já que uma instrução por voz não é tão precisa”, acrescenta.
Por conta dessas particularidades, a Octágora deve chegar, na ponta final, a produtores já mais tecnificados, seja pelo fato de terem uma máquina com conectividade e um parceiro na concessionária ou pela presença de conectividade na fazenda, condição quase que sine qua non para a operação da startup acontecer.
Do lado econômico, o impacto é imediato. Cussi cita que chamados que antes exigiam deslocamentos longos podem ser resolvidos em poucas horas, e nos cálculos da empresa, reduzindo entre 40% e 50% o tempo de reparo.
Cada viagem evitada significa uma economia de R$ 3 mil a R$ 8 mil em diárias, hospedagem e logística, também de acordo com a companhia, que nem leva em consideração a perda de produtividade da máquina parada.
A solução também altera a relação entre fabricantes, concessionárias e produtores, de acordo com Cussi.
Para os primeiros, reduz custos de garantia e amplia a capacidade técnica sem inflar equipes. Para os agricultores, oferece a confiança de que haverá suporte imediato em momentos críticos da safra.
Ao mesmo tempo, segundo o CTO, ainda cria um banco de conhecimento, já que cada reparo registrado vira material para treinar técnicos e evitar reincidência de falhas.
Sem entrar em detalhes, Cussi citou que a empresa tem dobrado de tamanho nos últimos anos, patamar de crescimento que deve voltar a se repetir em 2025.
Resumo
- A startup Octágora, fundada em 2020, já com R$ 3 milhões captados e busca mais clientes ligados ao agronegócio, com foco em assistência técnica remota para máquinas.
- O setor agrícola deve sair de participação quase simbólica na empresa para representar 10% da operação em até um ano.
- empresa calcula que a tecnologia reduz em até 50% o tempo de reparo e traz uma economia entre R$ 3 mil e R$ 8 mil por chamado, criando ainda um banco de conhecimento para fabricantes, concessionárias e produtores.