Uma iniciativa apresentada nesta quarta-feira, 10 de setembro, em Denver, nos Estados Unidos, pode abrir as portas para que empreendedores de agtechs brasileiras tenham acesso a uma poderosa fonte de recursos para financiar seus passos iniciais.
A novidade foi batizada de H.A.R.V.E.S.T. AgTech, trocadilho que usa a palavra em inglês para colheita na sigla para Harnessing Agricultural Research and Venture Ecosystems for Sustainable Technology (Aproveitando a Pesquisa Agrícola e os Ecossistemas de Risco para Tecnologia Sustentável, em uma tradução livre).
Por trás do nome, estão marcas relevantes do capital nos Estados Unidos, como o banco Wells Fargo, instituição com quase US$ 2 trilhões em ativos, e o The Yield Lab Institute (YLI), organização sem fins lucrativos ligada à rede fundos de capital de risco com atuação global, inclusive no Brasil.
O instituto é um dos responsáveis pela operação da H.A.R.V.E.S.T., que é a versão atualizada de um antigo programa de apoio a startups financiado pelo Wells Fargo, a incubadora IN2.
O que muda, a partir de agora, é que o programa com dotação de US$ 55 milhões, antes pouco atento ao resto do mundo, passará a contar com um ecossistema global que, além dos Estados Unidos, vai contar com conexões e parceiros em outros países, como Brasil, Argentina, Reino Unido e Israel.
Além disso, o novo formato fechará mais o foco em startups em estágio inicial voltadas para tecnologias para a agricultura sustentável, como o próprio nome indica.
Criada em 2014, a IN2 tem um portfolio mais aberto, incluindo negócios em diferentes áreas mas relacionados sobretudo às energias renováveis.
A gestão era feita em conjunto entre o banco e o Laboratório Nacional de Energias Renováveis dos Estados Unidos (NREL), com participação também do Breakthrough Energy Discovery, programa de investimentos em iniciativas climáticas bancado pela Fundação Gates, de Bill Gates.
De um total de 77 empresas que receberam apoio - na forma de recursos para apoio a pesquisas e realização de pilotos, além de relacionamento com investidores e instituições -, 26 eram agtechs, com diferentes áreas de atuação, da biotecnologia ao desenvolvimento de sensores para agricultura digital.
Segundo o instituto, depois de incubadas no IN2, elas levantaram quase US$ 290 milhões em rodadas de follow-on, sendo que cinco deixaram o programa por meio de aquisição ou fusão.
O potencial, agora, é ainda maior para as agtechs. "Estamos confiantes de que este passo irá capacitar a YLI e seus parceiros a expandir o investimento em agtech, criar mais oportunidades para inovadores e ajudar a construir um futuro mais resiliente e adaptável", disse, em um comunicado, Sarah Derdowski, gerente do programa IN2 do NREL.]
"A YLI aprenderá com o sucesso da IN2 e garantirá que os elementos centrais do modelo comprovado permaneçam intactos, incluindo um conselho consultivo externo reconhecido internacionalmente, um processo robusto para selecionar coortes empresas e uma ampla rede de parceiros para encaminhar empresas para o pipeline”, acrescentou Stephanie Regagnon, diretora executiva do instituto.
Ao AgFeed, ela antecipou que o parceiro brasileiro no ecossistema do H.A.R.V.E.S.T. será o Corredor Agro, uma aliança que conecta iniciativas de inovação de cinco municípios de São Paulo: Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos, Piracicaba e São José dos Campos.
O Corredor reúne startups, centros de pesquisa, universidades, parques tecnológicos e programas de empreendedorismo, com a coordenação de entidades como a Embrapa, a APTA, o Sebrae/SP, os parques tecnológicos de São José dos Campos e Piracicaba, o Supera Parque, de Ribeirão Preto e o OnovoLab, de São Carlos.
“Estamos especialmente entusiasmados com este desenvolvimento, pois eles representam cinco ecossistemas em todo o Brasil”, afirmou Regagnon.
“Este novo programa ajudará a reduzir o risco de tecnologias promissoras para torná-las mais acessíveis à comunidade global de investidores”.
Para Vitor Mondo, supervisor de Ecossistemas e Inovação da Embrapa e um dos responsáveis pela coordenação do Corredor, a oportunidade abre, de fato, perspectivas para agtechs brasileiras.
“Essa iniciativa ajuda a criar conexões para que empresas brasileiras possam conhecer e ter acesso às condições de participação em um programa com respaldo de instituições americnas relevantes nas áreas de negócios e tecnologia”, disse ele ao AgFeed.
Mondo se refere à parceria do programa com a Iniciativa de Ciências Vegetais da Carolina do Norte (NC PSI) e o Departamento de Agricultura e recursos Naturais da Universidade de Agricultura, que trabalham em conjunto com o Donald Danforth Plant Science Center, entidade também associada ao IN2, para validar e reduzir o risco das tecnologias da empresas selecionadas.
Também no Brasil, como nos outros países em que estão presentes, os fundos do The Yield Lab ajudarão nas conexões com os ecossistemas locais. “Embora o Yield Lab Institute seja uma organização sem fins lucrativos, temos laços estreitos com nossos fundos de capital de risco globais”, afirmou Regagnon.
Kieran Gartlan, que lidera o The Yield Lab Latam, fundo do grupo com foco em agtechs da América Latina, enxerga muitas sinergias entre o projeto e seu trabalho de identificar futuros alvos para os seus investimentos.
Segundo ele, essa iniciativa mostra como o instituto, por não ter fins lucrativos, "faz muita coisa que um fundo não pode fazer", ajudando startups ainda em fases muito iniciais a validar suas ideias e fazer pilotos com mais tempo e dedicação, sem a pressão de entregar retorno a investidores.
Além disso, pode acessar capitais de impacto que normalmente não estão disponíveis a fundos que buscam esses retornos, como é o caso dos recursos aportados pelo Wells Fargo.
De fato, os aportes do novo programa são do tipo "grant", ou seja, funcionam como bolsas que não exigem contrapartidas das empresas, como a entrega de participação nos negócios.
Ao AgFeed, Gartlan afirmou estar animado com a perspectiva da contribuição com o projeto, que inclusive pode resultar na contratação de um profissional para atuar pelo instituto no Brasil.
Resumo
- Novo programa H.A.R.V.E.S.T., da Wells Fargo e The Yield Lab Institute, expande iniciativa do banco de incentivo a startups de agricultura sustentável
- Iniciativa terá parceria no Brasil com o Corredor Agro, que conecta polos de inovação em Campinas, Ribeirão, Piracicaba e outras cidades
- Agtechs ganham chance de acessar capital, validação tecnológica e redes internacionais para crescer em mercados globai