Esqueça o uso de fertilizantes, luz solar e água e vamos para um laboratório com biorreatores. Cada vez mais startups estão desenvolvendo sistemas de criação de proteínas, plantas e até gorduras em laboratórios.

A startup STEM, com sede em Paris, está usando o sistema para fazer café. Isso mesmo. A partir de células de plantas da espécie café-arábica, e não de grãos torrados, como no processo corriqueiro, a empresa pretende, no futuro, vender bebidas geladas enlatadas prontas para beber.

A STEM foi fundada no ano passado por Tom Clark, atacadista especializado na comercialização de cafés, em sociedade com o especialista em biotecnologia Henri Kunz e o químico Chahan Yeretzian.

Dias após a abertura da empresa, um grupo japonês de bebidas fez um primeiro investimento, do tipo pré-seed, para dar o primeiro impulso na ideia. Agora, os fundadores já estão no mercado levantando mais de US$ 4,9 milhões em uma nova rodada.

O dinheiro agora deve ser usado para refinar e dar escala ao processo, visando deixar o cafezinho no ponto para um lançamento-teste em Cingapura no ano que vem. Ainda na Ásia, a empresa quer atacar o mercado japonês e, posteriormente, partir para o norte da América.

A primeira modelagem financeira da STEM prevê investimentos em em biorreatores com capacidade para 500 litros, algo que a empresa acredita ser suficiente para ser competitivo.

Os fundadores vislumbram que, devido às mudanças climáticas, a cultura do café pode ser bastante afetada, por conta da sensibilidade da planta aos extremos climáticos. Atualmente, em função de altas temperaturas, algumas regiões antes propícias ao cultivo do grão já não obtêm produtividade e qualidade de grãos tão boas quanto anos atrás.

Com a temperatura média do planeta subindo, um estudo publicado na revista científica PLOS One projetou que até 2050 a quantidade de terra arável para o cultivo do café-arábica pode diminuir pela metade.

É nesse futuro que a STEM quer se encaixar, já que a demanda por café não deve diminuir. China e Índia, os países mais populosos do mundo, têm aumentado o consumo e se tornaram importadores do produto.

A produção do café de laboratório começa com a retirada, pela empresa, de células de folhas e grãos de café. Elas são cultivadas em uma suspensão líquida, que depois é desidratada. Forma-se uma biomassa, que é torrada, ganhando o aspecto de pó. Esse processo dura, em média, 21 dias.

Em seu site, a empresa afirma que com essa agricultura celular, atuará como parceira dos produtores, cultivando o material genético e aperfeiçoando o sabor dos produtos finais.

A companhia afirma que não quer competir no mercado de cafés de altíssima qualidade e sim entrar nessa equação com um produto com “pegada ecológica”.

Após o primeiro produto - um café pronto para beber em lata -, a empresa analisa criar um filtro e um café instantâneo solúvel.

A ideia da STEM pode alterar a cadeia global de produção do produto, no qual o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo.

Em 2022, o país exportou cerca de 2,2 milhões de toneladas, o equivalente a 39,4 milhões de sacas de café, com embarques para 145 países. A exportação do produto e de seus derivados atingiu US$ 9,2 bilhões no ano passado. Além de produtor, o país é o segundo maior consumidor da bebida, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.