A agtech brasileira Solinftec, fundada por cubanos na cidade paulista de Araçatuba, sempre impressionou pela ousadia tecnológica e capacidade de atrair investimentos. Agora, porém, dá um passo ainda mais ambicioso.

Em entrevista concedida ao AgFeed no estande da empresa na Agrishow, o CEO Britaldo Hernandez confirmou que a empresa vai investir US$ 5 milhões para construir uma fábrica nos Estados Unidos.

E também antecipou que movimento semelhante vai acontecer no Brasil, com o licenciamento para a produção do equipamento para atender o mercado nacional.

O objetivo é produzir os robôs da marca Solix capazes de atuar no Manejo Integrado de Pragas (MIP) de forma digital e autônoma - uma ferramenta importante para o manejo sanitário das culturas como soja e milho.

Por meio de uma unidade de produção, que fabricou robôs em solo norte-americano em menor escala, já foram entregues 18 unidades aos produtores rurais dos Estados Unidos, número muito abaixo da demanda verificada por lá – 300 agricultores daquele país Estados Unidos entraram numa lista de espera para adquirir o equipamento.

“A gente disse que não tinha como entregar 300 unidades, mas com a construção da fábrica pretendemos produzir 100 robôs em 2024 e um total de 500 no ano seguinte", afirma Hernandez.

Segundo o executivo, o pagamento destas primeiras unidades que estão sendo entregues aos produtores norte-americanos foi feito antecipadamente.

Por isso, acredita que não vai depender de novas captações de recursos no mercado financeiro para dar suporte ao processo de expansão, contando apenas com o caixa já disponível e com as vendas dos equipamentos.

"Fazer um IPO está nos planos, mas por enquanto estamos segurando”, diz. Ainda assim, admite que está buscando um parceiro de financiamento que seja conectado com o universo da robótica.

Hernandez espera concluir as negociações entre setembro e novembro deste ano, captando no máximo US$ 20 milhões.

Neste cenário, a ousadia da Solinftec vai além. Hernandez também revelou ao AgFeed que vai lançar um site no mês de junho nos Estados Unidos onde o produtor rural vai pagar US$ 1 mil "por um lugar na fila” caso esteja interessado em adquirir o Solix.

Desta forma o cliente fica cadastrado e receberá notícias sobre as tecnologias que estão sendo desenvolvidas e sobre agricultura sustentável. É uma estratégia de venda da tecnologia fora do ambiente de concessionárias.

Contas equilibradas

Especializada em sistemas de agricultura de precisão e automação para diferentes culturas agrícolas, a Solinftec espera alcançar R$ 360 milhões em vendas em 2023, crescendo 20% em relação ao ano anterior.

Apesar de positivo, o resultado mostra uma desaceleração já que no ano passado o avanço havia sido de 66% sobre 2021.

O motivo, segundo Britaldo, é que "o mundo mudou” à medida que a empresa entrou no break even, ou seja, suas receitas já pagam as despesas e investimentos recebidos e agora passa a ser lucrativa.

“Eu quero tirar esta imagem de empresa consumidora de caixa e refém do mercado de capitais", diz.

O crescimento é impulsionado não apenas pelos negócios no Brasil, mas principalmente pela rápida expansão no mercado norte-americano.

Além dos robôs, produtos que foram apresentados em 2022, a receita da empresa tem como âncora as plataformas digitais que dão suporte a diferentes etapas do ciclo de produção.

Até a metade da década passada os negócios da empresa estavam mais restritos a venda de softwares customizados para automação da cultura da cana-de-açúcar. O principal cliente era a Raízen.

As soluções passaram a chamar a atenção de outros players do setor e as vendas avançaram até que em 2016 a Solinftec recebeu os primeiros aportes financeiros. Nesta época tinha um faturamento de R$ 35 milhões.

A empresa, então, passou a mirar outras culturas e iniciou o processo de internacionalização, apoiada pela entrada de investidores estrangeiros no negócio.

Os primeiros a apostarem na expansão internacional da empresa, já em 2016, foram os gestores do TPG, um dos maiores fundos americanos de private equity dos estados Unidos, que tem em seu histórico investimentos em unicórnios como Uber e Airbnb.

Em 2020, aconselhada pelo TPG, a empresa transferiu seu comando para West Lafayette, no estado de Indiana, no coração da maior região produtora dos Estados Unidos.

O movimento deu mais visibilidade ao seus produtos e atraiu o interesse de novos investidores. Desde então, companhia já realizou duas bem-sucedidas rodadas de captação.

Hernandez, CEO: “Eu quero tirar esta imagem de empresa consumidora de caixa e refém do mercado de capitais"

Na primeira, em 2020, levantou US$ 40 milhões em uma operação liderada pela Unbox Capital, gestora de private equity da família Trajano, do Magazine Luiza.

No ano passado, a rodada série B foi concluída com aporte de US$ 60 milhões, com o objetivo de alavancar a plataforma própria de Inteligência Artificial. Os principais investidores foram o Lightsmith Group e, mais uma vez, a Unbox Capital.

A presença no mercado americano e a aposta no mercado de grãos deram início a um processo de redução de dependência do setor sucroenergético e permitiram ampliar os horizontes de crescimento.

Hernandez diz que historicamente 65% da receita ainda vem do setor canavieiro, mas a participação em grãos avança em ritmo acelerado.

“Na safra 2024/2025 possivelmente a receita com o setor de grãos já deve superar o percentual obtido com as vendas para as usinas de cana-de-açúcar", prevê.

Não por acaso produtores de soja e milho são o alvo do lançamento mais recente da Solinftec, apresentado na Agrishow 2023: o Solix Hunter, uma nova versão do robô, que agora agrega inteligência artificial ao modelo que já havia sido lançado no ano passado.

Ele é chamado de “caçador” por literalmente faz uma caça aos insetos das lavouras durante a noite. Desta forma, ajuda a eliminar pragas e doenças que causam danos à produtividade.

Fábrica no Brasil

Embora o crescimento esperado para os Estados Unidos seja maior do que no mercado brasileiro, Britaldo Hernandez garante que também tem planos de expansão por aqui.

Uma unidade de produção do Solix será construída em Pato Branco (PR), em parceria com uma empresa local, que terá licenciamento para a fabricação do robô.

Aos produtores brasileiros, enquanto não há uma fábrica, a previsão é entregar 60 robôs este ano. Aqui também a lista de espera tem aproximadamente 300 agricultores.

Apontada frequentemente como candidata a se tornar a primeira agtech brasileira a ostentar o status de unicórnio, a Solinftec caminha em direção a mais uma rodada de investimentos este ano.

Mas o sonho de alcançar o valor de mercado de US$ 1 bilhão não é uma obsessão. Hernandez diz que isso depende de qual será a receita alcançada daqui pra frente. "Quero que isso aconteça quando chegarmos a faturar US$ 100 milhões entre Estados Unidos e Brasil”, afirma