A fila de clientes à espera dos primeiros robôs autônomos para manejo de daninhas e pragas nas lavouras começou a andar na Solinftec, agtech brasileira com sede em Araçatuba (SP) e atuação global.

Desde a semana passada, grupos como Amaggi e Scheffer começaram a receber os equipamentos produzidos na nova planta da empresa no interior paulista. Até o fim do ano, cerca de 20 unidades do Solix, nome comercial do produto, devem ser embarcadas rumo a fazendas, sobretudo do Centro Oeste brasileiro, para a sua primeira safra em lavouras comerciais por aqui.

O Solix é visto como uma das mais promissoras tecnologias autônomas para controle de pragas e daninhas em todo o mundo e tem gerado grande interesse no mercado americano.

Esta semana, a Solinftec anunciou que, após um ano de testes com 20 robôs em diferentes propriedades no Corn Belt, principal região produtora de grãos nos Estados Unidos, assinou contratos de fornecimento com três grandes cooperativas locais, Co-Alliance, Carroll FS e Premier Ag.

“Isso nos coloca em um novo patamar”, afirmou ao AgFeed Leonardo carvalho, diretor de Estratégia Global da Solinftec. “Hoje somos vistos como uma empresa capaz de promover uma mudança no modelo de negócios de aplicação de defensivos nos Estados Unidos, que é o mesmo há mais de 50 anos”.

Nos EUA, explica Carvalho, 80% das receitas de uma cooperativa são baseadas na margem dos produtos químicos e rebates das indústrias – lá, além de vender, elas fornecem o serviço de pulverização ao produtor.

Os testes feitos durante uma safra completa com a tecnologia de pulverização do Solix, porém, revelou uma economia de cerca de 95% no uso de herbicidas, principal custo para controle de pragas nas lavouras, o que impactaria diretamente nessas linhas de receita.

“Como eles cobram um preço fixo de 80 dólares para entregar um acre limpo, as cooperativas entenderam que poderiam fazer o mesmo, ficando com um resultado maior pelos serviços, ao invés das margens e rebates”, explica.

O potencial disruptivo dessa tecnologia tem chamado a atenção de analistas especializados no mercado americano. Shane Thomas, do influente boletim Upstream Ag Professional, publicou na semana passada sua visão após acompanhar, em campo, parte dos testes feitos em solo americano.

“O Solix tem o potencial de substituir o pulverizador tal como o conhecemos, mudar a forma como os fabricantes de defensivos agrícolas chegam ao mercado e oferece um caminho para os varejistas criarem novos serviços para seus clientes”, avaliou.

Com as novas parcerias, a estimativa da Solinftec é ampliar em cinco vezes a área de influência de seus produtos nos Estados Unidos. Juntas, as três cooperativas atuam em mais de 2 milhões de acres (o equivalente a 810 mil hectares).

Segundo Carvalho, apenas com esses três clientes o potencial de venda é de 2 mil unidades do Solix. Cada robô custa em torno de US$ 50 mil.

Leonardo Carvalho, diretor de Estratégia Global da Solinftec

O anúncio dos acordos com foi feito estrategicamente durante a Farm Progress, principal feira agropecuária dos EUA, realizada em Decatur, no estado de Illinois, em meio ao Corn Belt.

Lá, segundo Carvalho, o estande da Solinftec tem sido palco de intensas conversas com gigantes do setor de insumos, como Bayer, Corteva e Syngenta, além de fabricantes de equipamentos, como John Deere.

“Estamos gerando grande ruído”, diz. Carvalho afirma manter conversas “regulares e transparentes” com essas e outras empresas.

“Elas entendem que precisam mudar o modelo de negócios deles, se reinventar de alguma maneira”, diz. “Querem fazer parcerias, comprar, entender. Acreditamos que há alternativas que podem ser conciliadas entre nós, mas eles não têm a velocidade que a gente precisa”, diz.

A Solinftec acredita ter chegado a um momento em que é capaz de ditar seu próprio ritmo. Assim como o Solix, movido a energia solar, tem chamado a atenção mesmo circulando a uma velocidade de menos de 2 km/h pelas lavouras, a empresa entende que precisa acelerar com moderação no crescimento da sua oferta ao mercado.

Na Farm Progress, a empresa anunciou um investimento de US$ 5 milhões, a ser feito em 2024, para duplicar a capacidade de produção na fábrica de Indiana, onde fica a sede americana da Solinftec.

A Tesla como modelo

Os robôs brasileiros estão sendo produzidos em Araçatuba, em uma unidade que, meses atrás, não estava nos planos da companhia. Em maio passado, durante a Agrishow, em Riberirão Preto, o CEO da Solinftec, Britaldo Hernandez, anunciou que a produção brasileira seria terceirizada junto a uma empresa de Pato Branco, no Paraná.

“Esse movimento ainda pode acontecer, mas as coisas estão andando mais rápido do que a gente entendia”, diz Carvalho. “Por isso, tivemos que andar com as próprias pernas e iniciar a produção por conta própria”.

A empresa transformou um antigo galpão da General Motors em Araçatuba em uma linha de montagem do Solix para atender ao mercado brasileiro, onde a fila já é superior a 300 clientes. Além disso, adquiriu uma fazenda na região para usar como laboratório no desenvolvimento de novas funcionalidades para o equipamento.

Com a demanda superior à capacidade de fornecedores, a decisão de assumir a produção é comparada por ele à tomada anos atrás por Elon Musk, fundador da Tesla. “A ideia dele também não era ter fábrica, ser apenas desenvolvedor”, diz Carvalho sobre o fabricante de carros elétricos.

Ao mesmo tempo em que acelera de um lado, a Solinftec segura o passo em outro. Os investimentos, capazes de fazer a produção chegar a 800 unidades no ano que vem, são feitos dentro da capacidade da própria empresa, sem recorrer a novas captações.

Este ano, a estratégia da empresa foi limitar novos investimentos e focar na busca do equilíbrio das contas, atingindo o chamado “breakeven”.

No início de 2023, a empresa – que tem entre seus investidores o fundo americano TPG e a Unbox Capital, gestora de private equity da família Trajano, do Magazine Luiza – chegou a cogitar uma rodada de captação série C, mas entendeu que o mercado ainda não estava valorizando a empresa como eles entendiam ser mais adequado.

“Agora, depois do breakeven, voltamos para a mesa mais robustos. Se decidirmos ela série C ou até pelo IPO, dependemos mais da nossa vontade do que do mercado”, afirma Carvalho.

A empresa descarta se endividar para ampliar a oferta de produtos ao mercado. Mesmo o crescimento, que vinha ocorrendo a uma taxa de 50% ao ano, deve ficar entre 20% e 30% em 2023, com uma receita em torno de R$ 360 milhões.

“Estamos mais saudáveis, com mais tempo para decidir. Somos donos do nosso próprio destino”, diz Carvalho.