Nas próximas semanas a atividade será intensa para o time da Rural Ventures, empresa de venture capital e liderada pelos ex-XP Fernando Rodrigues e André Amorim.
A dupla já iniciou a contagem regressiva para o dia 4 de dezembro, quando realiza no Cubo Itaú, em São Paulo, seu primeiro Investor Day, que vai marcar a comemoração de três anos da empreitada.
Até lá também, os sócios da Rural esperam ter concluído um processo que vai lançá-la a um novo patamar, com o lançamento de seu primeiro fundo para investimentos em agtechs e a conclusão de um processo que tem atraído para o grupo uma seleção de pesos-pesados do agro e do mercado de capitais.
O elenco já tem os primeiros nomes confirmados e todos jogarão em duas posições: serão investidores e integrantes de um comitê que definirá o destino dos R$ 50 milhões que devem ser captados até dezembro.
Na semana passada, por exemplo, passou a integrar o time de notáveis Fábio de Rezende Barbosa, sócio e CEO do grupo NovAmérica, um dos maiores produtores de cana do País. Ele e seu sócio na Lambarin Investimentos, Ricardo Tucunduva Nardon, foram ainda além, tornando-se sócios da própria Rural.
Juntam-se a empresários e executivos consagrados como José Américo Basso Amaral, CEO da Jotabasso, uma das maiores sementeiras do País, Sérgio Del’Arco, pecuarista e ex-trader da Minerva Foods, Paolo Mason, fundador da Clear Corretora, depois vendida para a XP, Bruno Massera, investidor e CFO para mercados internacionais da BRF, José Odilon de Lima Neto, sócio da FCAgro Agroenergia e conselheiro da Coopercitrus, Louis Gourbin, diretor de Trading, Novos Negócios, Biocombustíveis e Agronegócio da Ipiranga, e Rafael Harada, ex-head de gerenciamento de risco da JBS e atual sócio da Virtus Advisors, entre outros.
“Estamos mirando em trazer cada cultura para dentro desse grupo”, resume André Amorim ao AgFeed. “Por exemplo, você tem o cara de açúcar e álcool, o cara de etanol de milho, o cara de soja, o cara de algodão... É um grande comitê em que essas pessoas estão investindo conosco e trazendo essa diversidade de conhecimento e experiências para nos ajudar nas decisões de investimentos”.
A adesão mais recente, de Barboza, materializa bem o conceito. “O mais importante é que, além do dinheiro, Fábio traz a expertise do agro, do setor produtivo”, diz Fernando Rodrigues.
“A gente sempre fala que quer conectar o agro real ao agro tecnológico. E nada melhor do que um produtor para validar as teses em que estamos colocando recursos. A gente sabe que produtor falando pra produtor é uma coisa diferente do que eu falando pra um produtor”.
Com a entrada da Lambarin na sociedade, Nardon passa a atuar diretamente na equipe de investimentos na Rural, como partner e gestor de portfólio.
Ele e Barbosa já vinham fazendo, através de sua própria firma, aportes em agtechs em estágios iniciais, conforme revelou em entrevista ao AgFeed em abril passado.
“A ideia de entrar na Rural é para facilitar o acompanhamento das agfintechs e criar uma sinergia num pipeline de avaliações e de possibilidades nesse universo, junto com um pessoal que tem expertise no mercado financeiro”, afirma, agora, Fábio Barbosa.
Aficcionado por tecnologia agrícola, ele transformou a NovAmérica, na qual representa a terceira geração no comando, em uma das mais inovadoras empresas agrícolas do País, sendo pioneiro na adoção de tecnologias para o setor sucroenergético, tanto em campo quanto na gestão.
Na parceria com Nardon, ele fez apostas em ramos distintos, como a Cyns, fabricante de insumos (farelo e óleos) para a indústria de rações produzida a partir de insetos, a Biogrowth, companhia que desenvolve, com resíduos agrícolas (sobretudo de cana) e biorreatores, suplementos para nutrição humana, a Algabloom, especializada em microalgas para aplicações que vão da nutrição animal a cosméticos, e a @Bank, fintech com foco no crédito aos pecuaristas.
Esses negócios continuam apartados, mas os futuros investimentos da dupla, segundo Nardon, são feitos através da Rural Ventures. “Nós percebemos que, sozinhos, não conseguiríamos avançar, que tinha muito gap no nosso dia a dia. Com a Rural, vimos que tinha um fit com nossa visão de pé no chão, de sujar a bota para investir”, afirma.
“Vejo a turma do agro se juntando nos testes e na validação das novas tecnologias para aumentar a performance do setor como um todo”, completa Barbosa.
Rodrigues ratifica: “Quando um produtor, sobretudo um que está no ramo há três gerações, valida a tecnologia e faz o investimento, é uma chancela totalmente diferente da de um venture capital, um investidor tradicional. Por isso que um mais um, aqui, é três, quatro. Eles estavam precisando do que a gente tem e a gente precisava do que eles têm. Então você decola”.
Produtor atrai produtor
A proposta da Rural é que a presença de nomes de peso no seu comitê ajude a convencer outros produtores a também abrirem suas carteiras e participar do fundo.
O comitê deve, de fato, guiar as decisões de investimento. Segundo Amorim, elas serão tomadas de forma colegiada, respeitando a decisão da maioria – cada membro terá direito a um voto, independentemente do valor aportado.
A ideia é que ele passe a funcionar já com a instalação do primeiro fundo. A ambição da Rural é ir além, criando novos veículos com capital ainda maior, distribuídos nas plataformas dos bancos e de corretora.
“E esse grande comitê permanece ativo para validar todas as futuras teses também, aliás, todas as teses da empresa”, diz.
A busca por diversidade no grupo de investidores e membros do comitê vai além do campo. Segundo Rodrigues, a intenção pé agregar profissionais com expertises em áreas como gestão de risco ou questão tributária.
“Já temos grandes caras que trabalharam durante 30 anos em diferentes segmentos dentro de grandes corporações”, reforça Rodrigues.
Não basta, entretanto, ter expertise para integrar o comitê. Só participarão dele os investidores, de forma a criar um comprometimento que vai além do lado consultivo. Por isso, os próprios sócios da Rural garantem um aporte mínimo de 5% de capital próprio no fundo.
“É preciso ter um alinhamento. Você está colocando o seu expertise, mas você está colocando o seu dinheiro, assim como estamos fazendo”, diz Rodrigues.
“Você pode colocar dinheiro em qualquer fundo. Mas aqui, você é um investidor ativo, quer resolver um problema do seu dia a dia também. Essa é uma coisa que agrega muito”, diz Amorim.
Ao longo dos últimos três anos, a Rural Ventures já fez sete aportes. No portfólio do grupo estão agtechs com diferentes níveis de maturidade e com atuação em áreas distintas.
O investimento mais recente foi feito há dois meses na BemAgro, agtech especializada em processamento de imagens e relatórios agronômicos.
Também estão na lista a B4A, de sequenciamento genômico para análise de solo, a Agroboard, de softwares para gestão de risco no mercado de commodities, a agfintech Campo Capital, a plataforma de crowdfunding Arara Seed, a climatech um grau e meio e a cleantech Preservaland.
A partir da instituição formal do futuro fundo da Rural Ventures, os membros devem analisar se esses investimentos devem ser incorporados ou não. Já o saldo de recursos não aplicados devem integrar o capital do fundo.
Segundo Rodrigues, estas empresas devem também se beneficiar da nova estrutura, já que um dos objetivos da Rural Ventures tem sido potencializar as empresas, ajudando-as a crescer.
“O grande passo disso aqui é o conhecimento que a gente adquire, as conexões que são feitas”, diz.