O greening é o pior pesadelo da citricultura mundial – e, por consequência, da indústria de sucos. A doença, causada por uma bactéria e transmitida por meio de um inseto praga, foi a responsável por praticamente dizimar a produção de laranjas na Flórida (EUA). Atualmente, ameaça as principais regiões produtoras do Brasil.
O controle do inseto é difícil e o uso de antibióticos contra as bactérias nem sempre é efetivo. Mas um grupo de cientistas e engenheiros de biomateriais de Cingapura e do Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, estão testando uma nova abordagem para derrotar essa doença – e muitas outras da agricultura: por que não vacinar as plantas?
Em um estudo publicado na revista Advanced Materials, eles relatam pesquisas em que foram capazes de usar pequenas microagulhas para injetar subastâncias em uma ampla variedade de plantas.
Os resultados foram animadores e permitiram que eles começassem a imaginar a aplicação, através de robôs, de vacinas nas plantas, tornando as culturas resistentes a doenças ou pragas. Outra possibilidade da tecnologia seria injetar nutrientes diretamente em frutas e outros vegetais.
Os testes duraram cerca de um ano e meia. Os pesquisadores misturaram um regulador de crescimento de plantas bastante utilizado da agricultura, o GA3, em uma solução de fibroína de seda.
Essa mistura foi colocada em moldes para secar e formar as agulhas. Posteriormente, usaram pinças para pegar as agulhas e injetá-las no tecido das plantas, liberando a substância em seu interior.
A experiência foi feita em tomates, alface, espinafre, arroz, milho, cevada e soja. Eles avaliaram a reação das plantas e verificaram que o método foi eficiente e praticamente não deixou nenhuma cicatriz ou calo nas plantas.
“Há uma pressão crescente para que o setor agrícola se adapte e permaneça resiliente às realidades das mudanças climáticas”, afirmou Benedetto Marelli, um dos autores do artigo e professor associado do MIT, à revista americana Modern Farmer.
Segundo ele, a ideia de desenvolver a tecnologia de microagulhas surgiu como uma alternativa mais sustentável e econômica à pulverização de defensivos.
“A opção atual de pulverização é escalável, mas pode ser prejudicial ao agricultor e ao meio ambiente, enviando partículas para o ar ou penetrando no solo e acabando em um aquífero”, afirmou Marelli. Ele estima que cerca de 50% a 90% dos químicos usados em uma aplicação podem acabar no ar ou no solo, sem serem totalmente absorvida pelas plantas.
É esse ponto que a tecnologia resolveria, com a vantagem de que as agulhas, feitas de seda, serem biodegradáveis. “Você minimiza o desperdício”, concluiu Marelli.
Foi o líder do estudo, Yunteng Cao, pesquisador de pós-doutorado no MIT, quem primeiro vislumbrou o potencial do microagulhamento no combate ao greening. Ele citou um levantamento, feito 2020, estimando em mais de US $ 1 bilhão as perdas anuais de receita com a doença na Flórida, além de 5.000 empregos perdidos a cada ano.
Segundo Cao, a pulverização de árvores com antibióticos não foi eficaz justamente pela pequena quantidade de medicamentos absorvidos pelas plantas. Ele imagina poder disponibilizar o método em escala comercial em até sete anos.
Os pesquisadores buscam agora possíveis parceiros para transformar a tecnologia em um negócio. Ainda devem realizar mais testes em plantas, mas um dos principais desafios é dar escala ao modelo que desenvolveram.