As próximas semanas serão agitadas para Eduarda Schneider, CEO e fundadora da startup Agricon Business, que atua como uma trading digital via blockchain de grãos sustentáveis.

Isso porque Duda, como é conhecida, receberá e atuará como anfitriã de uma delegação de nove empresários chineses. O tour envolve visitas a fazendas de produtores parceiros da startup.

O movimento ilustra uma nova fase da companhia, que nasceu em 2020, a partir do TCC da empreendedora em uma pós-graduação em gestão no agronegócio.

A intenção de unir produtores rurais que adotem práticas sustentáveis com compradores internacionais virou negócio, cresceu e ganhou novos parceiros de muito peso.

Duda Schneider conta que em 2024, a companhia transacionou 10 mil toneladas de grãos (soja e milho) para 37 clientes estrangeiros, localizados na Europa e na Ásia.

Ao longo do ano passado, iniciou conversas para conquistar novos importadores vindos do maior comprador de commodities brasileiras.

“A Agricon vai começar a vender para a China”, afirmou ela em entrevista ao AgFeed.

“Só conseguimos abrir esse mercado quando fomos pra lá e olhamos nos olhos dos compradores. Assinamos acordos no final do ano passado, numa negociação que se iniciou na Expodireto de 2024, e, a partir do próximo mês, começamos a enviar, de fato, as cargas para lá”.

Na frente da originação dos grãos, a empresa conta com mais de mil produtores, localizados principalmente na região Sul, e atua como um chancelador das boas práticas.

Schneider explica que todos os produtores passam por visitas técnicas, em que um agrônomo da Agricon faz uma análise completa de boas práticas como agricultura regenerativa, verificação das normas ambientais e condições de armazenagem.

A partir dessa análise, o produtor aprovado a fazer parte da trading registra os lotes que deseja vender. Do outro lado, o comprador internacional se cadastra, passa também por uma análise e, assim que aprovado, ele pode inserir sua LOI (intenção de compra) na plataforma.

“Quando o sistema identifica lotes do produtor e LOIs do comprador, acontece um match e os usuários podem ou não fazer negociação”, explica.

Com a transação fechada, a Agricon fica responsável por retirar a carga na propriedade e pelo restante da logística, até chegar nos navios rumo a outros continentes.

Hoje, a CEO afirma que os compradores externos são, em sua maioria, indústrias de alimentos, como fábricas de shoyu e óleos vegetais, ou de nutrição animal, como empresas de ração.

No ano passado, com as 10 mil toneladas transacionadas, a Agricon faturou R$ 15 milhões. A expectativa para esse ano é quintuplicar o volume.

Schneider estima que, a partir do próximo semestre, a companhia deverá enviar navios inteiros de carga para fora. Hoje, as cargas vão em containers pontuais, conforme a compra.

Além da ampliação de destinos, a executiva prevê a Agricon ampliando sua atuação com produtores de outras regiões do País e expandindo as culturas atendidas também para cafés, incluindo os especiais, e também castanhas vindas da região amazônica.

Como atua com produtores que utilizam manejos e práticas sustentáveis na lavoura, a Agricon ainda viabiliza prêmios para o produtor parceiro. “Hoje a gente consegue, nos grãos de soja e milho, cerca de R$ 2 a R$ 5 a mais por saca. No montante, é algo bem significativo”.

Segundo a CEO, A Agricon tem a meta de entregar a rastreabilidade dessa cadeia até o consumidor final.

“Nosso objetivo é que o comprador de óleo de soja na China consiga, na embalagem, verificar via Agricon de qual fazenda veio o grão. Hoje nossa rastreabilidade vai até a indústria, mas não até a gôndola”.

Duda Schneider é integrante da quarta geração de produtores rurais da família. Neta de alemães, que vieram para o Brasil “quando tudo ainda era mato”, e natural de Fortaleza dos Valos, uma pequena cidade no Noroeste gaúcho, ela viveu o agro desde a infância, seja acompanhando seus pais na lavoura ou até mesmo tirando leite de vaca.

Hoje, ela, seu pai e seu irmão plantam soja e milho em uma área de 500 hectares.

As raízes no agro guiaram a empresária também no mercado de trabalho. Ela conta que se formou em publicidade e propaganda, já na intenção de trabalhar no setor.

A ideia que deu origem ao negócio surgiu quando fez a pós-graduação em gestão do agronegócio, entre 2016 e 2018, na ESPM. “Sempre tive a decisão de ser empreendedora”, diz.

Nesse período, eka trabalhava na empresa Safras & Mercado como analista comercial, onde aprendeu na prática o funcionamento de tradings, e decidiu “criar uma tecnologia que facilitasse a exportação por parte dos produtores”.

“Foi aí que surgiu a Agricon, fazendo todo o processo de trading, tracking e traceability”.

A empresa ainda não fez captações com investidores externos. Todo o capital inicial veio de produtores ou parceiros ou da grande família Schneider.

Na árvore genealógica de Duda, são quase 30 tios e tias produtores rurais espalhados pelo País, que tanto ajudaram no início da carteira de clientes, quanto no networking.

“Confiança é importante, e saber se comunicar com os produtores é indispensável”, conclui.