“É um jogo de validação, não de avaliação”, desabafou o CEO da Indigo Ag, Ron Hovsepian, em uma chamada de vídeo com o AgFeed na manhã desta sexta-feira, 15 de setembro. Ele acredita ter ganho o jogo e exibe seu prêmio: US$ 250 milhões de dólares, aportados por grandes investidores internacionais na agtech americana.
Hovsepian assistiu em silêncio, nas últimas semanas, à publicação de uma série de notícias, surgidas a partir do relatório de um investidor israelense, dando conta de que o valor de mercado da Indigo havia despencado em 94% desde o seu pico como a mais valiosa agtech do mundo.
Segundo o fundo Uni-Tech, os valores obtidos em uma rodada anterior indicariam que a empresa estaria avaliada em US$ 200 milhões. Em 2021, teve seu valor de mercado (valuation), cotado em US$ 3,5 bilhões.
“Essa captação é uma resposta direta a isso, uma validação da verdade”, afirmou o executivo, falando de Boston, cidade americana onde a Indigo tem sua sede. Na entrevista, Hovsepian se mostrou confiante sobre o futuro da empresa e afirmou que os recursos obtidos agora permitirão que a empresa acelere sua expansão global e oferecerão condições para que ela atinja o “break even” (equilíbrio entre receitas e despesas operacionais) até o quarto trimestre de 2024.
“O valor virá depois, é por isso que o dinheiro veio agora”, afirmou. “Os investidores enxergam antecipadamente os bilhões que a gente produzirá no nosso futuro, nos próximos anos”.
Hovsepian também falou com entusiasmo sobre o avanço da Indigo no Brasil, que, segundo ele, já é o principal mercado para a empresa em termos de geração de receitas, superando inclusive os EUA.
Ele antecipou ao AgFeed que a agtech deve ter meses movimentados por aqui, com lançamento de uma nova geração de seus produtos biológicos, seguido da chegada de sua plataforma de agricultura digital. E, finalmente, uma possível construção de uma fábrica no País.
“Nós estamos avaliando locais para produzirmos no Brasil”, disse. “Nossos padrões de manufatura são muito altos, precisamos encontrar as condições perfeitas. Mas Brasil e Estados Unidos são os maiores mercados do mundo, então é natural que tenhamos alguns de nossos produtos fabricado nesses países”.
O potencial do mercado brasileiro entusiasma o executivo. Ele reconhece a rápida adesão de novas tecnologias pelos nossos produtores, que considera “mais espertos” que a média. E também a velocidade do registro de produtos pelas autoridades sanitárias por aqui.
Por isso, afirmou que nos próximos meses deve haver uma sequência de lançamentos da empresa no país, a começar pelo N11, um bionematicida, que além de combater os nematoides favorece o desenvolvimento das raízes das plantas, aumentando o potencial de sequestro de carbono no solo.
A agtech também tem costurado parcerias com empresas agrícolas brasileiras para a introdução da sua plataforma digital. Uma delas, revelada por Hovsepian ao AgFeed, é com a Mantiqueira, maior produtora de ovos do país, que também possui uma operação agrícola.
“Estamos trabalhando com eles silenciosamente há mais de nove meses”, contou. Segundo ele, a companhia já vem testando a ferramenta e contribuindo com sugestões para seu aperfeiçoamento e adaptação às condições brasileiras. Trabalho semelhante, também silencioso, é feito junto a empresas produtoras de sementes.
Voto de confiança
A rodada de captação anunciada nesta sexta inclui um grupo de investidores que já participa da empresa, liderados pela Flagship Pioneering. Mas também atraiu novos nomes de peso, como o State of Michigan Retirement System, um dos maiores fundos de pensão dos EUA, e o Lingotto Investment Management, um fundo focado em inovação no valor de US$ 3 bilhões, pertencente à Exor N.V., uma das maiores holdings diversificadas da Europa.
“Eles estudaram o que fizemos e nos deram agora o capital para ir além”, afirmo Hovsepian. De acordo com o CEO da Indigo, os recursos darão capacidade de escalar comercialmente “as tecnologias já testadas, demonstradas e validadas no mercado”.
O foco principal será a expansão global da plataforma de sustentabilidade, que combina as soluções biológicas para agricultura com um ambicioso programa de incentivo a práticas de sequestro de carbono no solo. Um dos pioneiros em remunerar produtores por créditos de carbono, a Indigo já registrou o sequestro de 133 mil toneladas, que resultaram, segundo o CEO, em mais de US$ 5 milhões em cheques a produtores americanos.
“É dinheiro de verdade”, diz ele, reforçando o fato de que ainda é preciso de muito trabalho para que se cumpram as promessas de uma série de outras iniciativas para fazer com que os créditos de carbono se tornem uma receita importante para os agricultores.
A Indigo vai para sua terceira safra de “colheita de carbono”, como costuma se referir à mensuração dos gases sequestrados. E contratou uma empresa externa, a Geoterma, para auditar e validar os ciclos anteriores.
“Fomos os primeiros também a seguir para essa revisão completa do nosso modelo”, disse. “Tivemos uma grande validação do que fazemos com nossa tecnologia, mas isso não é o suficiente. Queremos que tudo isso fique ainda mais fácil e melhor para o produtor”.
De acordo com Hovsepian, os produtores que participam do programa têm recebido prêmios entre 5% e 8% em sua produção, além de US$ 30 por tonelada de carbono sequestrado.
“Estamos iniciando agora a expansão global do Indigo Carbon”, disse. “Estamos falando com parceiros em vários países para entender como fazer”.
Na Índia, a empresa atua através de uma joint venture com uma empresa local e em breve deve anunciar a performance do primeiro grupo de produtores. “No Brasil, estamos no processo de construção do negócio”, diz sem dar um prazo para a o início de operação do programa.
“Estamos no começo dessa jornada. Ainda não quero fazer nenhum tipo de previsão ou anúncio, mas provavelmente você terá notícias nossas este ano”, afirmou.
Hora de falar
A plataforma de sustentabilidade é também uma resposta do executivo as críticas sofridas pela Indigo ao longo de sua curta existência. A empresa foi fundada em 2013, e em sua fase inicial abriu várias frentes de negócios, chegando a se descrever como ““cinco startups em uma só”.
Hovsepian disse que também tinha essa visão crítica. “Quando estava no conselho, fazia muitas perguntas como essa e por isso acabei ganhando o emprego como CEO. Achava que era muito difícil manter esse discurso”, afirmou na entrevista.
Ao longo dos últimos três anos, ele foi fechando áreas que não estavam alinhados ao novo posicionamento. E adotou um discurso crítico também aos constantes anúncios feitos pela companhia, com promessas ao mercado.
“Quando cheguei aqui, disse ao time: ‘Nós falamos demais. Ninguém está autorizado a falar até que a gente entregue o que prometeu. Então, vamos calar a boca e entregar’”.
Para Hovsepian, chegou a hora de falar. Ele diz que as entregas estão acontecendo e vão se acelerar. O negócio de biológicos da empresa, por exemplo, é baseado em 14 ingredientes ativos. “A maioria das startups têm um ou dois, se tanto”.
E reforça: “Ainda temos mais de 300 mil em nosso laboratório para serem trabalhados. Quando vejo o que fizemos com nosso programa de carbono também, tenho certeza de que agora é hora de falar. É hora de escalar, levar esses novos produtos ao mercado, para o Brasil, para a Europa, para a Ásia”.
E ele falou. Admitiu, inclusive, acreditar que a Indigo deve caminhar para a abertura de capital, com um IPO. “Quero toda a verificação de compliance, todos os holofotes voltados para nossa companhia, porque fizemos tudo certo. As luzes de tornar público vão deixar isso bem claro”.