No ecossistema do Itaú, o agro ganha força não só no crédito. Se no Itaú BBA, banco de investimentos da instituição, a projeção é aumentar em R$ 20 bilhões os aportes no setor em 2025, no braço de inovação da instituição, o Cubo, o setor também ganha atenção nos holofotes.
“Vimos que o Cubo evoluiu em termos de conteúdo, posicionamento e referência no mercado”, resumiu Matheus Borella, líder de Novos Negócios e Inovação Aberta no Agronegócio no Itaú BBA.
Existem diversos hubs dentro do Cubo, divididos por setor. No Cubo Agro, os números de 2024 mostram uma pujança das startups que atuam na agropecuária e um avanço relevante num intervalo de dois anos.
Ao fechamento do ano passado, eram 53 startups do setor vinculadas ao ecossistema de inovação, uma alta de mais de 30% frente às cerca de 40 do ano anterior.
A mediana do faturamento dessas empresas foi de R$ 6,3 milhões, e a soma, fica acima dos R$ 450 milhões. Em 2022, esse montante era inferior a R$ 300 milhões.
Essas 53 agtechs somam mais de R$ 1,1 bilhão em aportes recebidos. Há dois anos, os aportes somavam R$ 930 milhões.
Dentro do agro, toda e qualquer solução é bem-vinda. Matheus Borella explica que o Cubo Agro traçou um mapa de oportunidades que permeiam os temas da bioeconomia, agricultura inteligente, agro 4.0 e agfintechs.
Segundo ele, todas as agtechs possuem um “pezinho na IA”, e que o futuro do Cubo, e do Cubo Agro, passam por essa tecnologia. A iniciativa recém-lançou um hub de IA e, como uma das ideia do hub de inovação é fazer conexão entre startups, independente do setor, Borella vê que esse deve ser o tema mais em voga no futuro.
“Existe uma percepção dos mantenedores do Cubo de olhar esse tipo de tecnologia”, diz. Além do Itaú BBA, o hall de mantenedores do Cubo Agro ainda conta com a Cargill, CNHi, Corteva, São Martinho e Suzano.
Do lado das startups estão agtechs como Aegro, Agrotroken, Agroboard, EcoTrace, Grão Direto, Produzindo Certo e TerraMagna.
Borella ressalta que o agro já usa IA há algum tempo, principalmente para interpretar imagens e criar padrões a partir desse diagnóstico da imagem.
“O que queremos a partir de agora é separar o joio do trigo e ver qual tipo de inteligência artificial faz diferença e está aplicada no negócio”, afirma.
No ecossistema do Cubo, além de privilegiar uma integração entre startups, existe ainda uma possibilidade de uma conversa de corredor com um fundo de venture capital ou corporações interessadas em novas tecnologias.
Num momento em que os aportes em startups esfriam com uma taxa de juros elevada que tira apetite para investimentos de mais risco, Borella aposta em uma curadoria nos participantes do Cubo.
“Costumo dizer que para boas teses e boas startups nunca falta dinheiro. Uma vez que estão boas teses juntas, fazemos um hub de hubs, tudo num espaço só”.
O espaço físico fica localizado no meio da Vila Olímpia, o bairro com o metro quadrado mais caro da capital paulista e que concentra grande parte das empresas do mercado financeiro.
A palavra que resume o dia a dia do prédio, nas palavras de Matheus Borella, é serendipidade. No dicionário, o termo significa "o ato ou capacidade de descobrir coisas boas por mero acaso, sem previsão".
É nesse networking orgânico que toda a tese do Cubo está baseada.
“Esse ambiente propício faz muita diferença. Conseguimos trazer a maior possibilidade de fatores, encontros, seja para uma empresa achar apoiador, sócio ou investidor, que vai ajudar no negócio”, afirma.
Um desses parceiros do Cubo é a Rural. A relação será estreitada ainda mais durante o Rural Summit 2025, que será realizado em Ribeirão Preto (SP) durante a semana da Agrishow.
No Agrimatching, concurso com premiação para agtechs, que acontecerá na sede da Harven Business School, o Cubo será um dos apoiadores e avaliadores das agtechs.
“É um espaço interessante para nos aproximar de teses que não vemos no cubo. É momento de ouvir os pitches e captar novas ideias e, quem sabe, trazer para estar junto de nós”, afirmou.
Em termos de tendências de startups no agro, Borella cita que o olhar está voltado para uso de tecnologias que envolvem RNA e melhoramento genético. Segundo ele, são startups que se deparam com um banco de dados massivo e, por meio de deeplearning, ou aprendizagem profunda, conseguem antecipar resultados em meio ao mar de números.
“O uso inteligente de dados é algo importante. No agro dizemos que temos duas safras, uma de produtos, seja por exemplo soja, milho ou trigo, e outra de dados. Essa ‘segunda safra’ traz o quanto colheu, como e em que tempo foi colhido, além do desenvolvimento da planta. A IA torna isso fácil de lidar”, comenta Borella.
As teses que compõem o Cubo envolvem startups em estágios mais avançados, principalmente para atender demandas de grandes corporações, explica Borella. Por isso, no Agrimatching, que contará com muitas agtechs em estágios iniciais, o Cubo estará de olho em “boas apostas no futuro”.