A The Yield Lab, gestora americana especializada em fundos para investimento em agtechs e foodtechs, acaba de colocar mais uma startup brasileira dentro de seu portfólio.
A gestora fez um aporte, de valores não revelados, na agtech Symbiomics, especializada em utilizar tecnologias de inteligência artificial (IA) para produzir microrganismos usados no campo.
De acordo com Kieran Gartlan, sócio da The Yield Lab no Brasil, o aporte vem num bom timing do mercado, algo que ele acredita que é “tudo para o sucesso de uma startup”. “Não adianta uma equipe e produtos fantásticos se o mercado não está pronto para aquilo ou com apetite para investimentos”, disse ao AgFeed.
Os biológicos, segundo Gartlan, já crescem há algum tempo no Brasil, o que contribuiu para esse timing.
No caso da Symbiomics, ele conta que o diferencial que chamou a atenção dos executivos da gestora foi a capacidade da startup de utilizar inteligência artificial para testar novos produtos biológicos.
“Temos no Brasil uma grande quantidade de diversificação de ingredientes que podem ser usados em insumos, mas com as metodologias antigas, esse processo de teste era mais demorado”, diz.
Rafael de Souza, CEO e cofundador da startup, comentou ao AgFeed que a plataforma da empresa permite que um desenvolvimento de um produto biológico que demoraria de quatro a cinco anos pode ser feito em seis meses.
“O nosso objetivo é criar o que chamamos de ‘produtos biológicos de nova geração’. Desenvolvemos produtos com cepas microbianas e tecnologias de edição gênica. Na nossa plataforma, sequenciamos o genoma e identificamos o seu potencial, se pode ser usado para um fertilizante ou um fungicida, por exemplo”, explicou o executivo.
Com esse sequenciamento dos genes, a plataforma é alimentada com dados, que permite além da análise, uma edição para potencializar alguma funcionalidade do microorganismo.
Outro ponto que chamou a atenção da gestora é que a Symbiomics não está envolvida na parte de venda, e sim no licenciamento de variedades para empresas tradicionais. Dessa forma, a startup não se envolve nem na parte regulatória e na parte produtiva, por exemplo, processos que demandam tempo e capital intensivo.
Para o crivo final do aporte, a The Yield Lab ainda levou a equipe da agtech para Saint Louis, num centro de biotecnologia dos EUA, para validar com os investidores e a equipe técnica as soluções da startup. “Precisamos tomar cuidado para não investir em algo que já existe. Conversamos com experts da área e todos deram um feedback positivo e ficaram impressionados”, afirmou.
Passado o momento do aporte, a ideia da Yield Lab é fazer a Symbiomics expandir a atuação em outras regiões do Brasil, e posteriormente buscar um mercado europeu e norte-americano.
Na plataforma própria, a Symbiomics desenvolve as tecnologias e as licencia globalmente. O CEO revelou que, neste ano, a startup fechou um contrato com a Stoller, da Corteva, para comercializar um produto a nível global.
A startup foi fundada em 2021 por Rafael de Souza e Jader Armanhi, que atua como COO. Os dois são biólogos formados pela Unicamp, onde se conheceram em meio à graduação e projetos de pós. No doutorado, ambos atuavam em genética e biologia molecular.
Pioneiros no estudo de microbiomas de plantas, eles mergulharam nesse universo por volta de 2012. “Estava apenas se descobrindo, na época, o potencial dos microrganismos e a aplicação disso na agricultura tinha pouca informação”, diz.
O CEO conta que eles acabaram desenvolvendo muitas metodologias novas na academia, bem como ferramentas de análise inéditas. Os dois passaram a publicar muitos artigos em revistas científicas e a participar de congressos no Brasil e fora, o que chamou a atenção de empresas que queriam usar a plataforma para desenvolver novos produtos.
“Queríamos traduzir o conhecimento científico num produto com impacto para a agricultura e nesse caminho percebemos que, para conseguir isso, teríamos de sair de um contexto acadêmico. Em 2021 a Symbiomics nasceu oficialmente”, disse o CEO.
O primeiro aporte veio em janeiro de 2022, quando a Vesper Ventures aportou R$ 1 milhão. Com esse valor, a empresa se estabeleceu e se estruturou para a segunda rodada, de R$ 10 milhões, numa rodada que envolveu a Baraúna Investimentos, a MOV Investimentos e a Ecoa Capital.
O dinheiro da Yield Lab veio se somar a essa rodada e, além do capital, a expertise e o networking do grupo americano podem ajudar na nova fase da empresa.
Na Yield Lab, a busca em 2024 segue na ideia de diversificação de portfólio. Tanto que a Symbiomics é a primeira startup de biotecnologia a receber um aporte da gestora.
Gartlan afirma que o foco dos investimentos não está numa tecnologia específica, mas como as startups resolvem problemas. “Não investimos, por exemplo, só em IA, mas em soluções que, com a popularização da IA, facilitem soluções de problemas que já existem há tempos”, diz.
O investimento da The Yield Lab na Symbiomics foi feito com o capital do terceiro fundo, que ainda está em fase de captação e tem objetivo de levantar US$ 50 milhões num todo. Até agora, o fundo já possui 12 investimentos, quase metade da meta final de 30.
“Entramos agora numa fase de não só estabelecer parcerias com empresas, mas de validação da plataforma. Isso mostrará que a tecnologia pode ser aplicada tanto para a agricultura quanto para a pecuária e outras frentes, já mirando em escalonar a startup no futuro”, completou o CEO.