Os números do setor impressionam. Somente em 2024 o mercado estima que entre 8 mil e 10 mil drones tenham sido comercializados no Brasil para pulverização agrícola.
O ritmo crescente de adoção dessa ferramenta no campo, que em alguns casos chega substituir aviões agrícolas, mas em outros apenas complementa o trabalho dos pulverizadores tradicionais, está refletindo nos resultados das empresas que apostaram nesse nicho.
Criada em 2011, a GoHobby, é uma delas. Começou a vender drones numa época em que a demanda era mais lazer, para consumidores finais, seguida de um maior uso no chamado segmento “enterprise”, que é a linha voltada à segurança pública, segurança privada e inspeções em geral.
Atualmente, metade da receita da empresa já está relacionada aos clientes do agronegócio.
“O ano de 2024 foi bem positivo. Foi o recorde da companhia de faturamento. Foi um ano que a gente cresceu praticamente 100% em relação a 2023”, disse o CEO da GoHobby, Adriano Buzaid, em entrevista ao AgFeed.
Ele não informa números exatos, mas admite que o número de 2024 ficou “muito próximo” da meta que era faturar R$ 150 milhões.
“O crescimento dos drones permite otimizar os recursos e melhorar a produtividade. Às vezes o pulverizador dele (produtor) está em manutenção no momento. E você tem uma lagarta começando a entrar na lavoura. Se você não entra rapidamente com alguma coisa ali, perde a sua lavoura em alguns dias. Então, o drone, ele chega com um produto de valor acessível para o agricultor, mas é uma ferramenta poderosa na aplicação", explica.
Para 2025, Buzaid prevê que a receita cresça até 40% em relação ao ano passado, um resultado que deve ser impulsionado pela pulverização agrícola. Ele vê chances de que o agro passe a representar 60% do faturamento.
“É um segmento que está crescendo muito e eu acho que a gente está só no começo com essa tecnologia, de realmente usar os drones para aumentar a eficiência no campo”, afirma.
Além da pulverização, o uso no agro também tem crescido para mapeamento de áreas, com drones menores multispectrais que ajudam a identificar onde é preciso aplicar defensivos, por exemplo, permitindo economia de produtos.
O mercado de drones e vants vem observando também lançamentos de equipamentos de maior porte, com capacidade de transportar até 400 quilos de defensivos, como já mostrou o AgFeed.
O CEO da GoHobby pondera, no entanto, que o mercado segue aquecido para drones menores. “Os drones estão aumentando de tamanho, sim. Mas, quanto mais pesado e mais litragem, mais caro o equipamento fica, por isso tem um apelo muito grande dos fabricantes de comprar equipamentos com uma litragem até menor”.
Drones agrícolas para pulverização, segundo a empresa, hoje tem preços que variam de R$ 135 mil a R$ 197 mil, considerando o kit completo. A tendência é de melhores preços com o avanço da tecnologia, mas segundo Buzaid, a alta do dólar acaba impedindo que essa diferença chegue ao cliente do Brasil.
A grande maioria dos drones agrícolas vendidos no Brasil são importados da China. No caso da GoHobby trata-se de uma parceria com a fabricante chinesa DJI Agriculture.
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O carro-chefe na GoHobby é o DJI Agras T25, para pulverização, para sólidos de 25kg, que vem sendo demandado por diferentes cultivos agrícolas, até mesmo para pastagens. Também estão no portfólio o DJI Agras T50, com capacidade de 50kg de carga de dispersão, que realiza 21,3 hectares por hora. Ainda em 2025, devem ser lançados mais três novos modelos.
“A gente nunca fala que o drone está substituindo as maneiras tradicionais que a agricultura utiliza há bastante tempo, mas ele é uma excelente ferramenta para a fazenda ter ali, na mão, para poder utilizar”, ressalta.
A empresa também tem investido para solucionar um problema crescente no setor, que é a falta de operadores de drones agrícolas. Um projeto chamado Universidade GoHobby já treinou mais de 400 pessoas para operação e manutenção dos equipamentos.
Carro voador
Além da liderança em distribuição de drones, a empresa ganhou destaque nos últimos anos por ter sido a primeira a trazer um “carro voador” e um robô humanoide para o Brasil.
Um voo experimental da aeronave elétrica conhecida como eVTOL 216-S, da chinesa EHang, ocorreu em setembro do ano passado, no interior de São Paulo, e foi liderado pela GoHobby, aberto ao público. A sigla "eVTOL" significa "veículo elétrico de pouso e decolagem vertical" em inglês.
A “aeronave” foi comandada remotamente, ou seja, os pilotos não estavam dentro do carro voador, em função da permissão ainda limitada pelas autoridades brasileiras. A Anac (Agência Nacional de Aviação) concedeu um certificado equivalente a um drone de Classe 1, quando o veículo não é tripulado.
Mas Adriano Buzaid já voou com o eVTOL ao lado de um piloto dentro do carro voador, porém, na própria China.
“Estamos estudando agora, para o primeiro semestre deste ano, fazer um voo em outro país da América Latina, fora do Brasil, com o nosso eVTOL”, contou o executivo ao AgFeed, preferindo não revelar ainda o local específico.
O projeto tem como principal foco melhorar a mobilidade urbana, porém vem atraindo a atenção de produtores rurais pela facilidade que poderia oferecer para o deslocamento nas extensas áreas de lavouras do Brasil.
Embora não saiba, quando será totalmente autorizado o carro voador no Brasil, a GoHobby já abriu uma pré-venda, num modelo em que o cliente é obrigado a já depositar um sinal.
Segundo Buzaid, 16 pessoas já fizeram esse pagamento e, nesse grupo, há clientes relacionados ao agronegócio. Ele diz que empresas semelhantes fazem listas de espera mais extensas, mas sem exigir o pagamento. No caso da GoHobby, é um pré-contrato, mediante um valor financeiro.
“A certificação existe na China. E a Anac tem um acordo bilateral com a agência chinesa para eles poderem trocar as certificações entre eles e receberem pedidos de covalidação. Esse processo é sigiloso entre as agências, então não conseguimos saber como está o status desse processo”, explicou.
A GoHobby, enquanto isso, já comemora o fato de ter dois pilotos certificados para voar o eVTOL - uma certificação no fabricante e também da ANAC. “Foi uma das primeiras empresas das Américas e até da Europa a conseguir uma certificação de pilotos para voar com o eVTOL. Isso antes estava muito na mão da China e a gente conseguiu como empresa estrangeira, essas certificações todas”.
Buzaid diz que, se tivesse autorizado hoje, o cliente compraria o carro voador por cerca de US$ 600 mil.
Na China, segundo ele, as pessoas voam com esse mesmo equipamento de forma comercial para explorar turismo ou simplesmente transporte de passageiros.
“É algo que para quem opera, o custo operacional é muito baixo. Eu afirmo que de Congonhas a Guarulhos você faz (um voo) com mais ou menos R$12,00 a R$13,00 de eletricidade, que seria o custo de energia, simplesmente. Então é uma tecnologia que mais cedo ou mais tarde ela vai impactar positivamente a maioria dos brasileiros”.
Como tendência no setor, o CEO diz que drones e robôs devem passar a contar cada vez mais com Inteligência Artificial. A GoHobby prevê lançar um produto próprio, com foco no agronegócio, ainda este ano, mas mantém em segredo por enquanto.
A empresa confirma que mais uma vez estará na Agrishow, em Ribeirão Preto, mas esse ano não pretende levar o carro voador, terá mais foco nos drones de pulverização.