Nos últimos três anos, gigantes do setor de nutrição animal e proteínas têm olhado com mais atenção a uma ideia que já está sobre as mesas do setor há algum tempo: a produção de proteínas a partir de insetos.
Com aportes em startups especializadas na montagem de “fazendas” para multiplicação dos insetos, elas iniciaram uma espécie de corrida para introduzir de forma mais ampla esses produtos no mercado, sobretudo como ração para nutrição animal.
Cerca de US$ 1,3 bilhão já foram investidos como combustível para as startups desde 2020. Só em 2022 foram US$ 500 milhões em financiamento, segundo um estudo do The Washington Post.
O conceito é estranho, mas o movimento, que já engloba dezenas de empreitadas ao redor do mundo, faz parte dos esforços globais de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da alimentação animal.
Essa nova indústria tem a ambição de produzir em grande escala proteínas com menos emissões de gases prejudiciais ao efeito de estufa em comparação aos fornecedores tradicionais.
Dentro dessas “fazendas”, as startups criam compostos a partir de grilos, larvas de farinha e larvas de moscas em tanques de plástico com temperatura controlada, projetados para ajudá-los a crescer rapidamente.
Uma vez processados, os insetos viram proteínas e óleos ricos em nutrientes para pets, peixes e gado. E até seus dejetos têm utilizados como fertilizantes.
Outro benefício do negócio é a integração com a cadeia de alimentos dentro do conceito de economia circular. Os insetos são, muitas vezes, alimentados com resíduos de alimentos provenientes de fazendas ou de indústrias próximas.
Um dos impulsos para essas iniciativas veio, em novembro passado, da gigante americana de carnes Tyson Foods, que investiu na Protix, uma startup holandesa que cria larvas de mosca black soldier, espécie bastante popular nesse novo segmento por crescer de forma rápida e por consumir grande variedade de alimentos.
Outra potência americana do agro e da área de nutrição, a ADM foi uma das primeiras dessa nova onda. Assinou um acordo semelhante em 2020 com outra startup, a Innovafeed, com sede em Paris.
Tanto Tyson e quanto ADM compraram participações acionárias nas strartups e anunciaram planos para ajudá-las a construir grandes “fazendas de insetos” nos Estados Unidos.
Atualmente, a maior fazenda do tipo pertence justamente à Innovafeed e está localizada em Nesle, na França. Numa estrutura de 35 mil metros quadrados, a produção fica na casa das 15 mil toneladas de proteína a partir de larvas de mosca black soldier por ano.
Mesmo sendo a maior estrutura, a fazenda já vê uma data para perder o posto. COm inauguração prevista ainda para este mês, uma fazenda da startup também francesa Ynsect, localizada nos arredores da cidade de Amiens. A planta terá 45 mil metros quadrados e capacidade de produzir 100 mil toneladas.
Para os próximos anos, entre 2024 e 2025, duas instalações do tipo com uma capacidade próxima já estão com inauguração prevista. A própria Innovafeed deve inaugurar um espaço desse porte até o final do ano que vem. Em 2025, será a vez da startup Protix inaugurar sua nova fazenda.
Na corrida dos aportes, segundo dados da plataforma Crunchbase, a Innovafeed lidera a lista do bolso mais cheio, com US$ 479 milhões. Depois dela, o pódio fica com a Ynsect e a Protix, com US$ 417 milhões e US$ 126 milhões recebidos, respectivamente.
Na pegada ESG, as alegações e benefícios de cada uma delas são distintos. A Ynsect diz que um quilo de proteína de larva da farinha consome 40 vezes menos água do que um quilo de carne de porco.
A Innovafeed, por sua vez, defende uma abordagem de desperdício zero. Todas as partes de um inseto são usadas, incluindo óleo de inseto para nutrição de aves e suínos, proteína de inseto para nutrição de aquicultura e excrementos (estrume de inseto) como fertilizante orgânico.
Já a Protix foca na capacidade dos insetos de consumir fontes de alimentos que de outra forma poderiam ser descartadas. “Os insetos têm a incrível capacidade de transformar resíduos alimentares de baixa qualidade em proteínas e gorduras valiosas de alta qualidade”, diz a empresa em seu site.
Dentre os investidores da Ynsect, estão a Astanor Ventures, Upfront Ventures e a FootPrint Coalition do ator Robert Downey Jr.
Com robôs movidos por IA e manipuladores humanos, essas fábricas produzem proteínas 24h por dia, todos os dias da semana.