No princípio, era só um sonho: comprar uma casa no Interior. A sua realização, no entanto, levou o empreendedor Júlio Mühlbauer bem além. O desejo virou projeto e o projeto, negócio.
Sem encontrar uma plataforma que unificasse ofertas somente de imóveis rurais, Mühlbauer se deparou com a oportunidade de fundar uma “Quinto Andar” do campo, numa referência plataforma digital que se tornou uma das líderes do mercado urbano de negócios imobiliários.
Juntou-se, então, ao empresário Valter Ziantoni, CEO da PretaTerra – consultoria especializada em projetos agroflorestais em mais de 20 países – e criou a ReLand, com capital inicial de R$ 1 milhão, totalmente aportado pelos dois sócios.
A experiência negativa da busca pelo imóvel guiou os primeiros passos da startup. Ao começar as buscas pela internet, ele se deparou com a dificuldade de encontrar um site na internet que congregasse tanto anúncios dispersos.
Além disso, foi reparando na falta de padronização dos anúncios, a exemplo das diferentes métricas. Metros quadrados, hectares, alqueires. Como medir, e como explicar tais medidas, para quem deseja investir em um imóvel rural, mas não entende estes detalhes?
“O mercado rural ainda é dominado pelo boca a boca, jornais e placas de venda, um processo de venda ainda muito descentralizado, em contraste com o mercado urbano já modernizado por plataformas como Quinto Andar”, comenta Mühlbauer.
Ele lembra que a plataforma urbana disponibiliza diversos filtros para facilitar a experiência de busca.
Criada em 2023, a ReLand conta atualmente com cerca de 2,6 mil propriedades. Os sócios afirmam que são 5,5 mil imóveis cadastrados, e têm como meta é alcançar 7 mil até o final do ano.
A diferença entre os dois dados vem do fato de que o restante das propriedades está passando pelas avaliações de documentação, fotos, vídeos de drone e demais etapas até que o anúncio esteja pronto para ir ao ar.
Por trás dos números, há proprietários diretos, corretores e cerca de 20 imobiliárias parceiras. O valor médio por imóvel é de R$ 470 mil, o que significa que o total comercializado pela empresa soma aproximadamente R$ 2,5 bilhões. E indica que, por enquanto, os anúncios estão mais focados em propriedades de menor porte.
Para monetizar o negócio, o modelo de rentabilidade consiste em comissão sobre a venda, sem planos de assinatura para quem anuncia o imóvel. Isso significa que, diferente de outras plataformas de vendas de propriedade que cobram planos de assinatura e se rentabilizam com base na permanência dos anúncios, a ReLand ganha na venda do imóvel.
“O valor primário é uma comissão padrão de 6%. A partir daí, oferecemos serviços adicionais, como uma coleta mais aprofundada de dados, anúncios destacados e todo o investimento de marketing. Com corretores imobiliários, fazemos uma parceria customizada”, conta Mühlbauer.
Legalidade dos imóveis
A ReLand busca investidores para apoiar a estruturação do back-end – a parte de dados e infraestrutura para a plataforma funcionar –, visando se tornar o principal mecanismo de busca e referência de preços de propriedades rurais no Brasil.
Segundo os fundadores, a empresa “pretende ser o Google e a tabela FIPE das fazendas e sítios do Brasil”. Para chegar lá, os sócios miram alcançar US$ 5 milhões em investimento, com foco especial na parte de documentação. Isso significa analisar criteriosamente a legalidade dos imóveis.
A busca pelos investidores parte de uma lista de contatos de Ziantoni, da PretaTerra, que tem enviado seu “pitch” para pessoas selecionadas, principalmente estrangeiros. O movimento já rendeu chamadas para entrevistas.
Uma das preocupações da dupla é que a descentralização da venda de imóveis rurais na internet pode resultar também em anúncios de propriedades que tenham falta de regulamentação, questões fundiárias pendentes ou ainda o risco de o imóvel nem existir e se tratar de um golpe.
Para evitar esses riscos, há uma série de responsabilidades legais que o anunciante deve preencher e aceitar antes de anunciar um imóvel, incluindo contratos em blockchain para garantir transparência no processo. Esses termos têm força legal e são auditados por um jurídico especializado em due diligence.
Valter Ziantoni esclarece que nenhum imóvel possui passivo ambiental, já que este é um dos filtros para que a propriedade esteja na plataforma.
“Se, eventualmente, algum imóvel apresentar passivo ambiental, a ReLand se responsabilizaria por devolver todas as taxas e porcentagens cobradas, sem exceção. Somos a única plataforma que realiza uma verificação completa de 100% dos imóveis”, afirma.
Compre um imóvel, ‘contrate’ uma agrofloresta
O investimento milionário que os sócios buscam também será destinado a agregar outras informações aos clientes: a capacidade de sequestro de carbono do solo e os potenciais usos da reserva legal para agrofloresta, permacultura e geração de créditos de carbono.
Por enquanto, caso haja interesse do comprador em implantar um sistema agroflorestal no imóvel, é possível contratar os serviços da PretaTerra paralelamente. “A gente entrega plantado, fazemos a documentação e queremos chegar a manejar essas terras para quem não tem esse conhecimento técnico”, diz Ziantoni.
Em breve, os sócios almejam inclusive informar o valor do imóvel em unidades de equivalência, como dólar, sacas de soja e até criptomoedas. Algo totalmente inovador, nas palavras dele.
“O nome ReLand veio de repensar o uso da terra, para uma solução regenerativa. É claro que temos vários tipos de compradores, mas tem muita gente interessada em fazer projetos de preservação e é assim que queremos nos posicionar”, conta Mühlbauer.