Em quase um ano e meio de existência, a plataforma Catalyst, veículo de investimentos da gigante global Corteva já aportou em nove startups. Agora, em junho de 2025, coloca sua primeira aposta brasileira no portfólio, fazendo jus ao país que é um de seus principais mercados globalmente.
Segundo contou ao AgFeed Tom Greene, diretor sênior da Corteva e líder global do Corteva Catalyst, a plataforma liderou a rodada Série A, de valores não revelados, de captação da agtech Symbiomics.
Criada pelos biólogos Rafael de Souza e Jader Amanhi, a companhia utiliza tecnologias de inteligência artificial (IA) para produzir microrganismos usados no campo.
O objetivo da companhia, segundo Souza, que atua como CEO, é “criar biológicos disruptivos e de nova geração com o que há de mais atual nas novas tecnologias, como edição genômica, machine learning e inteligência artificial”.
Participaram da rodada os investidores prévios da Symbiomics: The Yield Lab Latam, Arar Capital (gestora criada pela Baraúna Investimentos, family office de famílias tradicionais do agro paulista), Cazanga e MOV Investimentos. Na rodada pré-seed, realizada em 2023, a companhia havia captado cerca de R$ 15 milhões.
Greene, da Corteva Catalyst, afirmou que o investimento é estratégico para a plataforma de biológicos da empresa. “Somos globais e buscamos encontrar inovações onde ela está acontecendo. E há muito dessa inovação vindo do Brasil e da América Latina", afirmou.
“Especialmente no Brasil, que é líder em produtos biológicos, encontramos um parceiro que está na vanguarda da próxima geração desse segmento”.
A reportagem conversou com Green e Rafael de Souza na edição 2025 do World Agri-Tech South America Summit, realizado em São Paulo nesta semana.
O CEO da agtech contou que está entusiasmado com a rodada e citou que os recursos captados ajudarão o negócio em três frentes: internamente, acelerar a plataforma tecnológica, e no externo, acelerar registro de produtos e conquistar mais parceiros comerciais que de fato levem a tecnologia para o mercado.
Em conversa com o AgFeed em dezembro de 2023, o CEO da Symbiomics havia citado que a startup havia fechado um contrato com a Stoller, empresa focada em biológicos controlada pela Corteva, para comercializar um produto a nível global.
Tom Greene ressalta que, apesar da oportunidade global para a Corteva atuar com biológicos, o Brasil ainda é o principal mercado para implementação dessas tecnologias.
“O país fez um trabalho excelente ao criar uma estrutura regulatória que ajuda os produtos chegarem ao mercado mais rapidamente”, relembrou o executivo.
A Corteva entra, então, como um parceiro comercial da Symbiomics, explica Rafael de Souza. “Nosso modelo de negócio é licenciar tecnologias para empresas do mercado. Desde o começo buscamos parceiros que entendam isso e, na medida que conversamos com a Corteva, vimos que havia sinergia entre as plataformas”, acrescentou o CEO da startup.
Com o capital recebido na rodada pré-seed, anterior a esta liderada pela Corteva, a Symbiomics estruturou sua plataforma com 15 mil microorganismos da biodiversidade brasileira. Com machine learning, IA e análise de dados, consegue selecioná-los de forma robusta.
“Agora é momento de acelerar a entrada desses produtos no mercado. A Corteva ainda vai nos ajudar a realizar testes em locais diversos ao redor do Brasil”, disse.
Considerando os ritos regulatórios, a expectativa do CEO é que os produtos estejam comercialmente disponíveis na safra 2026/2027.
Na Corteva Catalyst, a Symbiomics é o nono investimento feito desde março de 2023. Tirando um investimento ainda não divulgado em uma startup americana em estágio inicial, a firma já investiu até agora na argentina Puna Bio, também de biológicos, nas europeias Micro Prep, de micropeptídeos, e na Solasta Bio, de inseticidas verdes.
Nos Estados Unidos, investiu na PairWise, o primeiro aporte do Catalyst, adquiriu os direitos do software Phenix, de agricultura de precisão, e fez aporte na Talam, também de biológicos. A companhia ainda investiu na israelense Ibi Ag, de bioinseticidas.
O perfil das startups mostra o apetite da Corteva dentro do universo de insumos biológicos. Tom Greene afirma que não há um foco definido, mas ressalta que algumas tecnologias como edição genômica e plataformas tecnológicas ganham mais atenção dentro do Catalyst.
“O foco dessa vertical é permanecer na vanguarda dessas tecnologias, pensando nas próximas gerações. Isso não apenas para plantas, mas também pensando em micróbios”.
“A Symbiomics, por exemplo, está na vanguarda da integração de recursos de edição de genes e alinhada com o que pensamos para a nova geração dos biológicos. Foi um bom encaixe no ponto de vista de portfólio”, acrescentou Greene.
No início do mês, o líder global de biológicos da Corteva, Frederic Beudot, conversou com o AgFeed e projetou que o mercado brasileiro de biológicos deve chegar a R$ 40 bilhões em seis anos.
Segundo ele, a adoção de insumos biológicos vem avançando no Brasil e no mundo, mas apenas um terço do potencial de produtividade das plantas está sendo aproveitado, o que reforça a expectativa de mais oportunidades para crescer.
O executivo ainda disse que hoje os biológicos já representam entre 7% e 8% da receita com defensivos da Corteva. O objetivo é triplicar o faturamento nesta área na próxima década.
"É o que estamos almejando, triplicar o tamanho do nosso negócio. Portanto, crescer significativamente mais rápido que o mercado. E acreditamos que temos as tecnologias e as equipes em todo o mundo. Cerca de 1,3 mil funcionários, dos 22 mil, se dedicam a produtos biológicos na Corteva ao redor do mundo. Portanto, uma parcela muito significativa da nossa organização já está focada apenas em produtos biológicos", afirmou.
Resumo
- Corteva lidera rodada Série A da brasileira Symbiomics, primeira startup do Brasil a receber investimento da plataforma Catalyst
- Agtech utiliza IA para desenvolver bioinsumos a partir de microrganismos da biodiversidade brasileira. Na rodada pré-seed, havia captado R$ 15 milhões
- Investimento visa acelerar o registro de produtos e parcerias comerciais, reforçando a presença da Corteva no mercado global de biológicos