Um dos maiores desafios para a indústria do ovo é o abate de pintinhos machos. Como eles não colocam ovos, sua serventia é nula, e estima-se que por ano, cerca de 7 bilhões de pintinhos machos são abatidos na indústria. O preço estimado em perdas com esse extermínio é de US$ 8 bilhões anuais.

O problema chama a atenção de todos, principalmente de organizações que representam direitos dos animais. Tanto é que no ano passado, França, Alemanha, Luxemburgo, Áustria e Itália proibiram o abate dos pintinhos. No Brasil, alguns projetos tramitam no Congresso Nacional.

As soluções para o problema estão surgindo ao redor do mundo, e já acumulam dezenas de milhões investidos em startups.

De outubro até agora, duas empresas que querem solucionar o mesmo problema captaram 70 milhões de euros para avançar seus negócios.

A startup alemã Orbem levantou 30 milhões de euros no mês passado em uma rodada liderada pela pela 83North, com a participação de La Famiglia, The Venture Collective e Possible Ventures. Em novembro, a holandesa In Ovo levantou 42 milhões de euros numa rodada liderada pelo Banco Europeu de Investimentos (EIB).

As soluções miram o mesmo problema, mas atuam de uma forma diferente. A Orbem combina o uso de exame de imagem por ressonância magnética com Inteligência Artificial (IA) para determina o sexo do filhote em apenas um segundo e ainda dentro do ovo, de um jeito não invasivo e sem contato.

Na prática, a empresa fundada em 2019 coloca o ovo numa esteira que o leva para uma caixa. Nesse momento, um aparelho de ressonância magnética mostra com imagens de alta definição o que há por trás da casca. A IA faz então a leitura dessas informações, com base nos cerca de 20 milhões de ovos já avaliados pela startup, nos últimos três anos.

Já a In Ovo desenvolveu uma plataforma tecnológica chamada Ella, que determina o sexo dos ovos para incubação numa fase inicial. Usando um método de amostragem automatizado, a máquina extrai pequenas quantidades de fluido alantóico de um óvulo, que pode então analisar para detectar biomarcadores de gênero.

Os ovos machos podem então ser descartados antes que o feto se desenvolva, deixando os incubatórios apenas com ovos fêmeas para incubar e eclodir. Esses ovos descartados tornam-se subprodutos transformados em proteínas em pó ou ingredientes para ração animal.

Além das soluções que analisam os ovos, existem movimentos para resolver o problema antes dessa etapa. Um artigo publicado pela agência Reuters em julho deste ano mostrou que existem iniciativas em Israel de modificar geneticamente as galinhas para que os ovos sejam sempre de pintinhos fêmeas.

Lá, a startup Huminn Poultry, criada por Yuval Cinnamon, desenvolveu a galinha Golda, que “só põe ovos fêmeas”.

Em entrevista ao site Israel21c, portal local especializado em tecnologia, a CEO Yaarit Weinberg, disse que a galinha não é comercial, mas que a tecnologia é possível de ser escalada. “A solução é tão escalável porque apenas carregamos a característica uma vez por linhagem e, devido à segregação genética, ela é propagada nas linhagens para sempre até chegar à Golda comercial – a mãe das galinhas que põem os ovos”, disse.

Quando os ovos da galinha Golda são expostos à luz azul por várias horas, o DNA editado é ativado para interromper o desenvolvimento de qualquer embrião masculino, deixando os embriões femininos intactos. “Golda deveria botar apenas filhotes fêmeas, mas para ter certeza, iluminamos todos os ovos que ela põe com luz azul”, explica.

As galinhas Golda e seus pintinhos são idênticos às galinhas poedeiras convencionais. A diferença está no cromossomo Z, que é transferido da mãe galinha apenas para os machos.

“A raça Golda contém o gene, mas as galinhas que põem os ovos são 100% do tipo selvagem”, diz Weinberg. A Poultry by Huminn está agora em negociações com potenciais parceiros e investidores estratégicos para se preparar para a comercialização.

Também em Israel, duas outras empresas buscam ganhar esse mercado.

Na cesta da SooS Technology, os ovos são expostos a vibrações acústicas específicas durante os primeiros seis dias de desenvolvimento embrionário.

Essas ondas fazem com que os pintinhos machos desenvolvam ovários e eclodam após os habituais 21 dias como pintinhos fêmeas com a capacidade de botar ovos.

Os sons não têm efeito em pintinhos genomicamente fêmeas. “Nosso tratamento é seguro para os embriões, não intrusivo para os óvulos e não envolve qualquer forma de modificação genética ou intervenção hormonal”, afirma Alon Gozlan, vice-presidente de desenvolvimento de negócios ao site Israel21c.

A SooS Technology já recebeu aportes de US$ 9 milhões de investidores como a Excel NY, SIBF, TAKWIN e da Universidade de Cornell, nos EUA.

Já a startup eggXYt usa a ferramenta de edição genética CRISPR para editar os genes das galinhas, de um jeito que os ovos com machos são detectados por um aparelho de ultrassom.

Esses ovos com machos são removidos para que nenhum recurso seja gasto em sua incubação. Com isso, esses ovos são vendidos para indústrias não alimentícias como a farmacêutica ou a cosmética.

“Nossa tecnologia é única porque podemos realizar a sexagem no dia zero, quando os ovos estão sendo postos, o que é o mais cedo possível”, disse o CEO da empresa, Yehuda Elram ao Israel21c,  observando que, embora a matriz seja geneticamente editada, nem as fêmeas poedeiras nem seus ovos são modificado geneticamente.