Iniciativas ESG acontecem por toda a parte, ainda mais depois que esse tipo de discussão, principalmente a ambiental, virou protagonista de debates entre países e órgãos reguladores.

Existe um grande problema, contudo, nesse tipo de discussão: como mensurar impactos e atestar que a produção está sendo feita da melhor forma.

Essa questão virou negócio para a startup catarinense ManejeBem. A empresa desenvolveu, através de dados colhidos em campo, uma espécie de “censo” de produtores baseado na mensuração da sustentabilidade de suas propriedades.

“Vemos, em um futuro próximo, um produto de inteligência de mercado. Isso vai vir ser a próxima pegada da ManejeBem”, afirma Juliane Blainski, CEO da empresa.

Ela fundou a empresa juntamente com a colega de faculdade Caroline Pimenta, atual COO. A iniciativa, explicam, tem como missão promover desenvolvimento sustentável de comunidades rurais em vulnerabilidade através da tecnologia.

Na prática, a startup atua em duas frentes. Com empresas da agroindústria, consegue mensurar as práticas feitas pelos fornecedores de matérias primas para essas companhias, bem como prestar uma espécie de consultoria e fornecer dados a essas indústrias.

Do lado dos pequenos produtores, ajuda-os por meio da divulgação de conhecimentos de manejo e práticas sustentáveis.

Esse produtor é aquele considerado vulnerável, como explicaram as executivas ao podcast Rural Ventures, apresentado por Fernando Rodrigues, CEO da Rural Ventures, e Kieran Gartlan, sócio e responsável pela operação no Brasil da Yield Lab, gestora americana especializada em fundos para investimento em agtechs e foodtechs.

Juntando as duas frentes, a ManejeBem propõe ajudar grandes corporações a relacionar-se com produtores familiares fornecedores de matérias-primas das mesmas. A startup atua estruturando cadeias produtivas e trabalhando para que práticas ESG sejam devidamente aplicadas, rastreadas e monitoradas.

Nessa relação com os chamados “produtores vulneráveis”, a empresa monta um checklist e encabeça os problemas de cada caso. A partir dali, fazem uma correlação entre custos e impacto do que pode ser feito para solucioná-los.

“Queremos capacitar o produtor para ele melhorar sua produtividade e até uma gestão financeira. Pegamos conteúdos da Embrapa, traduzimos para uma linguagem mais simples, e distribuímos para esses produtores”, afirma a COO.

A companhia possui diversos serviços para esse produtor. Além da plataforma e do aplicativo, mantém chatbots que tiram dúvidas desses agricultores, tudo integrado via Whatsapp.

A ideia da ManejeBem nasceu em um ambiente nem sempre propício para negócios, o mundo acadêmico. Blainski e Pimenta possuíam o mesmo orientador, o professor Robson Di Piero, enquanto faziam doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Ambas atuavam em pesquisas relacionadas à biotecnologia, produziam artigos e estudos que, em sua maioria, se restringiam à universidade.

Essa situação colocou uma pulga atrás da orelha das fundadoras, que viram uma oportunidade de difundir informações produzidas no ambiente acadêmico para os produtores do mundo real.

As duas se juntaram e foram selecionadas em um edital do instituto Social Good Brasil, que queria transformar ideias em negócios práticos.

Após entrevistar centenas de produtores rurais, criaram a Fitocon Consultoria Agrícola, que viria se tornar a ManejeBem um tempo depois. “Saímos do processo com um CNPJ”, destaca a CEO da companhia, Juliane Blainski.

A hipótese inicial de ambas, de que o conhecimento acadêmico não chega ao produtor familiar no Brasil, era verdadeira, mas o buraco era mais profundo.

Existia sim a questão da falta de assistência técnica no cultivo. Mas, para além das questões de manejo, esse produtor, que geralmente pratica agricultura de subsistência, tinha problemas de renda, moradia, falta de acesso a luz e internet.

“Não tinha como chegar e falar que ele precisava de análise de solo”, comenta Caroline Pimenta.
Como o desafio era mais amplo, as duas voltaram para a mesa de planejamento. Até porque a ideia inicial era montar uma plataforma, uma espécie de rede social para o agricultor.

“Criamos um grupo no WhatsApp com produtores de orgânicos e técnicos para discutir o que faltava, entender as dores. Santa Catarina é um estado exemplo da agricultura familiar, mas fora dali era diferente”, conta Pimenta.

Hoje, segundo o site da empresa, a ManejeBem impacta cerca de 1 milhão de agricultores familiares e técnicos agrícolas em 14 estados brasileiros.

Com o novo plano de negócios, a companhia fez uma captação de recursos em 2021 e já prepara o terreno para uma próxima, em 2024.

Nessa primeira, participaram a BossaNova Investimentos e a Agroven. Para além do recurso financeiro, as executivas afirmam que os contatos feitos a partir desses investidores e as dicas dadas foram fundamentais para encurtar ciclos de venda da empresa.

“A captação em 2021 foi importante para essa evolução na tecnologia, mas o principal foi a ajuda intelectual”.