Até pouco tempo, se falava na democratização do acesso ao mercado de capitais. Negociar ações não era para qualquer um, mas os novos produtos financeiros ficaram mais acessíveis ao pequeno investidor e o mesmo deve ocorrer com o venture capital.

Exemplo disso é a mais recente iniciativa da Rural Ventures, empresa de capital de risco que quer agora aproximar as pessoas físicas das startups tecnológicas do agronegócio, as agtechs.

A empresa de investimentos está montando um fundo que colocará dinheiro em agtechs que ainda estejam em estágio inicial, e que será aberto aos pequenos investidores. “Queremos democratizar o acesso a estas startups, que têm bom potencial de crescimento e retorno”, diz Fernando Rodrigues, um dos cinco sócios da Rural Ventures.

Atualmente, as agtechs investidas pela Rural Ventures contam com recursos colocados diretamente pelos sócios. Para construir a base e dar peso ao fundo, Rodrigues conta com a atuação inicial de 15 empresários do setor.

“Já estamos fechados com oito, e até o final do ano teremos estes 15 nomes. Em 2024, vamos abrir o fundo para outros investidores, com foco inclusive no varejo”, diz Rodrigues.

Ele conta que os 15 empresários não serão somente investidores. “Eles vão ajudar na seleção das empresas que receberão investimentos. As fazendas e empresas que eles comandam vão servir como ambiente para testar os serviços e as funcionalidades das startups”.

Rodrigues explica que um dos benefícios de se participar deste fundo é a possibilidade de resgate antes que o fundo saia de uma empresa. “Se de repente o investidor precisa do dinheiro, ele não precisa esperar até oito anos. O fundo consegue liquidar o resgate e se recompor”.

Um diferencial da Rural Ventures em relação a outros veículos, segundo Rodrigues, é exatamente a participação ativa nas agtechs. “O aporte de dinheiro é só o início do trabalho. Nós passamos a fazer parte do conselho das empresas, mudamos estratégias, contratamos pessoas”.

Com pouco mais de um ano de atividade, a Rural Ventures tem seis empresas em seu portfólio. A mais recente é a Agroboard, empresa que fornece informações aos produtores rurais para que possam tomar decisões, inclusive sobre o momento de vender os produtos.

Rodrigues afirma que a meta é investir em mais 10 empresas, com valor de mercado de até R$ 30 milhões, com aportes que somem até R$ 5 milhões.

Por terem começado somente no ano passado, a Rural Ventures ainda não tem perspectiva de saída para estes investimentos, até por entrar no estágio inicial das startups. “No retorno, temos uma métrica de 3 vezes a 3,5 vezes do valor investido”, conta Rodrigues.

Momento difícil facilita o trabalho

O sócio da Rural Ventures afirma que o ambiente econômico atual, principalmente com os juros altos, leva a uma escassez de dinheiro para este tipo de investimento.

“Mas no fim, isso facilita o nosso trabalho. Nós procuramos empresas com teses já validadas. E uma startup que sobrevive neste momento mais conturbado já se prova mais resiliente”, diz Rodrigues.

Ele traça ainda uma diferença entre as agtechs brasileiras em relação às de outros lugares do mundo, especialmente as americanas.

“Por lá, as empresas são formadas para cuidar de problemas que ainda vão surgir, e podem até nem chegar a existir. No Brasil, as startups são formadas para ajudar em problemas reais e atuais do produtor rural. É uma direção mais segura”, diz.

Rodrigues trabalhou 20 anos no mercado financeiro, sendo 10 deles na XP, onde ajudou a montar a mesa de commodities. Em 2021, saiu da casa de investimentos, foi estudar tecnologia por um ano, e depois montou um podcast.

“Neste podcast, comecei a receber convites para participar de conselhos de startups. A partir daí, eu e meus sócios, que atuam no agronegócio, têm fazendas, resolvemos montar a Rural Ventures”.

Recentemente, a Rural Ventures adquiriu uma participação minoritária na The Yield Lab Latam, outra gestora de capital de risco que faz aportes maiores em agtechs de toda a América Latina.

“Fizemos este movimento mais para ter acesso a uma base de dados global, e comparar com o Brasil. Assim, conseguimos acompanhar o que está acontecendo e tomar melhores decisões”, diz Rodrigues.