Se na agricultura, diversas empresas estão apostando em caminhos naturais no manejo de diversas culturas, a startup mineira 88 Agro-Vetech traça uma rota parecida, mas no universo da nutrição animal.
Há um ano, a empresa, que começou sua atuação em 2021 focada na nutrição vegetal via adjuvantes, lançou um substituto natural, feito à base de plantas, para o zinco na dieta de suínos.
Agora, quer substituir também o trato medicinal desses animais, com um fitoterápico que pode ser usado no lugar de antibióticos. Com um aporte de R$ 6 milhões recebido da 97 Investimentos, a empresa começou a produzir o TechFeed, que é feito a partir de óleos essenciais e extratos de plantas.
A meta é faturar R$ 15 milhões com o novo produto nos próximos doze meses, segundo afirmou o sócio administrador e pesquisador da startup, João Antônio Zanardo.
Ao AgFeed, ele explicou que a lógica por trás dessa estratégia vai ao encontro das demandas europeias e do mercado consumidor de proteínas animais. “Com a demanda crescente em nível global, animais começaram a passar por diversos fatores de stress como superlotação, calor e também com problemas climáticos, e com isso, o desempenho dos animais começou a cair”, explica.
Então, o mercado desenvolveu uma série de aditivos nas rações e, desde a década de 1960, antibióticos, normais para o trato humano, foram parar também nas granjas e confinamentos.
Adicionando esses compostos nas rações, o trato gastrointestinal melhora e o animal converte melhor o alimento em peso.
Tudo começou a virar na metade dos anos 2000, quando a Europa verificou que as bactérias estavam se tornando resistentes ao tratamento. “Aí também veio o óxido de zinco, que era usado no Brasil até 2022, que foi proibido também. Por aqui, o Mapa ainda tem limitado vários antibióticos”, acrescentou Zanardo.
No caso do óxido de zinco, além do problema de resistência das bactérias, dejetos de suínos com o elemento usados como adubação acabaram contaminando o solo e alguns lençóis freáticos.
A 88 Agro-Vetech acabou de conseguir a aprovação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para vender o fitoterápico.
Para o futuro, a startup está trabalhando para desenvolver probióticos e também entrar na cultura dos bovinos, com um produto que reduza a emissão de metano por parte dos animais.
Pedro Conrado, que investiu na empresa por meio da 97 Investimentos, conta que viu uma oportunidade do negócio crescer com uma “solução sustentável para um problema mundial”.
“Começamos a atuar dentro de um mercado bilionário: aditivos para rações de frango e porto. Se conseguirmos estender para os bois, o mercado é ainda maior, com muitas oportunidades no mercado europeu”, disse o investidor.
O tamanho do mercado global de antibióticos para ração animal é estimado em US$ 3,71 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 4,45 bilhões até 2029.
Outra aposta da empresa é atuar no mercado de peixes e camarões no Nordeste brasileiro, algo que está em fase de testes.
Segundo Conrado, o produto segue uma tendência mundial para resolver a dor de alguns produtores que desejam exportar para mercados consumidores exigentes. “Já estamos em conversas para exportar o fitogênico, mas devemos começar nos mercados da América Latina por questões burocráticas”, afirmou.
O investimento recebido serviu para montar uma fábrica em Uberlândia (MG), que hoje possui capacidade de produzir 300 toneladas por mês do fitogênico. O foco está no B2B e o produto é vendido para distribuidoras de produtos para animais.
“Focamos em parceiros para atender cooperativas e grandes indústrias do mercado de suínos e aves. Há uma grande concentração no Sul, por conta da produção forte local”, disse. Apesar disso, a empresa também tem tido demanda de produtores mineiros e do Mato Grosso.
Dentre os clientes, João Zanardo cita a Nutriminas, Nutricamp, que atende o estado de São Paulo, e uma “empresa multinacional grande no mercado de naturais”.
Nos testes do Techfeed, feitos em parceria com a UFLA (Universidade Federal de Lavras), o controle do trato intestinal mostrou que os animais saíram, em média, do período de “creche” com 500 gramas a mais no seu peso ante um tratamento tradicional.
Nas fases de terminação (entre os 80 dias de vida até o abate), os suínos saíram 2 quilos mais pesados.
O fato da startup conseguir manter o desempenho do animal e em alguns casos até incrementá-lo também chamou a atenção de Pedro Conrado. “Algumas tentativas de substituição do óxido de zinco na Europa mostraram queda no desempenho”, diz.
A empresa não divulga o faturamento, mas espera faturar algo superior aos R$ 10 milhões, em linha com a receita de 2023. “Continuamos extremamente otimistas e com conversas fortes com distribuidores. Atingir a casa de 8 dígitos é factível”, afirmou Pedro Conrado.