A startup francesa CarbonFarm levantou 2,5 milhões de euros, ou US$ 2,6 milhões em uma rodada de investimentos do tipo seed, num movimento que teve a participação de AgFunder, Climate Capital, BPI França e Racine2.

Os recursos devem ser aplicados em uma plataforma que tem como objetivo integrar produtores de arroz ao mercado de carbono, estimulando-os a adotar práticas para reduzir as emissões no cultivo e, assim, ampliar ganhos com a comercialização de créditos.

Criada em 2021 pelo atual CEO Vassily Carantino, a empresa promete verificar a produção e mensurar esses créditos com o auxílio de imagens de satélites e de uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA) desenvolvida especificamente para esse fim.

Segundo explicou o CEO ao AgFunder News, o veículo de comunicação do fundo que investe em agtechs, a CarbonFarm atua “de ponta a ponta” com seus serviços, que englobam o monitoramento de práticas via satélite, quantificação de emissões de gases de efeito estufa, gerenciamento do processo de certificação de carbono e a corretagem de créditos em mercados voluntários de carbono.

Nos cálculos do CEO, um agricultor pode obter até 20% de lucros adicionais por ano com a venda dos créditos.

Na prática, quando um produtor de arroz implementa práticas sustentáveis no cultivo, a CarbonFarm verifica, por satélite, os impactos dessas mudanças. Com essa “prova”, que é captada pelo modelo de IA da empresa, da redução das emissões, o agricultor pode reivindicar créditos de carbono proporcionais À redução de emissões ou o sequestro do carbono.

O arroz foi a cultura escolhida pela CarbonFarm por ser simultaneamente causa e vítima das alterações climáticas. De um lado, a cultura é responsável por cerca de 12% das emissões globais de metano.

Do outro, existe um caminho para mitigar as emissões de gases com efeito de estufa através de práticas como o aumento da eficiência dos nutrientes e o método Alternativo de Molhagem e Secagem (AWD), que pode reduzir as emissões de metano do arroz em até 48% de acordo com um estudo do Banco Mundial.

“Em termos de potencial de mitigação, é na verdade maior do que outras categorias na agricultura”, disse Carantino.

Até o momento, alguns dos maiores clientes da CarbonFarm incluem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (ONU), a Danone e a Mars. Com o dinheiro captado, a empresa espera expandir a tecnologia para as maiores regiões produtoras do grão: Ásia, África e América do Sul.

A CarbonFarm não trabalha diretamente com agricultores, mas sim com compradores de arroz, promotores de créditos de carbono, governos e outros que têm acesso direto aos agricultores, numa maneira de trazer mais confiança ao negócio.

Quando Carantino e seus colegas fundaram a empresa, poucos atuavam na descarbonização da produção e, menos ainda, para emitir créditos de carbono para aspectos mitigatórios.

“Foi muito difícil trazer provas de que os agricultores tinham mudado as suas práticas e que essa mudança levou a uma redução nas emissões”, afirmou o CEO.

A tecnologia dos satélites caiu como uma luva para a ideia, pois a medição adequada das reduções de emissão em milhares de hectares exige um monitoramento contínuo das novas práticas.

“É difícil pedir ao agricultor que seja o juiz e aquele que fornece esta informação ao comprador. Quando você usa satélites, você usa informações que são independentes por natureza e imparciais”.

O desafio do negócio é prosperar num mercado de carbono que ainda é incipiente no mundo e sofre com greenwashing e falsas promessas espalhadas pelo globo.

Na CarbonFarm, a empresa lida com o processo de certificação com programas de compensação de carbono da Verra e Gold Standard. A primeira foi alvo de uma reportagem recente do jornal The Guardian que alegou que mais de 90% dos créditos de carbono da floresta tropical emitidos pela Verra eram suspeitos de manipulação. Depois disso, a empresa até mudou sua metodologia.

De acordo com Carantino, o CarbonFarm custa US$ 25 por crédito, “mais alto do que os tradicionais US$ 5 por crédito de outras soluções”. Ainda assim, ele acredita que haverá interesse de empresas em pagar mais para terem a certeza de que fazem parte de um processo confiável e transparente.

“Muitos compradores esperam agora algum tipo de regulamentação do carbono, algum imposto sobre o carbono no futuro, e querem estar preparados e garantir um fornecimento de créditos de alta qualidade e que resistam ao escrutínio do regulador. Para eles, a transparência é muito importante e estão dispostos a pagar um preço mais elevado por isso”, afirmou Carantino.