Há uma década, quando a Bossa Invest, uma das maiores gestoras de venture capital do país, foi criada, as agtechs ainda não haviam ganhado a tração de investimentos e tecnologia que viriam a ter pouco tempo depois.
Por isso, em seus primeiros anos, a casa criada por João Kepler e Pierre Schurmann – e que tem como sócios o grupo BMG, Thiago Nigro, o criador do canal Primo Rico, e Janguiê Diniz, fundador do grupo Ser Educacional – não fez investimentos em empresas do agro.
Na época, a gestora estava focada em startups com modelo B2B SaaS, em que as empresas oferecem software como serviço a outras companhias, e não via soluções alinhadas a essa tese no setor.
“Mas vemos que hoje, no mercado do agro, software está acelerando e crescendo de forma mais intensa”, afirma Daniel Coimbra, head de Venture Capital da Bossa Invest.
Foi apenas há cinco anos que a gestora passou a investir em agtechs, iniciando com a Gado Certo, marketplace de pecuária, no fim de 2020. Desde então, os aportes no setor cresceram consideravelmente, chegando a 17 startups e R$ 9,6 milhões investidos.
A meta agora é dobrar esse número até o fim de 2026, ultrapassando 30 investimentos em agtechs, com mais R$ 10 milhões a serem aportados, totalizando R$ 20 milhões investidos, considerando tanto novas quanto empresas já no portfólio — que, de uma forma geral, reúne quase 300 startups voltadas a diferentes segmentos.
Como os cheques da Bossa variam entre R$ 100 mil a R$ 3 milhões, a quantidade de novas investidas pode variar, segundo Coimbra.
“É que existem soluções que às vezes demandam capital mais relevante e a gente acaba fazendo um cheque maior. De qualquer forma, a expectativa é de dobrarmos a nossa exposição de capital nas agtechs até o fim de 2026”, explica.
Na captação de startups, a Bossa busca diversidade, de acordo com Coimbra. “Gostamos muito de dados voltados para o clima, parte preditiva de monitoramento climático, além de sustentabilidade, ESG, crédito e logística”, afirma.
Isso fica evidente ao analisar o portfólio de investimentos feitos até aqui pela Bossa, que reúne empresas com atuações diferentes entre si, ainda que todas tenham um pé forte na tecnologia e análise de dados.
Entre as investidas, estão agtechs como Sette, fusão da Bart Digital e A de Agro, que possui uma plataforma de análise de risco para o crédito agrícola, B4A, especializada na análise genômica do solo, e Tarvos, que desenvolve sistemas de detecção de pragas.
A Bossa também aposta em teses menos comuns no venture capital voltado ao agro, como a agricultura familiar.
Um exemplo de investimento é a ManejeBem, startup que usa tecnologia para auxiliar pequenos produtores na adoção e mensuração de boas práticas agrícolas, que recebeu um aporte da gestora em 2021.
"É uma tese mais desafiadora, mas gostamos também de pensar como que a gente consegue encontrar soluções que ajudem na inclusão da agricultura familiar no mercado", afirma Coimbra.
Na hora de escolher onde investir, o head de venture capital da Bossa afirma que a gestora também acompanha de perto os aportes realizados por outras instituições.
"Observamos, por exemplo, as startups selecionadas pela Fapesp para receberem apoio com o nosso cheque", diz Coimbra, em referência à agência de fomento do governo de São Paulo.
Apesar de ter feito mais de 100 saídas considerando toda a sua carteira, a Bossa ainda não fez nenhum exit de suas agtechs.
Sem identificar nomes, Coimbra diz que houve um primeiro movimento nesse sentido vindo de uma startup que é mais focada em deeptech, cuja tecnologia despertou o interesse de uma grande companhia mundial ligada ao agronegócio.
"Eles fizeram uma parceria de investimento, mas com previsão de compra de controle até 2027. O valuation de saída supera a casa dos R$ 100 milhões", afirma.
Pool de investimentos
Um negócio a ser fechado ainda neste ano é um pool de investimentos em agtechs, basicamente um grupo de investidores que reúne seus recursos para diluir riscos e ganhar sinergia. A Bossa já fez 79 pools e tem largo know-how nesse tipo de operação.
João Pedro Ribeiro do Val, diretor comercial da Bossa, explica que o pool funciona de forma inversa ao procedimento-padrão das startups, que geralmente abrem rodadas de investimento atrás de cheques – nesse modelo, a gestora primeiro vai atrás de investidores e depois os conecta com as empresas.
“Captamos com empresários do setor e pessoas que queiram investir em agtechs e a gente torna esses investidores líderes desses pools para que eles possam participar da seleção junto conosco. Com isso, eles podem encontrar não só as sinergias com as empresas que eles possuem, como também ajudar ativamente essas empresas a escalarem”, explica o diretor comercial da Bossa.
Ele é econômico nos detalhes quanto ao novo pool que está sendo negociado, mas adianta que os investidores se trata de uma família de empreendedores que possui uma grande empresa do setor e que pretendia investir em startups.
“Essa família tem basicamente uma história muito dedicada ao agro na sua essência. Estão num momento de diversificação e entenderam que formar um pool de agtechs pode ser benéfico não só para o negócio deles, que é grande, com um porte interessante, mas também se valerem do upside de todas as empresas”, diz Ribeiro do Val.
A transação está avançada e, se transcorrer como o previsto, deve sair nos próximos meses. “Acho que a gente consegue entrar o segundo semestre já com o pool pronto, com o dinheiro para investir”, diz o diretor da Bossa.