“Os produtores que entrarem na jornada de digitalização não colhem apenas soja, mas também dados. E com essa colheita, eles plantam uma eficiência maior na próxima safra”.

Foi dessa forma que Abdalah Novaes, head de soluções agrícolas digitais da divisão de CropScience da Bayer para a América Latina, resumiu as novas tecnologias de agricultura digital que a empresa está planejando para os próximos anos.

Segundo disse o diretor ao AgFeed, a empresa pretende lançar uma série de produtos que se aproveitam dos dados para dar insights aos fazendeiros nas próximas safras para os produtores brasileiros e também de fora.

A ideia é complementar os serviços da plataforma digital de agricultura Climate FieldView, que já possui globalmente cerca de 90 milhões de hectares mapeados. O Brasil representa 25 milhões de hectares deste total.

O passo inicial para esses novos lançamentos foi dado em 2023, quando a empresa anunciou a criação do Azure Data Manager for Agriculture, ou ADMA, em uma parceria com a Microsoft.

Segundo Novaes, o grande diferencial do produto, que é um serviço na nuvem para hospedar dados coletados de produtores, é permitir que plataformas de diferentes empresas usem uma linguagem em comum para conectar os dados.

A intenção é eliminar um dos principais problemas da agricultura digital, que é essa intra-operação. “É uma solução que está em desenvolvimento com clientes em pilotos no Brasil e no mundo. Independente de onde os dados sejam coletados, queremos ter uma solução que traga o mesmo ‘repositório”, afirmou.

Uma vez que os dados estejam no ADMA, a Bayer já começa pensar em como usá-los de forma otimizada. Daí que vem o segundo lançamento, o Agripilot, uma versão agro do tradicional CoPilot, assistente de chatbot da Microsoft.

O programa deve trazer uma espécie de “Chat GPT para os produtores”, segundo Abdalah Novaes. Uma vez que as informações já estão coletadas em conjunto com o FieldView e o ADMA, o produtor pode, por meio do programa, tirar dúvidas sobre sua própria produção.

“Começamos a criar um bot que tenha a inteligência para fazer o que o GTP faz para nós: acessar uma base de dados, ver o que está disponível e prover uma resposta. A diferença é que agora ele não usa uma base comum e sim a própria informação do produtor”, disse.

Segundo Novaes, a entrada do ADMA na jogada amplia o espectro de dados, já que será possível ter informações vindas de outras plataformas. No chat, o produtor pode, por exemplo, tirar dúvidas sobre dados de plantio, velocidade das máquinas, vazão de aplicação, dados de população e massa foliar.

Os desenvolvimentos não param por aí. A empresa ainda pretende lançar mais dois produtos na mesma linha, que também se aproveitam dos dados para ajudar os produtores.

Outro programa será o FV (FieldView) Advisor. O programa tem o objetivo de responder “o porquê de a grama do vizinho ser mais verde” e ajudar o produtor a escolher a melhor variedade e manejo para o cultivo e colheita.

“Atualmente o produtor separa alguns hectares da plantação para cultivar variedades e, no final da safra, vê qual se adaptou melhor, avalia com os vizinhos quais foram usadas e toma uma decisão de plantio para a próxima safra. Queremos trazer essa decisão para o mundo digital”, diz.

A ideia com o FV Advisor é trazer uma espécie de avaliação que os consumidores geral usam ao comprar um produto pela internet, só que para produtores escolherem a melhor cultura e manejo para a safra.

O FieldView já tem um serviço parecido, que informa o produtor o quanto ele está atrasado, adiantado ou em linha com o ritmo de plantio da região e com a produtividade local.

Esse novo programa, que deve começar oferecendo essa solução para a soja, está sendo testado com centenas de produtores, que podem comparar seus talhões com outros em um determinado raio de distância e descobrir, de forma anônima, como outros produtores, também sob sigilo, estão trabalhando.

“Acreditamos que a agricultura digital vai permitir o nosso processo produtivo de ser mais colaborativo”, acrescenta Abdalah Novaes.

Todas essas informações coletadas também ajudam um outro produto, o CropScore, que também está em desenvolvimento pela Bayer. Essa frente quer criar um score de produtividade para auxiliar o produtor a comprar um seguro agrícola que leve em conta todo o manejo.

“As seguradoras não têm essa informação, não entram tanto no detalhe. Mas com isso em mãos, o produtor pode provar para a empresa que ela pode vender um seguro com preço menor por conta de seu histórico”, explicou o diretor.

O produto também está em desenvolvimento, em conjunto com algumas empresas de seguro no Brasil.

De todos esses produtos, o Agripilot, que tem parceria com a Microsoft, está mais adiantado. A ideia é finalizar a solução nessa safra 2023/2024, fazendo com que que na colheita da próxima ele já esteja em fase comercial.

A expectativa é que o FV Advisor também chegue comercialmente aos produtores nessa mesma época, daqui a um ano. Nesse momento, contudo, os serviços ainda não estarão completamente integrados e a ideia é começar esse processo a partir dali.

“A agricultura digital é um caminho sem volta e os produtores que entram nesse mundo têm se tornado cada vez mais eficientes. Ao mesmo tempo, eles asseguram que a tecnologia comprada, seja de sementes ou defensivos, atinja seu potencial máximo”, afirma Novaes, da Bayer.

O desenvolvimento dessas soluções ocorre simultaneamente no Brasil e no resto do mundo, mas segundo Novaes, o foco primordial e os produtores que participam desses testes estão por aqui.