Durou pouco mais de um ano a vida corporativa da Mineral, aposta da Alphabet para se tornar uma potência no campo da agricultura digital.

Nesta quarta-feira, a empresa controladora do Google anunciou que vai fechar a startup, que no ano passado havia sido promovida ao status de subsidiária independente, depois de três anos encubada no Mooonshot X, laboratório de inovação da gigante de tecnologia.

A decisão foi tomada após os executivos da Mineral não terem conseguido mostrar à Alphabet que teriam capacidade de desenvolver um modelo de negócios viável para fazer escalar a produção do Mineral Rover, seu robô agrícola autônomo.

Tudo o que envolvia a Mineral era cercado de expectativa. Lançada em 2020 como uma como uma divisão do Moonshot, a startup prometia usar seus robôs, que itlizavam câmeras, sensores e inteligência artificial (IA) para identificar anomalias nas plantas enquanto percorriam as lavouras.

Tudo que envolvia a Mineral era também envolto em mistério. Os executivos da empresa raramente falavam sobre os avanços da tecnologia e de potenciais clientes.

No ano passado, um dos Rovers produzidos chegou a ser exibido no estande da Syngenta na Agrishow, em Ribeirão Preto.

O AgFeed revelou, então, que as duas empresas mantinham uma parceria que permitia à Mineral utilizar os campos experimentais da fabricante de insumos em Uberlândia (MG) e Holambra (SP) para que seus robôs coletassem dados em grande escala para alimentar suas ferramentas de inteligência artificial.

A Syngenta era uma das poucas parceiras publicamente declaradas da Mineral. Mas era em sigilo que equipes da startups frequentavam os campos brasileiros desde 2020, acompanhando o incessante trabalho de dois Rovers trazidos para cá. E até para mostrar o robô na Agrishow foi necessária uma autorização especial da Alphabet.

“Eles são capazes de produzir 64 fotografias por segundo, potencializando o treinamento rápido e de qualidade do modelo computacional criado pela Mineral para identificação de plantas daninhas”, disse ao AgFeed, na ocasião, Mariana Lobatto, gerente de marketing de Produtos da Syngenta Digital.

O futuro dos Rovers, agora, está nas mãos de alguns clientes que concordaram em licenciar a tecnologia. Um deles é a Driscoll’s, produtora de frutas da Califórnia, que utiliza os robôs para prever a produtividade de suas lavouras.

“Estamos transferindo nossa tecnologia para o ecossistema agrícola para maximizar o impacto de levar nossa IA para a agricultura”, comunicou a Mineral em um memorando obtido pela Bloomberg. “A Mineral não será mais uma empresa Alphabet e nossa tecnologia viverá dentro de agronegócios líderes, onde eles podem ter o máximo impacto.”

Também à Bloomberg, Scott Komar, vice-presidente sênior de pesquisa e desenvolvimento global da Driscoll’s disse ter ficado “realmente decepcionado” com a decisão da Alphabet.

“Realmente tivemos uma ótima parceria com a equipe da Mineral e, do nosso ponto de vista, eles estavam apenas ganhando altitude de decolagem. E então, de repente, os planos mudaram.”

Embora Kormar não tenha compartilhado os termos do acordo, ele disse acreditar que a licença daria à Driscoll's o direito de usar a tecnologia perpetuamente.