O Brasil tem 45 startups de inteligência artificial ligadas ao agronegócio e, juntas, elas receberam US$ 199 milhões em investimentos desde 2018. É o que informa o Report IA no Agro produzido pelo Distrito, uma das principais plataformas de tecnologias emergentes da região. O valor representa 90% do total investido nesse setor na América Latina (US$ 221 milhões).

Os números mapeados pelo estudo, obtido em primeira mão pelo AgFeed, ainda são modestos diante do tamanho do agronegócio brasileiro. “Quando a gente compara o número de startups voltadas para o agronegócio com aquelas de serviços financeiros, por exemplo, existe ainda uma discrepância muito grande”, diz Gustavo Gierun, CEO do Distrito.

Segundo o levantamento, o melhor ano para as agtechs de IA foi 2022, com captação de investimentos de US$ 117,2 milhões – quando o setor de capital de risco (venture capital), que investe em startups, estava entrando em uma profunda crise.

Depois disso, em 2023, o volume de recursos aportados caiu abruptamente para US$ 5,8 milhões, já refletindo o encolhimento dos investidores de risco.

Gierun acredita, entretanto, que os investimentos devem voltar a crescer nos próximos anos, conforme o potencial econômico da tecnologia.

“Vimos que o mercado global (para IA no agro) deve sair aqui de algo como US$ 1,7 bilhão para US$ 4,7 bilhões nos próximos cinco anos. Ou seja, deve quase que triplicar”, afirmou ao AgFeed.

O ano de 2022 marca, de fato, a primavera da IA. Foi quando a OpenAI lançou o ChatGPT, que derrubou barreiras de acesso à tecnologia. “No passado, para rodar inteligência artificial eram necessários servidores gigantescos, com uma capacidade de processamento absurdo”, disse Gierun. “Inteligência artificial no Brasil era privilégio de grandes empresas como Itaú e Bradesco”.

O relatório do Distrito identifica os cinco principais impactos da IA no agro: no cultivo (estudo detalhado das plantas, monitoramento do clima e insights sobre crescimento e suprimentos), em equipamentos (robôs pulverizadores, controle de pragas e ganhos de produtividade), no monitoramento de solo e água, na produção agrícola (monitoramento de comportamento, predição de doenças e estimativa de insumos), além de cadeia de suprimentos (controle de qualidade e gestão de armazenamento).

O documento cita uma pesquisa da McKinsey que afirma que a América do Sul lidera a adoção de hardware para agricultura de precisão, com uma taxa média de 28%, à frente de América do Norte (27%), Europa (21%) e Ásia (4%).

Além de ouvir gigantes como John Deere e Syngenta, o relatório do Distrito identifica startups promissoras de IA no agro: Digifarmz (agrocultura digital), Solinftec (produtividade), Agromakers (irrigação), iRancho (pecuária de corte) e Altana (cadeia de suprimentos).]

“A Solinftec usa soluções tecnológicas para operar equipamentos agrícolas com mais assertividade e eficiência. É um grande nome desse setor”, disse Gierun.

“Na safra 2023/2024, [a plataforma robótica] Solix foi responsável por uma redução de mais de 90% no uso de herbicidas em fases de pós-emergência e operações de dessecação no cultivo de grãos”, diz, no documento Britaldo Hernandez, cofundador e CEO da Solinftec. “Em cana-de-açúcar, conseguimos uma redução de 45% no uso de herbicidas em aplicações de pós-emergência”.

Um desafio para o avanço da IA no campo, segundo o estudo, é a infraestrutura. Mais de 70% das propriedades rurais no Brasil ainda não têm acesso à internet ou não utilizam ferramentas digitais, conforme uma pesquisa do IBGE, de 2022, citada no relatório.

“Essa é uma barreira muito grande, mas que a gente acredita que em pouco tempo ela será superada. A tecnologia já existe, é muito boa e não é excessivamente cara”, disse Gierun.

“Também vemos uma oportunidade na nova geração de empreendedores do agro, de herdeiros das famílias que desbravaram o agro pelo Brasil. Essa geração vai querer mais eficiência, mais produtividade, vai querer mudar o negócio de patamar”.